Sunday, April 29, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - A modernização da Sanasa


A modernização da Sanasa


Pedro J. Bondaczuk


A decisão da Sanasa de privatizar parte de seus serviços vai ao encontro da nova política adotada pelo governo do presidente Fernando Collor de Mello. A modernização da estrutura econômica e de serviços públicos é uma exigência da sociedade, cansada de deparar-se com o descaso dos políticos e governantes que utilizam a máquina administrativa, direta ou indiretamente, para se locupletarem eleitoralmente.

O comportamento corporativista e ideológico de vários segmentos políticos, seja a esquerda, sejam os fisiológicos e clientelistas, manifestam a tentativa de manter a empresa pública como um paquiderme que se alimenta do dinheiro dos impostos sem devolvê-lo em forma de serviços.

A decisão do presidente da Sanasa, José Maria Gotti Alvarenga, é resultado de uma situação evidente demais para ser adiada pela pressão do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Purificação da Água de Campinas e Região, cujo papel é defender os interesses corporativistas da categoria que representa.

A leitura dos hidrômetros sempre foi falha, devido à falta de pessoal e do preparo profissional deste serviço. As reclamações dos consumidores sempre foram grandes. A Sanasa diariamente convive com filas de pessoas que procuram sanar os erros da leitura que, em grande parte, registra um consumo muito acima do normal em suas residências.

O quadro reduzido de leituristas (segundo a direção da Sanasa há 70 deles; de acordo com o sindicato, há apenas 28) para fiscalizar 158 mil hidrômetros revela a má administração de pessoal na empresa que, no entanto, está inchada com uma quantidade excessiva de funcionários: 1.800, conforme dados da presidência.

O mais interessante nesse processo é que a privatização de alguns serviços públicos, como este prestado pela Sanasa, ocorra justamente durante o governo petista. De um lado a administração sabe que não pode continuar esperando o Brasil sair do buraco para aí então começar a trabalhar. De outro, o inchaço da máquina impede que os recursos injetados na Sanasa atinjam seus objetivos e, assim, definam a empresa como pública.

Pagar somente a folha de pessoal com o que é arrecadado tira da Sanasa sua função social a que está destinada, transformando-se num fim em si mesma. É claro que governos anteriores e diretorias de outras administrações são tão responsáveis quanto a atual pela situação vivida pela Sanasa. Mas a chance desse perfil ser redesenhado existe, bastando à direção da empresa encontrar uma saída como a privatização, desde que saiba administrar essa relação no plano político e jurídico.

O espírito de corpo do sindicato da categoria dos empregados na empresa deve ser avaliado dentro de suas proporções sociais e políticas. Isto porque a direção da empresa poderá ver frustrado seu projeto de modernização da Sanasa se submeter-se a essas pressões.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 15 de maio de 1990)

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: