Monday, April 02, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Condições favoráveis


Condições favoráveis



Pedro J. Bondaczuk



As pesquisas de opinião indicam que o PSDB vai conquistar os governos dos três Estados mais ricos e importantes do País – São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais – na votação em segundo turno realizada ontem, ficando, ao lado do PMDB, com o maior número de governadores a partir de 1º de janeiro próximo, num total de cinco para cada um.

Além disso, o partido, que já havia tido uma performance muito boa nas eleições municipais de 1992, elegeu uma razoável bancada no Congresso e um número expressivo de deputados estaduais. Tudo isso, além de conquistar o “troféu” maior, a Presidência da República, com Fernando Henrique Cardoso.

A se confirmar esse novo quadro político – e tudo indica que será confirmado – estarão criadas condições, senão perfeitas, pelo menos bastante favoráveis para que o próximo presidente faça uma boa gestão. FHC vai contar com possibilidades muito maiores do que seus antecessores para, sobretudo, implantar as quatro reformas que se fazem urgentes e indispensáveis – a tributária, a previdenciária, a administrativa e a política – e recolocar o País na trilha do desenvolvimento econômico, com justiça social.

Depois de 13 anos de crises, que produziram terríveis efeitos sobre a grande maioria da população, surge, finalmente, “uma luz no fundo do túnel”. Existem perspectivas muito favoráveis para os próximos quatro anos, que não podem e nem devem redundar em novas frustrações.

O eleitorado optou, nitidamente, pela social-democracia, pelo equilíbrio, pelo diálogo, aliás bem dentro das tradições do brasileiro, avesso a lances melodramáticos e a gestos tresloucados.

As expectativas maiores da opinião pública são em relação ao novo Congresso, renovado em mais de 60%, que tem a responsabilidade dupla de viabilizar as mudanças e de resgatar a credibilidade da instituição, abaladíssima após a série de escândalos e a pouca vontade de trabalhar da maioria dos parlamentares na legislatura que se encerra em 31 de dezembro próximo.

Mas que ninguém espere “milagres” – aliás, contra estes, já deveríamos estar vacinados – nem que, com o raiar de 1º de janeiro, junto com o novo ano, surja um novo país. Nenhum dos problemas que nos atormentam será resolvido se não os atacarmos com coesão, com competência, com coragem e às claras.

Em outras oportunidades já existiram condições até mais propícias do que as que acabamos de criar e nossos líderes não souberam aproveitar. Não estamos a salvo, portanto, de novas frustrações, de recaídas derrotistas, de amargos desencantos.

O brasileiro precisa desenvolver, isto sim, é o saudável hábito da cobrança. Deve cultivar um espírito crítico, mas justo, condenando o condenável e apoiando as ações que mereçam apoio, mesmo que estas impliquem em imensos sacrifícios.

Tem que se livrar de vez de expectativas paternalistas, esperando que o Estado ou seja lá quem for faça por ele aquilo que lhe compete fazer. No início da campanha eleitoral de 1994, pedíamos aos céus que iluminassem os eleitores e os fizessem votar certo, pelo menos desta vez. Salvo desastroso engano, há evidências de que o pedido foi atendido. Que assim seja.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 16 de novembro de 1994).

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