Thursday, April 12, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Crise de falta de credibilidade


Crise de falta de credibilidade



Pedro J. Bondaczuk


Os resultados das eleições realizadas na quarta-feira, em todo o País, são assustadores, dada a enorme quantidade de votos nulos e em branco que se registrou por todo o País. A análise fria dos números ainda vai dar pano para muita manga por algum tempo e o comportamento do eleitorado produzirá, sem dúvidas, resultados muito diferentes do que os esperados pelos que preferiram abrir mão do seu direito de escolha e fazer um protesto sem cabimento.

Parte considerável dos que agiram assim foi movida pelo desejo de mostrar sua rejeição aos políticos. Todavia, as pessoas que procederam dessa maneira se esqueceram que as velhas raposas sempre tiveram os seus “currais”. Portanto, a forma irresponsável de se protestar deu margem a que exatamente os que mais despertam a ira da população é que tenham chance de permanecer na vida pública, enquanto os que não possuem condições econômicas, mas têm talento, honorabilidade e visão de futuro acabaram por ser excluídos dos governos, assembleias e do Congresso.

É verdade que boa parte dos votos nulos e em branco precisa ser atribuída aos analfabetos. Coincidência ou não, as cifras, nesse aspecto, cresceram exatamente depois que lhes foi permitido votar. Nas eleições presidenciais do ano passado, isto já havia acontecido.

Repetiu-se agora, em dose muito maior. Nem todos que agiram dessa forma, evidentemente, são iletrados. A campanha foi simplesmente deprimente, embora as várias agências publicitárias que se encarregaram da propaganda dos candidatos tenham tirado água de pedra. Mas quem tem noção de marketing sabe que vender bem um mau produto descamba para o terreno da mágica. E os postulantes aos vários cargos em disputa excederam-se em ausência de propostas, em falta de imaginação, em paranoicos exibicionismos.

Interessante foi aquilo que um eleitor de Cubatão escreveu na cédula, ao anular seu voto, num desalentado desabafo, ao afirmar: “Político é igual a Aids, mata aos poucos”. Isto reflete, na exata medida, a crise que estamos atravessando, que se espraia por toda a vida social brasileira.

As pessoas já não acreditam em nada e ninguém. Quando um povo chega a abrir mão da própria democracia, que tem no direito de votar e ser votado o seu momento culminante, é sinal de que as coisas andam para lá de ruins.

As consequências do comportamento do eleitorado foram apontadas com precisão pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Sidney Sanches, ao dizer: “É muito perigoso para a sociedade ser governada por pessoas que não representam a vontade da maioria”. Não será dessa forma que iremos construir o Brasil com o qual todos sonhamos.


(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de outubro de 1990)



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