Antes tarde do que nunca
Pedro J. Bondaczuk
A área central de Campinas,
com seus prédios outrora imponentes, do início do século passado –
, época em que a cidade tinha na produção de café sua grande
fonte de renda e rivalizava com São Paulo como próspera e populosa
metrópole do Estado –, por uma série de razões, entre as quais
um certo desinteresse público na preservação desse importante
patrimônio arquitetônico, se deteriorou.
Cartazes, faixas, letreiros e
placas, de gosto no mínimo duvidoso – e além de tudo ineficientes
para atrair clientes – proliferaram, causando desnecessária (e
indesejável) poluição visual, espantando, mais do que atraindo,
frequentadores.
Muitos comerciantes,
proprietários ou inquilinos dos imóveis, por outro lado, pecaram
pela falta de manutenção. Ou demonstraram enorme mau gosto, imensa
falta de capricho, nas raras reformas que fizeram, que não passaram
de remendos sem nenhum critério, precários e feios, e que só
conseguiram descaracterizar, e piorar o aspecto das edificações,
que já então não era dos melhores.
De repente, o Centro de
Campinas, de bela concepção arquitetônica e estilística, quando
os casarões foram construídos, e que durante muitos anos se
constituiu em cartão de visita da própria cidade, adquiriu aspecto
sombrio, cinzento, de desleixo e de decadência. Chegou a se cogitar,
inclusive, em determinada ocasião, da transferência da área
central de Campinas para outras regiões, tamanha era a sua
decadência.
O bom senso, porém, parece
que prevaleceu. A partir de 2000, grupos de lojistas se uniram para
elaborar um amplo projeto, em parceria com o Poder Público, para
restaurar, revalorizar e revitalizar essa importante região, que
havia sido transformada numa espécie de ”cortiço comercial”.
E o processo, posto que ainda
moroso, já está em andamento. Começou por iniciativa dos próprios
comerciantes da zona, cansados de esperar pela ação,
tradicionalmente lenta, do Poder Público. Com a simples retirada de
alguns cartazes, faixas, letreiros e marquises, a beleza
arquitetônica de alguns imóveis já começa a aparecer, posto que
ainda não em todo o seu esplendor, desgastados que estão pela
implacável ação do tempo.
O Centro, finalmente, está
prestes a ganhar regras claras, rígidas e bem definidas para a
colocação, por exemplo, de publicidade em prédios tombados pelo
Conselho do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas, pondo fim
à poluição visual.
As normas, ainda em fase de
elaboração, vão constar de manual, a ser distribuído ainda este
ano aos lojistas da área. Espera-se, no entanto, que não se
constituam em letras mortas. Para evitar isso, é indispensável que
sejam devida e rigorosamente fiscalizadas, para que a área nunca
mais volte a se deteriorar.
A cidade quer de volta o seu
cartão de visitas. A população exige mais respeito pelo grande
símbolo da prosperidade econômica e excelência cultural desta
metrópole de um milhão de habitantes, que não quer, e não pode,
perder de vista as suas raízes. E todos sairão ganhando, de uma
forma ou de outra, com essa revitalização do Centro, que não deve,
no entanto, continuar sofrendo protelamentos.
(Editorial publicado na
página 2, Opinião, do jornal Roteiro, em 1º de outubro de 2002).
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