Recorde de violência
Pedro J. Bondaczuk
A violência em Campinas segue
batendo recordes atrás de recordes, desde o início deste ano (e
1997 já foi extremamente violento), sem que tenha sido encontrada
uma forma eficaz que funcionasse (pelo menos até aqui) razoavelmente
para deter esta escalada macabra de morte e de brutalidade.
A cada final de semana,
mormente quando há algum feriado prolongado, já se tornou rotina a
manchete no jornal ser sobre quantidade crescente de homicídios,
assaltos e roubos de veículos, entre outros crimes, inquietando e
aterrorizando a cidade. Os campineiros sentem-se cada vez mais
inseguros e não têm a quem recorrer. Essa escalada, é óbvio, é
sumamente preocupante, já que ainda não se vislumbra "luz no
final do túnel". Pelo contrário.
Não se trata, como
simplesmente se coloca, de eventual ineficiência do aparato policial
ou judiciário. A simples repressão poderá funcionar por algum
tempo, mas não é por si só a solução milagrosa. As raízes da
violência são mais profundas e passam tanto pela crise social ---
com as taxas de desemprego nas alturas --- quanto por uma certa
"cultura da morte", cultivada de forma irresponsável e até
suicida pela sociedade, que se volta contra ela mesma.
Recente pesquisa de um jornal
mostrou que em São Paulo os homicídios já são a principal causa
de mortalidade entre as pessoas na faixa dos 17 aos 30 anos. Supera
as doenças cardíacas e os distúrbios vasculares como motivos de
óbitos. Em Campinas, embora não haja nenhum estudo a respeito, a
situação não deve ser muito diferente.
Apenas neste feriado
prolongado de Corpus Christi, foram registradas 16 mortes violentas
na cidade, das quais 12 foram assassinatos, além de quatro ocorridas
em acidentes de trânsito (outra forma de violência). A esses
números, devem ser acrescentados assaltos, roubos, lesões
corporais, etc. Trata-se, como se vê, de situação intolerável,
que requer ações profiláticas de curto, médio e longo prazo.
De imediato, o que se exige é
um policiamento ostensivo (preventivo) mais eficiente, presente e
racional, que dê tranquilidade ao cidadão quanto à preservação
da sua integridade física e patrimonial, o que atualmente ele não
possui. É necessária, por exemplo, uma cruzada séria, que envolva
autoridades e comunidade, contra os grupos de traficantes de drogas
que infestam atualmente não apenas Campinas, mas o mundo
contemporâneo. Essas multinacionais do vício, com ramificações
por toda a parte, arrecadam anualmente US$ 420 bilhões, desgraçando
a vida de milhões de pessoas.
Por outro lado, é
indispensável a identificação das quadrilhas de roubos de veículos
que atuam na cidade e principalmente dos receptadores, dos que dão
sumiço nos carros roubados, desmanchando esses automóveis para a
venda de peças ou os vendendo para o Exterior.
Homicídios, no entanto, não
há como a polícia prevenir (a não ser nos casos de acerto de
contas entre gangues que disputam pontos de tráfico). Aí entrariam
as ações profiláticas, de médio prazo, envolvendo toda a
sociedade, com campanhas inteligentes e bem coordenadas contra o
alcoolismo (estudos mostram que em mais da metade dos assassinatos
cometidos, o consumo de álcool em excesso é o detonador desses
crimes), contra o uso de drogas, contra a exploração de menores
carentes e contra a prostituição.
Finalmente, em uma última
etapa, a longo prazo, é urgente substituir a atual cultura da morte
pela da valorização da vida. Esta é uma tarefa que deve envolver
escolas, famílias, igrejas, imprensa, formadores de opinião, etc.
Por uma série de razões, os pais estão abrindo mão da educação
dos filhos, transferindo a tarefa para terceiros, confundindo-a com
mera instrução. Aliás, trata-se de um fenômeno mundial, que se
reflete na crescente criminalidade envolvendo crianças (algumas de
até oito anos de idade) e adolescentes.
(Editorial número um,
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 16 de junho
de 1998).
No comments:
Post a Comment