Para
meditar
Pedro
J. Bondaczuk
O
hábito da meditação é um dos mais saudáveis que se pode
desenvolver e que recomendo a todas as pessoas inteligentes e
positivas, notadamente às que, como nós, lidam com ideias,
conceitos, informações e sentimentos, ou seja, escritoras. Não
digo que o sujeito deva ser um Sidarta Gautama da vida, que passe
dias e mais dias mergulhado em profunda meditação em busca da
iluminação. Há tantas outras coisas importantes a se fazer, das
quais a principal (e óbvia) é viver.
Meditar
por cinco minutos, diariamente, de preferência logo após o
despertar, está de bom tamanho. A maioria nem isso faz. Há pessoas
que evitam pensar –, aliás, na verdade, se recusam terminantemente
de fazer isso – de medo dos próprios pensamentos. Não sabem o que
pode emergir do subconsciente para o consciente e, por tal razão,
preferem não arriscar. Tolice. É estranho se ter medo de si
próprio, contudo muita gente tem.
Há
quem aja como se pensar fosse lhe causar insuportável dor. Não,
amigo, pensar não dói. Aliás, pelo contrário, alivia, quando não
extingue, as dores emocionais. Dos que têm esse saudável hábito
diário (entre os quais me incluo, costume que adquiri há bem mais
de seus cinquenta anos e que se incorporou à minha rotina diária,
como tomar banho, barbear-me, escovar os dentes e assim por diante),
muitos meditam sobre o primeiro tema que lhes vem à cabeça.
Talvez
em decorrência da longa prática, sou mais eclético nesse sentido.
Às vezes, deixo, de fato, a mente divagar, até que algo, interno ou
externo, me chame a atenção e faça com que concentre todo meu foco
ali. Em outras oportunidades, porém, escolho o livro de algum dos
meus poetas preferidos (em geral, Quintana, Drummond, Bandeira,
Victor Hugo ou Charles Baudelaire), abro-o a esmo, em algum poema, ao
acaso, e medito sobre o seu teor.
Há
já bom tempo, o companheirão mais fiel das minhas manhãs é o meu
saudoso amigo Mauro Sampaio. Ele faleceu há mais de dez anos, mas
sua alma está vivíssima nos livros que nos legou. E “dialogo”
com ela, por estes benditos cinco minutos diários, que valem não
por horas, mas até por meses e anos. Quanta coisa aprendi, sobretudo
a meu próprio respeito, com esse sábio e sensível amigão!
Dos
seus livros, o que mais utilizo para esse fim é uma pequena
brochura, editada pela Academia Campinense de Letras, da qual sou
membro desde 1992 e que ele presidiu, intitulado “Poemas para
meditar”. Como se vê, Mauro escreveu especificamente para pessoas
que, como eu, têm o hábito da meditação. E é uma delícia
refletir sobre a sua poesia.
Aliás,
por incrível que pareça, esse gênero é particularmente
recomendado para editores, que têm necessidade diária de fazer
títulos para as matérias que editam. Não acreditam? Podem crer que
essa leitura funciona! Quem é do ramo sabe da importância (e das
dificuldades) da titulação. Um bom título pode salvar matéria
ruim, mas o inverso é verdadeiro. Ou seja, um que seja infeliz, mata
no ninho a melhor das reportagens. Conversando, há alguns anos, a
esse propósito, com o saudoso Cláudio Abramo, ele recomendou que eu
lesse mais poesia (e eu já lia muita) para facilitar meu trabalho de
editor. E não é que a coisa funcionou!!!
Desde
então, passei a ler mais e mais livros do gênero, agora por três
motivos. O primeiro, para condicionar minha mente a elaborar títulos
precisos, criativos e proporcionais às matérias que edito. O
segundo, como fonte de meditação diária. E o terceiro, para meu
deleite pessoal, já que nasci poeta, que poesia foi o primeiro tipo
de texto que escrevi na vida e é o que mais sei fazer, embora minha
especialidade literária seja o conto.
Bem,
acabei escrevendo, escrevendo e escrevendo, divagando, divagando e
divagando e, por conseguinte, fugi do tema central destas
considerações. Ou seja, violei a norma básica da meditação, que
é a de se concentrar num assunto específico e, se preciso, virá-lo
no avesso, sem deixar o pensamento escapar para outro. É essa
espécie de autodisciplina, aliás, que se constitui no principal
mérito desse exercício.
Como
enfatizei muito a importância da poesia de Mauro Sampaio, não
poderia deixar de partilhar com vocês um dos poemas desse inspirado
(e sábio) poeta. O escolhido foi “Vale a pena o pensamento”, que
diz:
“Vale
a pena o pensamento.
Vale
a pena o apanhar borboletas
ao
mesmo tempo em que se olha a alma
e
se examinam as coisas e os atos.
E
tenho o mundo todo,
todos
os horizontes abertos
todos
os mistérios desvendados!
E
estou vivo e morto,
sou
o que desejo e não aceito.
Feliz
por chegar de manso
na
penumbra da desgraça
e
da vingança.
Penetro
nas guerras,
e
por misericórdia acabo-as de um só golpe:
extermino
com toda a humanidade”.
Por
esta amostra, dá para entender a minha preferência pelos poemas de
Mauro Sampaio para “gatilhos” da minha meditação? Viram por
quantos assuntos ele bosqueja, menciona de passagem, como que não
querendo nada, mas querendo demais? Claro que não me valho, como já
mencionei, só desse poeta para meditar e não alimento meus
neurônios só de poesia. Mas que ela confere nobreza e
transcendência à meditação, não tenho a menor dúvida.
Experimente fazer isso e, para o bem da sua sanidade mental e
espiritual, faça disso um hábito. Verá como os dias (mesmo aqueles
bem “hard”) tornam-se mais leves e a vida adquire bem mais cor.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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