Wednesday, April 25, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Antes tarde do que nunca


Antes tarde do que nunca


Pedro J. Bondaczuk

A área central de Campinas, com seus prédios outrora imponentes, do início do século passado – , época em que a cidade tinha na produção de café sua grande fonte de renda e rivalizava com São Paulo como próspera e populosa metrópole do Estado –, por uma série de razões, entre as quais um certo desinteresse público na preservação desse importante patrimônio arquitetônico, se deteriorou.

Cartazes, faixas, letreiros e placas, de gosto no mínimo duvidoso – e além de tudo ineficientes para atrair clientes – proliferaram, causando desnecessária (e indesejável) poluição visual, espantando, mais do que atraindo, frequentadores.

Muitos comerciantes, proprietários ou inquilinos dos imóveis, por outro lado, pecaram pela falta de manutenção. Ou demonstraram enorme mau gosto, imensa falta de capricho, nas raras reformas que fizeram, que não passaram de remendos sem nenhum critério, precários e feios, e que só conseguiram descaracterizar, e piorar o aspecto das edificações, que já então não era dos melhores.

De repente, o Centro de Campinas, de bela concepção arquitetônica e estilística, quando os casarões foram construídos, e que durante muitos anos se constituiu em cartão de visita da própria cidade, adquiriu aspecto sombrio, cinzento, de desleixo e de decadência. Chegou a se cogitar, inclusive, em determinada ocasião, da transferência da área central de Campinas para outras regiões.

O bom senso, porém, parece que prevaleceu. A partir de 2000, grupos de lojistas se uniram para elaborar amplo projeto, em parceria com o Poder Público, para restaurar, revalorizar e revitalizar essa importante região, que havia sido transformada numa espécie de gueto, de “cortiço comercial”.

E o processo, posto que ainda moroso, já está em andamento. Começou por iniciativa dos próprios comerciantes da zona, cansados de esperar pela ação, tradicionalmente lenta, do Poder Público. Com a simples retirada de alguns cartazes, faixas, letreiros e marquises, a beleza arquitetônica de alguns imóveis já começa a aparecer, posto que ainda não em todo o seu esplendor, desgastados, que estão, pela implacável ação do tempo.

O Centro, finalmente, está prestes a ganhar regras claras, rígidas e bem definidas para a colocação, por exemplo, de publicidade em prédios tombados pelo Conselho do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas, pondo fim à poluição visual.

A cidade quer de volta o seu cartão de visitas. A população exige mais respeito pelo grande símbolo da prosperidade econômica e excelência cultural desta metrópole de um milhão de habitantes, que não quer, e não pode, perder de vista as suas raízes. E todos sairão ganhando, de uma forma ou de outra, com essa revitalização do Centro, que não deve, no entanto, continuar sendo protelada.


(Editorial da Folha do Taquaral de 22 de abril de 2003).



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