Tuesday, April 03, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Perpetuação dos erros


Perpetuação dos erros

Pedro J. Bondaczuk

A convivência da administração municipal do PT com as obras inacabadas de urbanização do Córrego Piçarrão, dos túneis de ligação do Centro com a Vila Industrial e a Via Lix da Cunha, além da ETA 4 sob a responsabilidade da Sanasa, indica que tão cedo a cidade não verá esses projetos terminados. De um lado, as críticas à inoportunidade e à inviabilidade da urbanização do Piçarrão e a construção dos túneis; de outro, a velha argumentação da falta de dinheiro para concluir tudo isso.

Enquanto o diretor do Departamento de Urbanismo, Ary Fernandes, condena a técnica de execução dos túneis e a finalidade duvidosa das obras de saneamento do Piçarrão, o secretário das Finanças, Paulo de Tarso Venceslau, expõe sua amargura ao prever que a queda de arrecadação levará a Prefeitura a contabilizar déficit orçamentário em três meses, caso a economia do País não supere nesse período os transtornos causados pela mudança no setor. A avaliação do secretário das Finanças não revela, entretanto, cálculo sobre a arrecadação dos impostos --- notadamente o ICMS, que antes de 16 de março era abertamente sonegado. Agora, com as medidas econômicas, esse imposto, como reconheceram assessores econômicos da Prefeitura da Capital e do governo do Estado, tornou-se volumoso, pois as notas fiscais são fornecidas ao consumidor sem este pedir, ao contrário do que ocorria até um mês e meio atrás.

Toda administração tem dificuldade em conseguir dinheiro junto às instituições financeiras privadas ou estatais, nacionais ou internacionais, para tocar suas obras. Campinas nunca fugiu à regra. Mesmo durante o governo do ex-prefeito José Roberto Magalhães Teixeira, os primeiros quatro anos de mandato foram pobres em obras: porém as negociações com as instituições de crédito possibilitaram injeções de recursos em vários projetos.

A administração do PT tem apenas quatro anos para viabilizar financeiramente a liberação de dinheiro já autorizada para as obras em andamento, porém paralisadas em Campinas. Mesmo as reavaliações técnicas propostas pelo arquiteto Ary Fernandes, revelam que sua preocupação não é tanto com os recursos, mas sim com a importância urbana dos projetos.

Pior do que as críticas da administração do PT a essas obras é a paralisação dos trabalhos e a possibilidade de permanecerem intermináveis, enquanto o Município dispõe, necessariamente, de milhões de dólares para mantê-las paradas. Seria surrealista se não fosse realidade esse fato. Porém, o prejuízo não corresponde aos responsáveis por essa situação; o contribuinte é quem paga com impostos esse prejuízo, cuja origem é altamente contrária ao interesse público.

Essa descontinuidade é típica da falta de projetos urbanos delineados com profundidade e é causada também pela discrepância ideológica e programática dos partidos e governantes que se sucedem no Poder Público. Em resumo, os interesses localizados, sejam eleitorais ou não, suplantam o bem-estar da população que fica à espera, pagando caro, muitas vezes impotente diante do erro cometido e que parece se perpetuar.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular em 6 de maio de 1990)



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