Inteligência superior desafia a ciência
Pedro
J. Bondaczuk
O homem
dotado de grande inteligência, a considerada superior à média,
desafia os estudiosos, que buscam determinar as causas dessa
capacidade. Teorias vêm sendo estabelecidas, e superadas, sem que se
chegue a qualquer conclusão cientificamente comprovável.
Psicólogos,
psiquiatras, neurologistas, etólogos, antropólogos ou simples
leigos tentam responder, de forma convincente, baseada em provas, a
questão: Por que determinadas pessoas são mais inteligentes do que
outras? Ou seja, por que têm raciocínio mais rápido e entendem com
maior facilidade o que as cerca? Seria algum fator genético? Ou
seria consequência de alimentação adequada, ou de estímulos
durante a infância, ou do meio ambiente em que a pessoa é criada ou
da forma que é educada?
Há
quem ache que os bem-dotados, considerados gênios, contam com algum
fator biológico especial. Mas qual ele seria, caso seja isso,
realmente, o que determina sua superioridade de inteligência? O
tamanho do cérebro teria alguma influência? Em caso positivo, em
que medida? Quais os fatores que determinaram a genialidade, por
exemplo, de um Albert Einstein, de um Beethoven, de um Salvador Dali
ou de um Linus Pauling, entre tantos outros, em suas respectivas
atividades? E, afinal, o que vem a ser inteligência?
Respostas
conclusivas para essas questões ainda não existem. Mas desde
fevereiro de 1985, um dado novo, descoberto pela professora de
Anatomia da Universidade da Califórnia, em Berkeley, Marian Diamond,
pode ser a pista que faltava para que o mistério seja, enfim,
esclarecido.
Dissecando
um pedaço do cérebro de Einstein, conservado em formol pelo
patologista Thomas Harvey, do Hospital da Universidade de Princeton,
desde que o físico morreu (em 18 de abril de 1955), a pesquisadora
constatou que o pai da Teoria da Relatividade tinha 73% a mais do que
o normal de um determinado tipo de células.
A
constatação, frise-se, pode sequer ter significado especial, como a
Dra. Marian admite. Mas pode, também, ser a pista que se procura há
tanto tempo para explicar, do ponto de vista biológico, o fenômeno
da genialidade. Antes de qualquer comentário a propósito, são
necessárias algumas definições, para melhor entendimento da
questão.
O
que vem a ser a “inteligência”? Conforme o Novo Dicionário
Aurélio, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, trata-se da
“faculdade de aprender, apreender ou compreender; percepção,
apreensão, intelecto, intelectualidade”. Também é a “qualidade
ou capacidade de compreender e adaptar-se facilmente; capacidade,
penetração, agudeza, perspicácia; maneira de entender ou
interpretar, interpretação”.
Em
Psicologia, a inteligência é definida como a “capacidade de
resolver situações problemáticas novas mediante reestruturação
dos dados perceptivos”. Já a expressão “gênio”, é uma
criação popular. Trata-se de gíria, de jargão relacionado ao
termo que define as “entidades invisíveis que tudo podem”.
Figurativamente
significa, de acordo com Aurélio, “altíssimo grau, ou o mais
alto, de capacidade mental criadora em qualquer sentido”. O termo é
usado, também, para caracterizar o “indivíduo de extraordinária
potência intelectual”. Claro que para fazer jus à expressão, a
pessoa precisa ser excepcionalíssima, integrar uma seletíssima
minoria “anormal”.
É
essa anormalidade, aliás, que leva as pessoas a situar os gênios no
mesmo patamar do seu oposto – o dos que não conseguem apreender a
realidade – os loucos. Um aforismo, muito popular, sentencia:
“entre o gênio e o louco, o que os diferencia é muito pouco!”.
Albert
Einstein, pouco antes de morrer, em 18 de abril de 1955, aos 76 anos,
no Hospital da Universidade de Princeton, à qual estava ligado,
deixou minuciosas instruções sobre o que deveria ser feito com o
seu corpo e seus bens. Entre outras coisas, manifestou o desejo de
que seu cérebro não fosse cremado, junto com seu cadáver, mas
conservado em formol para estudos.
O
patologista Thomas Harvey foi incumbido da tarefa de guarda e
preservação. O médico, porém, não tomou as necessárias cautelas
para preservar tão preciosa peça anatômica. Guardava, por exemplo,
o recipiente, contendo o cérebro de Einstein mergulhado em formol,
numa gaveta de seu escritório, embrulhado em trapos e em jornais
velhos. O procedimento pode ter provocado profundas alterações nas
delicadas e frágeis células do órgão, conservado, como se
constatou, de forma tecnicamente inadequada, ou seja, sem a
indispensável refrigeração.
Por
três anos, a professora de Anatomia da Universidade da Califórnia,
Marian Diamond, insistiu com Harvey para que lhe cedesse um fragmento
do cérebro de Einstein, que ela desejava estudar. A pesquisadora não
revelou como ficou sabendo da existência dessa peça, mas o fato é
que não desistiu do intento enquanto não teve êxito. Depois de
várias tentativas frustradas, finalmente a médica conseguiu o que
queria.
No
final de 1984, Harvey concordou em partilhar com ela uma fatia do
órgão, por estar convencido de que aquela massa cinzenta, de má
aparência, escondia um segredo que a ciência há anos vinha
tentando desvendar. Queria, acima de tudo, tirar uma dúvida que o
incomodava: se anatomicamente o genial físico alemão, de origem,
judia (naturalizado norte-americano), guardava diferenças tão
marcantes, quanto as intelectuais, em relação às pessoas de
inteligência mediana. Vários outros neurologistas também receberam
fatias do cérebro de Einstein.
A
Dra. Marian, tão logo recebeu o fragmento, iniciou suas pesquisas,
que iriam se estender por um longo tempo. Programou uma série de
testes, notadamente os histológicos, que durariam pelo menos seis
meses. Retalhou aquela massa cinzenta mole e inconsistente em
diversos pedaços, para compor múltiplas lâminas, que analisou ao
microscópio. Dia após dia repetiu, pacientemente, todos
procedimentos laboratoriais, sem encontrar nada de novo.
Finalmente,
a pesquisadora viu sua persistência ser premiada. Descobriu algo
inusitado, em seus meticulosos relatórios de pesquisa, que poderia
ser a “chave” daquilo que estava procurando. Constatou, nas
contagens e comparações celulares que fez nas várias lâminas, que
o fragmento do cérebro de Einstein apresentava quantidade maior do
que a normal de um determinado tipo de células: as “gliais”,
cuja função é a de alimentação e de manutenção neuronial.
Para
alguns, a constatação da Dra. Marian está longe de resolver a
questão da inteligência. Para outros, no entanto, pode ser a tão
procurada chave do mistério. Há tempos os pesquisadores divergem
sobre as verdadeiras funções das células gliais. Nos compêndios
de Anatomia, por exemplo, seu papel nunca foi relacionado com o
raciocínio.
Os
patologistas acham que elas servem apenas como suportes, como
alimentadoras dos neurônios, estes sim considerados fatores do
pensamento e controladores das habilidades humanas. E mesmo assim,
nem a quantidade destes terminais nervosos é considerada
determinante da inteligência. O termo médico “glia” foi
emprestado do grego, e significa “cola”.
As
células gliais formam o tecido intersticial dos centros nervosos do
cérebro. Além da tarefa de alimentação, exercem papel excretor e
reparador de neurônios avariados ou envelhecidos. Retalhando um
fragmento do lado esquerdo do cérebro de Einstein, Marian encontrou
73% a mais de células gliais para cada neurônio, do que as
normalmente encontradas em outros cérebros que estudou.
E
concluiu, em entrevista que concedeu em 12 de fevereiro de 1985: “As
células gliais podem estar ligadas ao mecanismo cerebral e sua
abundância no cérebro de Einstein pode ser uma pista para se
entender porque ele era tão inteligente”. A conclusão, ao que
tudo indica, não é meramente especulativa. Está fundamentada em
pesquisas paralelas anteriores que a pesquisadora realizou.
Durante
anos a Dra. Marian Diamond estudou o relacionamento entre os
neurônios e as células gliais em ratazanas. Constatou que as
cobaias que eram obrigadas a se equilibrar sobre tambores e a
utilizar brinquedos desenvolviam maior quantidade de células gliais
por neurônio do que as outras, que não eram submetidas a esses
exercícios. E eram, por conseguinte, senão mais inteligentes, pelo
menos mais adestradas e mais ativas.
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