Tuesday, April 24, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Recorde de violência


Recorde de violência


Pedro J. Bondaczuk


A violência em Campinas segue batendo recordes atrás de recordes, desde o início deste ano (e 1997 já foi extremamente violento), sem que tenha sido encontrada uma forma eficaz que funcionasse (pelo menos até aqui) razoavelmente para deter esta escalada macabra de morte e de brutalidade.

A cada final de semana, mormente quando há algum feriado prolongado, já se tornou rotina a manchete no jornal ser sobre quantidade crescente de homicídios, assaltos e roubos de veículos, entre outros crimes, inquietando e aterrorizando a cidade. Os campineiros sentem-se cada vez mais inseguros e não têm a quem recorrer. Essa escalada, é óbvio, é sumamente preocupante, já que ainda não se vislumbra "luz no final do túnel". Pelo contrário.

Não se trata, como simplesmente se coloca, de eventual ineficiência do aparato policial ou judiciário. A simples repressão poderá funcionar por algum tempo, mas não é por si só a solução milagrosa. As raízes da violência são mais profundas e passam tanto pela crise social --- com as taxas de desemprego nas alturas --- quanto por uma certa "cultura da morte", cultivada de forma irresponsável e até suicida pela sociedade, que se volta contra ela mesma.

Recente pesquisa de um jornal mostrou que em São Paulo os homicídios já são a principal causa de mortalidade entre as pessoas na faixa dos 17 aos 30 anos. Supera as doenças cardíacas e os distúrbios vasculares como motivos de óbitos. Em Campinas, embora não haja nenhum estudo a respeito, a situação não deve ser muito diferente.

Apenas neste feriado prolongado de Corpus Christi, foram registradas 16 mortes violentas na cidade, das quais 12 foram assassinatos, além de quatro ocorridas em acidentes de trânsito (outra forma de violência). A esses números, devem ser acrescentados assaltos, roubos, lesões corporais, etc. Trata-se, como se vê, de situação intolerável, que requer ações profiláticas de curto, médio e longo prazo.

De imediato, o que se exige é um policiamento ostensivo (preventivo) mais eficiente, presente e racional, que dê tranquilidade ao cidadão quanto à preservação da sua integridade física e patrimonial, o que atualmente ele não possui. É necessária, por exemplo, uma cruzada séria, que envolva autoridades e comunidade, contra os grupos de traficantes de drogas que infestam atualmente não apenas Campinas, mas o mundo contemporâneo. Essas multinacionais do vício, com ramificações por toda a parte, arrecadam anualmente US$ 420 bilhões, desgraçando a vida de milhões de pessoas.

Por outro lado, é indispensável a identificação das quadrilhas de roubos de veículos que atuam na cidade e principalmente dos receptadores, dos que dão sumiço nos carros roubados, desmanchando esses automóveis para a venda de peças ou os vendendo para o Exterior.

Homicídios, no entanto, não há como a polícia prevenir (a não ser nos casos de acerto de contas entre gangues que disputam pontos de tráfico). Aí entrariam as ações profiláticas, de médio prazo, envolvendo toda a sociedade, com campanhas inteligentes e bem coordenadas contra o alcoolismo (estudos mostram que em mais da metade dos assassinatos cometidos, o consumo de álcool em excesso é o detonador desses crimes), contra o uso de drogas, contra a exploração de menores carentes e contra a prostituição.

Finalmente, em uma última etapa, a longo prazo, é urgente substituir a atual cultura da morte pela da valorização da vida. Esta é uma tarefa que deve envolver escolas, famílias, igrejas, imprensa, formadores de opinião, etc. Por uma série de razões, os pais estão abrindo mão da educação dos filhos, transferindo a tarefa para terceiros, confundindo-a com mera instrução. Aliás, trata-se de um fenômeno mundial, que se reflete na crescente criminalidade envolvendo crianças (algumas de até oito anos de idade) e adolescentes.

(Editorial número um, publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 16 de junho de 1998).


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