Sunday, April 15, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - É preciso bom senso


É preciso bom senso



Pedro J. Bondaczuk


A “novela”, envolvendo a construção da sede do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra), da Polícia Civil, em área do Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, ganha mais um dos tantos capítulos que já teve, com o parecer, divulgado na terça-feira, da Comissão Temática de Gestão de Recursos Naturais do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, negando que a referida obra vá causar danos ambientais ao local.

A questão vem se arrastando há cerca de dez dias, com a suspensão dos trabalhos, por causa do embargo judicial. Destaque-se que é justa, e até louvável, a preocupação dos ambientalistas com a preservação dessa importante área verde de Campinas, uma das poucas que ainda nos restam. Mas por que se preocupam com ela só agora? Por que não denunciaram, e não evitaram, as sucessivas depredações ali ocorridas por tanto tempo?

Os responsáveis pelo embargo têm certeza de que a obra traz, de fato, riscos ao meio ambiente? Os especialistas pelo menos garantem que não! Quem estaria com a razão?

A violência urbana é um dos mais graves (senão o pior) dos problemas da cidade, conforme consenso entre a população. Tem-se cobrado mais e melhor policiamento, para prevenir os diversos tipos de crimes cometidos em Campinas. Quando a iniciativa privada se une e resolve financiar uma obra como a da sede do Garra (o que, infelizmente, nem sempre, ou quase nunca acontece), o que iria dar mais agilidade à Polícia Civil para um policiamento ostensivo mais intenso e eficiente, essa avaliação, no mínimo apressada, leva à suspensão dos trabalhos, comprometendo todo um planejamento para a melhoria da segurança.

Aliás, a questão ambiental em Campinas nunca teve a devida atenção que deveria merecer, pela sua importância. A poluição do ar, na cidade, não muito notada pela população, mas sentida por seus pulmões, é enorme. Mas ninguém, ambientalista algum, liderou, em qualquer época, qualquer movimento (pelo menos conhecido), não para suspender (já que isso seria impossível nos dias atuais), mas pelo menos para reduzir a circulação de veículos automotores na cidade.

A poluição do Rio Atibaia pode ser observada por quem quiser, sem que ninguém faça campanha e sequer alerte os campineiros para o problema do lixo e dos dejetos jogados em seu leito, para não dizer do desmatamento das suas margens. E é esse manancial que garante boa parte da água consumida por nós. Mesmo que houvesse risco de dano ambiental no Parque Ecológico, com a construção da sede do Garra, portanto, por que ele é mais importante do que as outras agressões ao meio ambiente acima mencionadas?

O que parece, na verdade, é que não há uma preocupação genuína com a preservação desse logradouro, há muito abandonado, sem os devidos cuidados do Estado, que é quem o administra. A construção no local está, na verdade, sendo usada como pretexto para um confronto político, sem que o real interesse da população seja de fato levado em conta.

Até porque, de acordo com testemunhas, depois da retirada das viaturas do Garra do Parque Ecológico, o logradouro voltou a sofrer graves depredações, como as que aconteciam com enorme frequência antes desse policiamento ostensivo. Até crimes voltaram a ocorrer ali. A prova é que foram lavrados, em delegacias da cidade, pelo menos três boletins de ocorrência, dando conta de assaltos e agressões.

O bom senso manda, pois, tanto que sejamos intransigentes na preservação do meio ambiente, se quisermos garantir a sobrevivência do Planeta, quanto evitarmos excessos e a indevida exploração do ambientalismo, para não desacreditar os que realmente estão preocupados com a ecologia e não fazem dela um mero modismo.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do jornal Roteiro, em 27 de setembro de 2002).

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