Perpetuação dos erros
Pedro J. Bondaczuk
A convivência da
administração municipal do PT com as obras inacabadas de
urbanização do Córrego Piçarrão, dos túneis de ligação do
Centro com a Vila Industrial e a Via Lix da Cunha, além da ETA 4 sob
a responsabilidade da Sanasa, indica que tão cedo a cidade não verá
esses projetos terminados. De um lado, as críticas à inoportunidade
e à inviabilidade da urbanização do Piçarrão e a construção
dos túneis; de outro, a velha argumentação da falta de dinheiro
para concluir tudo isso.
Enquanto o diretor do
Departamento de Urbanismo, Ary Fernandes, condena a técnica de
execução dos túneis e a finalidade duvidosa das obras de
saneamento do Piçarrão, o secretário das Finanças, Paulo de Tarso
Venceslau, expõe sua amargura ao prever que a queda de arrecadação
levará a Prefeitura a contabilizar déficit orçamentário em três
meses, caso a economia do País não supere nesse período os
transtornos causados pela mudança no setor. A avaliação do
secretário das Finanças não revela, entretanto, cálculo sobre a
arrecadação dos impostos --- notadamente o ICMS, que antes de 16 de
março era abertamente sonegado. Agora, com as medidas econômicas,
esse imposto, como reconheceram assessores econômicos da Prefeitura
da Capital e do governo do Estado, tornou-se volumoso, pois as notas
fiscais são fornecidas ao consumidor sem este pedir, ao contrário
do que ocorria até um mês e meio atrás.
Toda administração tem
dificuldade em conseguir dinheiro junto às instituições
financeiras privadas ou estatais, nacionais ou internacionais, para
tocar suas obras. Campinas nunca fugiu à regra. Mesmo durante o
governo do ex-prefeito José Roberto Magalhães Teixeira, os
primeiros quatro anos de mandato foram pobres em obras: porém as
negociações com as instituições de crédito possibilitaram
injeções de recursos em vários projetos.
A administração do PT tem
apenas quatro anos para viabilizar financeiramente a liberação de
dinheiro já autorizada para as obras em andamento, porém
paralisadas em Campinas. Mesmo as reavaliações técnicas propostas
pelo arquiteto Ary Fernandes, revelam que sua preocupação não é
tanto com os recursos, mas sim com a importância urbana dos
projetos.
Pior do que as críticas da
administração do PT a essas obras é a paralisação dos trabalhos
e a possibilidade de permanecerem intermináveis, enquanto o
Município dispõe, necessariamente, de milhões de dólares para
mantê-las paradas. Seria surrealista se não fosse realidade esse
fato. Porém, o prejuízo não corresponde aos responsáveis por essa
situação; o contribuinte é quem paga com impostos esse prejuízo,
cuja origem é altamente contrária ao interesse público.
Essa descontinuidade é típica
da falta de projetos urbanos delineados com profundidade e é causada
também pela discrepância ideológica e programática dos partidos e
governantes que se sucedem no Poder Público. Em resumo, os
interesses localizados, sejam eleitorais ou não, suplantam o
bem-estar da população que fica à espera, pagando caro, muitas
vezes impotente diante do erro cometido e que parece se perpetuar.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular em 6 de maio de 1990)
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