A modernização da Sanasa
Pedro J. Bondaczuk
A decisão da Sanasa de
privatizar parte de seus serviços vai ao encontro da nova política
adotada pelo governo do presidente Fernando Collor de Mello. A
modernização da estrutura econômica e de serviços públicos é
uma exigência da sociedade, cansada de deparar-se com o descaso dos
políticos e governantes que utilizam a máquina administrativa,
direta ou indiretamente, para se locupletarem eleitoralmente.
O comportamento corporativista
e ideológico de vários segmentos políticos, seja a esquerda, sejam
os fisiológicos e clientelistas, manifestam a tentativa de manter a
empresa pública como um paquiderme que se alimenta do dinheiro dos
impostos sem devolvê-lo em forma de serviços.
A decisão do presidente da
Sanasa, José Maria Gotti Alvarenga, é resultado de uma situação
evidente demais para ser adiada pela pressão do Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria da Purificação da Água de Campinas e
Região, cujo papel é defender os interesses corporativistas da
categoria que representa.
A leitura dos hidrômetros
sempre foi falha, devido à falta de pessoal e do preparo
profissional deste serviço. As reclamações dos consumidores sempre
foram grandes. A Sanasa diariamente convive com filas de pessoas que
procuram sanar os erros da leitura que, em grande parte, registra um
consumo muito acima do normal em suas residências.
O quadro reduzido de
leituristas (segundo a direção da Sanasa há 70 deles; de acordo
com o sindicato, há apenas 28) para fiscalizar 158 mil hidrômetros
revela a má administração de pessoal na empresa que, no entanto,
está inchada com uma quantidade excessiva de funcionários: 1.800,
conforme dados da presidência.
O mais interessante nesse
processo é que a privatização de alguns serviços públicos, como
este prestado pela Sanasa, ocorra justamente durante o governo
petista. De um lado a administração sabe que não pode continuar
esperando o Brasil sair do buraco para aí então começar a
trabalhar. De outro, o inchaço da máquina impede que os recursos
injetados na Sanasa atinjam seus objetivos e, assim, definam a
empresa como pública.
Pagar somente a folha de
pessoal com o que é arrecadado tira da Sanasa sua função social a
que está destinada, transformando-se num fim em si mesma. É claro
que governos anteriores e diretorias de outras administrações são
tão responsáveis quanto a atual pela situação vivida pela Sanasa.
Mas a chance desse perfil ser redesenhado existe, bastando à direção
da empresa encontrar uma saída como a privatização, desde que
saiba administrar essa relação no plano político e jurídico.
O espírito de corpo do
sindicato da categoria dos empregados na empresa deve ser avaliado
dentro de suas proporções sociais e políticas. Isto porque a
direção da empresa poderá ver frustrado seu projeto de
modernização da Sanasa se submeter-se a essas pressões.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 15 de maio de 1990)
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