Crise de falta de credibilidade
Pedro J. Bondaczuk
Os resultados das eleições
realizadas na quarta-feira, em todo o País, são assustadores, dada
a enorme quantidade de votos nulos e em branco que se registrou por
todo o País. A análise fria dos números ainda vai dar pano para
muita manga por algum tempo e o comportamento do eleitorado
produzirá, sem dúvidas, resultados muito diferentes do que os
esperados pelos que preferiram abrir mão do seu direito de escolha e
fazer um protesto sem cabimento.
Parte considerável dos que
agiram assim foi movida pelo desejo de mostrar sua rejeição aos
políticos. Todavia, as pessoas que procederam dessa maneira se
esqueceram que as velhas raposas sempre tiveram os seus “currais”.
Portanto, a forma irresponsável de se protestar deu margem a que
exatamente os que mais despertam a ira da população é que tenham
chance de permanecer na vida pública, enquanto os que não possuem
condições econômicas, mas têm talento, honorabilidade e visão de
futuro acabaram por ser excluídos dos governos, assembleias e do
Congresso.
É verdade que boa parte dos
votos nulos e em branco precisa ser atribuída aos analfabetos.
Coincidência ou não, as cifras, nesse aspecto, cresceram exatamente
depois que lhes foi permitido votar. Nas eleições presidenciais do
ano passado, isto já havia acontecido.
Repetiu-se agora, em dose
muito maior. Nem todos que agiram dessa forma, evidentemente, são
iletrados. A campanha foi simplesmente deprimente, embora as várias
agências publicitárias que se encarregaram da propaganda dos
candidatos tenham tirado água de pedra. Mas quem tem noção de
marketing sabe que vender bem um mau produto descamba para o terreno
da mágica. E os postulantes aos vários cargos em disputa
excederam-se em ausência de propostas, em falta de imaginação, em
paranoicos exibicionismos.
Interessante foi aquilo que um
eleitor de Cubatão escreveu na cédula, ao anular seu voto, num
desalentado desabafo, ao afirmar: “Político é igual a Aids, mata
aos poucos”. Isto reflete, na exata medida, a crise que estamos
atravessando, que se espraia por toda a vida social brasileira.
As pessoas já não acreditam
em nada e ninguém. Quando um povo chega a abrir mão da própria
democracia, que tem no direito de votar e ser votado o seu momento
culminante, é sinal de que as coisas andam para lá de ruins.
As consequências do
comportamento do eleitorado foram apontadas com precisão pelo
presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Sidney Sanches,
ao dizer: “É muito perigoso para a sociedade ser governada por
pessoas que não representam a vontade da maioria”. Não será
dessa forma que iremos construir o Brasil com o qual todos sonhamos.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de outubro de 1990)
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