Ganância no poder
Pedro
J. Bondaczuk
O Imposto
Predial e Territorial Urbano – IPTU – que no ano passado já
havia subido, em média, cerca de 2.500%, portanto, bem acima da
inflação, no corrente ano atingiu as proporções do absurdo, da
espoliação, do autêntico confisco, com aumentos, em alguns casos,
que chegam a 4.000% e até a 5.000%.
E
isso ocorre em um período de plena economia de guerra, em
decorrência dos acontecimentos no Golfo Pérsico e da crise
econômica interna, que alcança proporções alarmantes em virtude
do processo pernicioso que se convencionou chamar de “estagflação”.
Ou seja, da estagnação da economia acompanhada de inflação.
Para
complicar as coisas, a carga recai mais durante sobre os milhares de
não proprietários, os inquilinos, aos quais caberá arcar com um
compromisso extra, de dimensões absurdas, com um retorno
absolutamente nulo.
Nada
adiantaram os alertas, os apelos e as tentativas da opinião pública
de fazer a Administração Municipal entender, sobretudo, a
inoportunidade de uma majoração de tamanho porte. O bom senso, mais
uma vez, não prevaleceu.
Por
enquanto, as reclamações ainda não se generalizaram, porquanto nem
todos receberam seus carnês, conforme admite a Prefeitura, que por
essa razão adiou o prazo de vencimento do IPTU. Todavia, pela
movimentação geral que se observa, os responsáveis por esse
atentado à economia popular podem prever muito barulho, e com razão.
Ao
invés de partir para um aumento dessas proporções no imposto, sob
a alegação da necessidade de recursos para inadiáveis obras
municipais, por que a administração da cidade não dividiu
encargos, elevando o tributo em taxas mais racionais e compatíveis
com o momento que o País e o mundo atravessam e sendo austera nos
gastos?
Os
valores irreais, conforme é fácil de se prever, só irão ocasionar
um índice elevadíssimo de inadimplência, já que ninguém por aqui
andou ganhando sozinho nenhum prêmio das muitas loterias existentes
no Brasil e nem herdou uma mina de ouro.
Onde
estão as bandeiras populares levantadas pelo prefeito durante a
campanha eleitoral? Onde ficaram os ideais de justiça social, tão
apregoados em palanques, mas nunca colocados em prática?
Até
quando enfrentaremos esta guerra, mais perniciosa do que a do Golfo
Pérsico por estar nos afetando diretamente em nossa comunidade,
entre as necessidades prementes da população cada vez menos
atendidas pelos seus eleitos e as fantasias delirantes dos políticos
carreiristas, para os quais os cidadãos deixam de ser gente, para se
transformarem em contribuintes?
Até
quando seremos espoliados com a conivência dos que nos pediram um
dia nosso voto de confiança e que só sabem pôr a mão em nossos
bolsos, que ultimamente andam tão vazios?
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de
janeiro de 1991).
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