O
conquistador... de prêmios
O
romancista norte-americano Philip Roth vem se caracterizando, há já
muito tempo, como grande conquistador. Mas não de mulheres e nem de
impérios. Suas conquistas restringem-se ao campo da Literatura, o
que não é pouca coisa. Até 2011 havia ganhado vinte prêmios,
entre os quais o mais conhecido e badalado foi o Pulitzer de 1996, na
categoria ficção, com seu livro “Pastoral americana”.
Há
mais de uma década, em todos os anos, invariavelmente, esse escritor
vem sendo apontado como favorito ao Nobel de Literatura. Que ainda
não ganhou, destaque-se. Não tenho dúvidas, contudo, que uma hora
irá ganhar, pois reúne todos os méritos para isso. Quando? Nem os
jurados dessa premiação, com certeza, têm a menor ideia.
Em
2011, Roth juntou o 20º prêmio literário à sua vastíssima
coleção, com a conquista do prestigioso Man Booker International,
na Inglaterra. Concorreu com outros onze escritores, todos de grande
prestígio e visibilidade, muitos deles campeões de vendas, como,
por exemplo, o britânico John Le Carré (popular por suas histórias
de espionagem, das quais uma das mais populares é “O espião que
veio do frio”). Este prêmio já foi dado, em anos passados, a
outros ilustres ficcionistas, como o albanês Ismail Kadaré, o
nigeriano Chinus Achebes e a canadense Alice Munro.
Quando
se fala, portanto, em literatura contemporânea, notadamente a de
ficção, e mais especificamente ainda em romances, seu nome ocupa,
necessariamente, lugar de destaque, quer junto ao público, quer em
relação à crítica especializada. Roth é, sem dúvida, “figurão”
no mundo das letras, em âmbito internacional e com amplos méritos.
Ninguém lhe faz qualquer favor ao considerá-lo como tal, mas se
limita a reconhecer sua competência e inteligência.
Claro
que o escritor, de origem judaica, reúne os dois fatores essenciais
(e rigorosamente nessa proporção) que são: transpiração (99%) e
inspiração (1%). É a única forma de se vencer nesse competitivo e
instável (geralmente frustrante) mundo das letras. Além do que,
Roth conta com mais de 50 anos, ou seja, com mais de meio século de
experiência literária. E isso, aliado a um inegável talento
narrativo inato, conta, e muito.
Pode-se
dizer que o romancista norte-americano é um “operário da
palavra”, classificação essa que uso não em sentido pejorativo
como pode parecer aos desavisados, longe disso, mas para caracterizar
sua produtividade e sua assiduidade no mercado editorial. Muito
escritor (possivelmente a maioria) se acomoda após um, dois ou, no
máximo, cinco livros de sucesso. Não é, óbvio, o caso de Philip
Roth.
Há
quem ache que ele vem perdendo vigor narrativo e se tornando
repetitivo. Discordo. Essa opinião não se sustenta diante do fato
de conquistar, há apenas sete anos, o Man Booker International,
superando concorrentes de peso. Alguns chegam ao cúmulo de afirmar
que após “Complexo de Portnoy” ele não escreveu mais nada que
prestasse. Outra bobagem. Afinal, não foi com esse livro que
conquistou o Pulitzer, mas com o eletrizante “Pastoral Americana”.
Todo escritor está sujeito a toda a sorte de opiniões. Algumas são
pertinentes e fundamentadas. Boa parte delas, porém, baseia-se
exclusivamente no gosto pessoal, que é variável, quando não
volátil e nem sempre quem adota esse critério conta com um mínimo
de bom gosto. .
Da
minha parte, não há um só livro de Philip Roth ao qual me disponha
a colocar qualquer reparo. E olhem que já li vários, como o citado
“Complexo de Portnoy”, “Operação Shylock”, “O animal
moribundo” e “Pastoral Americana”, dos que me lembro. Admiro,
sobretudo, seu senso de humor, um tanto cáustico é verdade,
descambando quase sempre para a ironia, mas não a grosseira, porém
a elegante e inteligente.
Ademais,
ninguém conquista tantos prêmios literários se não escrever bem.
Talvez, por um desses acasos da vida, admitamos, ganhe um e, quem
sabe, dois, de seus concorrentes forem piores. Mas ganhar 20?! Sem
qualidade e sem talento é completamente impossível. Philip Roth
criou um personagem que é recorrente, e que se faz presente em
vários de seus romances. Trata-se do escritor (que ele inventou)
chamado de Nathan Zuckermann.
Há
quem o considere uma espécie de “alter ego” do romancista.
Coloca na boca desse personagem opiniões pessoais polêmicas,
marcando, dessa forma, sua posição de intelectual atento e bem
informado. Não posso garantir que assim seja (creio que ninguém, a
não ser o próprio autor, pode).
Outra
das suas características, presente em praticamente toda a sua obra,
é a especulação em torno da natureza do desejo sexual. Ela é
perfeitamente identificável pelo menos na maioria dos seus romances.
Sua marca registrada, porém, é o monólogo íntimo. É uma
tentativa constante de autoconhecimento, desafio muito maior e mais
frustrante do que muitos supõem.
Várias
das obras de Philip Roth tratam da identidade e da assimilação dos
judeus na sociedade dos Estados Unidos, assunto que conhece de
sobejo, até em decorrência da sua origem étnica. Há quem entenda
que o escritor atingiu a maturidade literária com a Trilogia
Americana, composta pelas novelas “Pastoral Americana” (que li,
como já citei, e que lhe valeu o Pulitzer), “Casei com um
comunista” e “A marcha humana”. Não me surpreenderei nem um
pouco se Philip Roth, emérito conquistador de prêmios, ganhar,
neste ano, o maior da sua vitoriosa carreira: o Nobel de Literatura.
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