Tuesday, April 17, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Primeiro prefeito do milênio


Primeiro prefeito do milênio

Pedro J. Bondaczuk

A movimentação política em Campinas, com vistas ao lançamento de candidaturas para prefeito e vereadores, nas eleições de outubro próximo, ainda está restrita aos bastidores dos partidos. Por enquanto, não há nada definido sobre quem será candidato a o quê. Há muita negociação reservada, bastante articulação, propostas de alianças e diálogos em profusão. Faltam, todavia, definições.

É certo que vários nomes vêm sendo citados com maior insistência como sendo candidatíssimos ao Palácio dos Jequitibás. Alguns, têm amplas possibilidades de êxito e outros, se confirmados, deverão correr por fora, como autênticas "zebras", para usar um jargão típico da loteria esportiva. As definições, porém, começarão a aparecer, com certeza, só por volta do final de abril ou meados de maio, quando o eleitor poderá ter um quadro mais preciso, senão definitivo, das candidaturas. Até lá...

Parte da culpa pela demora para que os partidos se definam está no fato do carnaval este ano ocorrer apenas em março. E tudo neste país só começa, de fato, após os festejos carnavalescos. Recorde-se que o sucessor de Chico Amaral (que pode, por sinal, ser reeleito, por que não?!), terá o privilégio de se constituir no primeiro prefeito de Campinas do terceiro milênio, cujo início, ao contrário do que muitos pensam, não aconteceu há dois meses, mas ocorre somente no dia 1º. de janeiro de 2001. É um ingrediente a mais na disputa: o eleito passará para a história como detentor dessa primazia (na verdade somente simbólica).

A cidade está vivendo um período de transição, no momento em que "emplaca" o seu primeiro milhão de habitantes. Essa enorme população implica em mais problemas, com necessidades crescentes de investimentos em transporte, saúde, educação, cultura, lazer e infraestrutura urbana. E, claro, em segurança pública.

Só que esta área não é da competência municipal, apesar da violência que se abate sobre Campinas se constituir, com toda a certeza, no principal tema, aquele que deverá dominar os debates da próxima campanha. Haverá, como em outras eleições, candidato que fará promessas (que não vai ter, obviamente, condições de cumprir, se eleito), nessa área. Aliás, prometer todo o mundo promete, cumprir é que são elas. A cidade não difere de nenhuma outra metrópole do seu porte quanto às carências e à necessidade de recursos para que estas sejam supridas. Há muito mais necessidades do que verbas. É como cobertor de pobre: para cobrir a cabeça, é preciso conformar-se em deixar os pés descobertos, e vice-versa.

É difícil para o cidadão comum, em geral mal informado e politicamente despreparado, entender essa questão da competência. O que é prerrogativa da Prefeitura? O que compete ao Estado? Em quais questões entra o governo federal? Cabe aos meios de comunicação dar esse tipo de esclarecimento (quase nunca dão).

Apesar da administração de Campinas estar se tornando cada vez mais complexa, dado o seu crescimento populacional (que, de acordo com o IBGE, sofreu razoável desaceleração na última década), há pelo menos oito conhecidos políticos, todos teoricamente com chances, de olho no Palácio dos Jequitibás. Quem vencerá? Só saberemos depois de apurados todos os votos das urnas eletrônicas e, provavelmente, do segundo turno.

Ao que parece, salvo alguma grande surpresa, entre os "prefeituráveis" não há nenhum nome que desponte tanto a ponto de repetir o feito do saudoso Magalhães Teixeira e ganhar, com folga, já na primeira rodada de votação. Tomara, no entanto, que o eleito seja aquele que apresentar o melhor programa de governo (factível, evidentemente) e que o coloque em prática, não permitindo que se restrinja apenas a um "bom texto", mas "letra morta".

A priori, tudo indica que a disputa vai ser acirradíssima. Os grandes partidos, ao que parece, estão dispostos a "jogar pesado" para conquistar o poder municipal, dada a relevância e projeção nacional (senão internacional) desta cada vez mais problemática, mas ainda assim bastante promissora, metrópole regional. PSDB, PPB, PMDB e PFL, os quatro "pesos pesados" da política brasileira, farão de tudo, certamente, para ganhar essas eleições, já de olho em um troféu muito maior em 2002: o governo do Estado e, principalmente, a Presidência da República. Espera-se que o próximo prefeito campineiro seja uma espécie de Pereira Passos (que mudou o perfil urbano do Rio de Janeiro) e lance as bases de uma Campinas moderna, racional, justa e sobretudo mais humana. Com ou sem dinheiro (o que é mais provável), evidentemente.

(Editorial publicado na Folha do Taquaral em 18 de fevereiro de 2000).

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