Plenitude e exatidão
Pedro J. Bondaczuk.
O que é mais importante para as pessoas, para que se comuniquem com
correção e objetividade e se façam entendidas no que gostem e
desgostem, sintam e pensem, queiram e sonhem: a leitura, a correta
expressão oral ou a escrita? Obviamente que o ideal seria contar com
as três habilidades simultaneamente. Isso é o que, de uma forma ou
de outra, consciente ou inconsciente, todos buscamos vida afora.
Todavia, se você tivesse que escolher uma dessas aptidões, uma
única, qual delas escolheria? Optaria por ler com plena capacidade
de entendimento, mesmo que os textos que lesse fossem confusos,
cifrados ou eruditos demais? Escolheria a exposição oral, que tem a
vantagem das expressões faciais, do timbre de voz, do brilho nos
olhos, do sorriso tranquilizador etc. como elementos sobressalentes
da comunicação? Ou optaria por escrever com correção,
criatividade, clareza e objetividade? Eu optaria (embora seja
suspeito para opinar a respeito), pela última alternativa.
E o por quê dessa escolha? Porque pressuporia ter o domínio das
outras duas habilidades, automaticamente. Para escrever com correção
e conteúdo, eu teria que ser, no mínimo, bom leitor. A prática
comprovou-me que só escreve bem quem lê bastante, com assiduidade e
concentração, desde os gibis aos clássicos.
Ademais, se sou capaz de expressar-me com clareza e exatidão por
escrito, muito mais fácil será, para mim, fazê-lo oralmente. A
aptidão de escrever, portanto, é muito importante não apenas para
o profissional do texto (para este, é crucial), mas para todo e
qualquer indivíduo.
Muita gente não se preocupa com isso. Conheço profissionais ultra
preparados tecnicamente em suas atividades, com vários diplomas de
graduação, pós-graduação e doutorado, que têm dificuldades de
escrever um reles bilhete para a esposa (ou para a empregada) sem
deixar dúvidas quanto ao recado que pretendia passar. A todo o
momento, topo com textos em que o autor tem o que dizer, mas não
sabe como fazê-lo e se enrola todo, não raro vomitando uma erudição
que de fato nem mesmo tem. É importante escrever bem. Dá segurança,
confiança e credibilidade a quem sabe fazê-lo.
Reitero quantas vezes se fizer necessário que não desprezo as
outras formas de comunicação (e nem seria imbecil de fazê-lo).
Quem me acompanha há já bastante tempo em minhas atividades de
comunicador sabe da minha obsessão pela leitura. A todo o momento,
escrevo sobre a necessidade da disseminação, cada vez mais ampla e
até universal, dessa indispensável prática.
Faço dos versos mágicos de Castro Alves, no poema “O livro e a
América”, que dizem “ó bendito o que semeia/livros, livros à
mancheia/e manda o povo pensar./E o livro, caindo na alma/é germe
que faz a palma/é chuva que faz o mar”, uma espécie de mantra, um
dístico, uma oração, um lema que tento seguir.
Saber ler, adquirir o gosto pela leitura e poder fazê-lo com
constância e assiduidade, todos os dias, é, para mim, um dos
direitos fundamentais do homem. Conscientizar o máximo de pessoas a
esse respeito tornou-se-me missão de vida. Tenho orgulho, por
exemplo, de ter contribuído para a alfabetização de uma dezena de
indivíduos e esse é o maior feito que já consegui desde que me
conheço por gente.
Por outro lado, a comunicação oral tem importância até histórica
em minha trajetória profissional. Afinal, dei meus primeiros passos
neste mundo fascinante das comunicações no rádio, como produtor e
simultaneamente locutor. Sou conferencista, com mais de 400 palestras
e conferências no currículo.
Sei do desafio que é o de prender a atenção de uma plateia, de
algumas centenas de pessoas, fazendo com que todas entendam as
mensagens que tenho para transmitir, sem ambiguidades ou dubiedades.
Ademais, essa foi a primeira forma que Homo Sapiens desenvolveu para
se comunicar com outros espécimes da sua espécie. Todas as outras
brotaram, floresceram e frutificaram dessa fértil semente, gerando a
frondosa árvore de todo conhecimento humano.
Mas a escrita... Que coisa engenhosa foi essa criação, à qual
raramente damos o devido valor, mas sem a qual o homem, certamente,
ainda seria fera rústica e bronca, habitando as cavernas primitivas
e sem possibilidades de passar conhecimentos, descobertas e
habilidades às gerações posteriores! Os mais geniais, tão logo
morressem, levariam para o túmulo tudo o que houvessem aprendido,
intuído, criado ou pensado. A escrita impede que isso ocorra e,
dessa forma, impulsiona o progresso e a civilização.
Poderia, no entanto, resumir todo esse meu bla-bla-blá em uma curta,
objetiva e direta definição, como esta, feita pelo filósofo
Francis Bacon, que escreveu a propósito: “A leitura traz ao homem
plenitude, o discurso segurança e a escrita exatidão”.. Viram?
Simples, direto, claro e objetivo.
Já imaginaram se Bacon não soubesse escrever? Estaríamos privados
dessa sua singela, porém ao mesmo tempo profunda constatação. Daí
a minha opção irrevogável pela escrita (entre tantos outros e
infindáveis motivos).
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