Wednesday, April 11, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Plano Antiviolência


Plano Antiviolência


Pedro J. Bondaczuk


A cidade de Campinas, entra ano, sai ano, sofre cada vez mais com um fenômeno característico das grandes metrópoles mundiais, que é o problema da violência urbana. Há tempos esta é a questão que (com razão) mais preocupa a população, conforme revelam inúmeras pesquisas de opinião, já que estão em jogo o patrimônio, e principalmente a vida e a integridade física, de cada cidadão.

Ninguém está a salvo, por exemplo, no panorama atual de insegurança que caracteriza a cidade, dos riscos de um assalto a mão armada, da perda de seu veículo nas mãos de ladrões, de sequestros, furtos, roubos e principalmente de ser vítima de homicídio, seja qual for o motivo. E isso é deveras assustador. Raros são os campineiros que ainda não passaram pelo dissabor de serem vítimas da ação de marginais.

Estatísticas a respeito da criminalidade em nosso município há em profusão, e cada vez mais exatas e atualizadas. E a realidade mostrada pelos números é, no mínimo, inquietadora e alarmante. Revela, sobretudo, um crescimento acelerado de ocorrências, cada vez mais graves e ousadas, a despeito de todas as cobranças e de todos os clamores dos campineiros, através da imprensa e de várias entidades representativas da sociedade civil.

Apenas para o leitor ter uma ideia de a quantas anda a violência em Campinas, basta citar que o jornal Correio Popular, na edição da última terça-feira, divulgou levantamento feito pela Rede Anhangüera de Notícias, dando conta de que, apenas no final de semana passado se registraram na cidade: oito homicídios, dez tentativas de homicídio, sessenta e quatro roubos de veículos (furto acompanhado de violência física), quarenta e quatro furtos de veículos, oito roubos a residências, quarenta e quatro roubos em ônibus e vinte e seis roubos a pessoas nas ruas.

Como se observa, o quadro é dos mais graves e preocupantes. E não são ocorrências isoladas, picos de um determinado período. Refletem a média da criminalidade na cidade, com nítida tendência de crescimento. Ademais, estatísticas são inúteis e desnecessárias, se não forem utilizadas como instrumentos práticos para orientar ações, principalmente as de caráter preventivo.

Campinas, que não faz muito foi tida e havida como uma comunidade pacata e acolhedora (houve época em seu slogan chegou a ser: "a capital da gentileza"), procurada por aqueles que queriam fugir da violência de metrópoles mais problemáticas do que ela, nesse aspecto --- como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre --- hoje se iguala a elas. E, em termos proporcionais, até supera a maioria.

Hoje já se tornou conhecida em todo o País, e até no Exterior, não tanto pelas suas excelências, por sua pujança econômica, suas quatro universidades, sua indústria de alta tecnologia ou pelo dinamismo e criatividade do seu povo, mas por abrigar poderosos grupos do crime organizado, com ramificações nacionais e internacionais. A média de homicídios que aqui se registram atinge a assustadora cifra de um a cada 17 horas, uma das mais altas do mundo. Portanto, quando o campineiro clama por segurança, não é, evidentemente, sem razão.

Para que não sejam dispersados esforços (e nem recursos), no combate à violência urbana, a Câmara Municipal de Campinas acaba de aprovar a criação do Conselho Integrado de Segurança Pública. O novo órgão terá, como função específica, a coordenação de providências das diversas instituições encarregadas de proteger a população. Merece, portanto, a priori, um crédito da população, antes de começar a atuar.

Ressalte-se que não procedem as cobranças que vêm sendo feitas ao prefeito Antonio da Costa Santos, no que diz respeito ao combate à violência urbana. Seu governo acaba de completar os primeiros cem dias de instalação, tempo que, convenhamos, é insuficiente para resolver, ou pelo menos encaminhar, um problema de tamanha gravidade, e que vem se arrastando há tanto tempo. Ademais, embora o governante do município possa (e deva) dar sua contribuição para solucionar essa questão, no âmbito da cidade que governa, segurança é, constitucionalmente, responsabilidade do Estado.

Quanto aos que cobram eficácia do novo Conselho Integrado de Segurança Pública, este não podia agir antes da aprovação, por parte da Câmara Municipal, do projeto que o criou. A partir de agora, no entanto, e com razão, a sociedade irá, certamente, cobrar ação, coordenada, coerente, inteligente e eficaz, desse órgão, que tem muito a oferecer à sociedade. A violência em Campinas atingiu o limite do intolerável. Como está, não pode mais continuar!


(Editorial da Folha do Taquaral de 10 de abril de 2001).



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