Sunday, April 01, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Ganância no poder


Ganância no poder


Pedro J. Bondaczuk

O Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU – que no ano passado já havia subido, em média, cerca de 2.500%, portanto, bem acima da inflação, no corrente ano atingiu as proporções do absurdo, da espoliação, do autêntico confisco, com aumentos, em alguns casos, que chegam a 4.000% e até a 5.000%.

E isso ocorre em um período de plena economia de guerra, em decorrência dos acontecimentos no Golfo Pérsico e da crise econômica interna, que alcança proporções alarmantes em virtude do processo pernicioso que se convencionou chamar de “estagflação”. Ou seja, da estagnação da economia acompanhada de inflação.

Para complicar as coisas, a carga recai mais durante sobre os milhares de não proprietários, os inquilinos, aos quais caberá arcar com um compromisso extra, de dimensões absurdas, com um retorno absolutamente nulo.

Nada adiantaram os alertas, os apelos e as tentativas da opinião pública de fazer a Administração Municipal entender, sobretudo, a inoportunidade de uma majoração de tamanho porte. O bom senso, mais uma vez, não prevaleceu.

Por enquanto, as reclamações ainda não se generalizaram, porquanto nem todos receberam seus carnês, conforme admite a Prefeitura, que por essa razão adiou o prazo de vencimento do IPTU. Todavia, pela movimentação geral que se observa, os responsáveis por esse atentado à economia popular podem prever muito barulho, e com razão.

Ao invés de partir para um aumento dessas proporções no imposto, sob a alegação da necessidade de recursos para inadiáveis obras municipais, por que a administração da cidade não dividiu encargos, elevando o tributo em taxas mais racionais e compatíveis com o momento que o País e o mundo atravessam e sendo austera nos gastos?

Os valores irreais, conforme é fácil de se prever, só irão ocasionar um índice elevadíssimo de inadimplência, já que ninguém por aqui andou ganhando sozinho nenhum prêmio das muitas loterias existentes no Brasil e nem herdou uma mina de ouro.

Onde estão as bandeiras populares levantadas pelo prefeito durante a campanha eleitoral? Onde ficaram os ideais de justiça social, tão apregoados em palanques, mas nunca colocados em prática?

Até quando enfrentaremos esta guerra, mais perniciosa do que a do Golfo Pérsico por estar nos afetando diretamente em nossa comunidade, entre as necessidades prementes da população cada vez menos atendidas pelos seus eleitos e as fantasias delirantes dos políticos carreiristas, para os quais os cidadãos deixam de ser gente, para se transformarem em contribuintes?

Até quando seremos espoliados com a conivência dos que nos pediram um dia nosso voto de confiança e que só sabem pôr a mão em nossos bolsos, que ultimamente andam tão vazios?

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de janeiro de 1991).


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