Primeiro prefeito do milênio
Pedro J. Bondaczuk
A movimentação política em
Campinas, com vistas ao lançamento de candidaturas para prefeito e
vereadores, nas eleições de outubro próximo, ainda está restrita
aos bastidores dos partidos. Por enquanto, não há nada definido
sobre quem será candidato a o quê. Há muita negociação
reservada, bastante articulação, propostas de alianças e diálogos
em profusão. Faltam, todavia, definições.
É certo que vários nomes vêm
sendo citados com maior insistência como sendo candidatíssimos ao
Palácio dos Jequitibás. Alguns, têm amplas possibilidades de êxito
e outros, se confirmados, deverão correr por fora, como autênticas
"zebras", para usar um jargão típico da loteria
esportiva. As definições, porém, começarão a aparecer, com
certeza, só por volta do final de abril ou meados de maio, quando o
eleitor poderá ter um quadro mais preciso, senão definitivo, das
candidaturas. Até lá...
Parte da culpa pela demora
para que os partidos se definam está no fato do carnaval este ano
ocorrer apenas em março. E tudo neste país só começa, de fato,
após os festejos carnavalescos. Recorde-se que o sucessor de Chico
Amaral (que pode, por sinal, ser reeleito, por que não?!), terá o
privilégio de se constituir no primeiro prefeito de Campinas do
terceiro milênio, cujo início, ao contrário do que muitos pensam,
não aconteceu há dois meses, mas ocorre somente no dia 1º. de
janeiro de 2001. É um ingrediente a mais na disputa: o eleito
passará para a história como detentor dessa primazia (na verdade
somente simbólica).
A cidade está vivendo um
período de transição, no momento em que "emplaca" o seu
primeiro milhão de habitantes. Essa enorme população implica em
mais problemas, com necessidades crescentes de investimentos em
transporte, saúde, educação, cultura, lazer e infraestrutura
urbana. E, claro, em segurança pública.
Só que esta área não é da
competência municipal, apesar da violência que se abate sobre
Campinas se constituir, com toda a certeza, no principal tema, aquele
que deverá dominar os debates da próxima campanha. Haverá, como em
outras eleições, candidato que fará promessas (que não vai ter,
obviamente, condições de cumprir, se eleito), nessa área. Aliás,
prometer todo o mundo promete, cumprir é que são elas. A cidade não
difere de nenhuma outra metrópole do seu porte quanto às carências
e à necessidade de recursos para que estas sejam supridas. Há muito
mais necessidades do que verbas. É como cobertor de pobre: para
cobrir a cabeça, é preciso conformar-se em deixar os pés
descobertos, e vice-versa.
É difícil para o cidadão
comum, em geral mal informado e politicamente despreparado, entender
essa questão da competência. O que é prerrogativa da Prefeitura? O
que compete ao Estado? Em quais questões entra o governo federal?
Cabe aos meios de comunicação dar esse tipo de esclarecimento
(quase nunca dão).
Apesar da administração de
Campinas estar se tornando cada vez mais complexa, dado o seu
crescimento populacional (que, de acordo com o IBGE, sofreu razoável
desaceleração na última década), há pelo menos oito conhecidos
políticos, todos teoricamente com chances, de olho no Palácio dos
Jequitibás. Quem vencerá? Só saberemos depois de apurados todos os
votos das urnas eletrônicas e, provavelmente, do segundo turno.
Ao que parece, salvo alguma
grande surpresa, entre os "prefeituráveis" não há nenhum
nome que desponte tanto a ponto de repetir o feito do saudoso
Magalhães Teixeira e ganhar, com folga, já na primeira rodada de
votação. Tomara, no entanto, que o eleito seja aquele que
apresentar o melhor programa de governo (factível, evidentemente) e
que o coloque em prática, não permitindo que se restrinja apenas a
um "bom texto", mas "letra morta".
A priori, tudo indica que a
disputa vai ser acirradíssima. Os grandes partidos, ao que parece,
estão dispostos a "jogar pesado" para conquistar o poder
municipal, dada a relevância e projeção nacional (senão
internacional) desta cada vez mais problemática, mas ainda assim
bastante promissora, metrópole regional. PSDB, PPB, PMDB e PFL, os
quatro "pesos pesados" da política brasileira, farão de
tudo, certamente, para ganhar essas eleições, já de olho em um
troféu muito maior em 2002: o governo do Estado e, principalmente, a
Presidência da República. Espera-se que o próximo prefeito
campineiro seja uma espécie de Pereira Passos (que mudou o perfil
urbano do Rio de Janeiro) e lance as bases de uma Campinas moderna,
racional, justa e sobretudo mais humana. Com ou sem dinheiro (o que é
mais provável), evidentemente.
(Editorial publicado na Folha
do Taquaral em 18 de fevereiro de 2000).
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