Plano Antiviolência
Pedro J. Bondaczuk
A cidade de Campinas, entra
ano, sai ano, sofre cada vez mais com um fenômeno característico
das grandes metrópoles mundiais, que é o problema da violência
urbana. Há tempos esta é a questão que (com razão) mais preocupa
a população, conforme revelam inúmeras pesquisas de opinião, já
que estão em jogo o patrimônio, e principalmente a vida e a
integridade física, de cada cidadão.
Ninguém está a salvo, por
exemplo, no panorama atual de insegurança que caracteriza a cidade,
dos riscos de um assalto a mão armada, da perda de seu veículo nas
mãos de ladrões, de sequestros, furtos, roubos e principalmente de
ser vítima de homicídio, seja qual for o motivo. E isso é deveras
assustador. Raros são os campineiros que ainda não passaram pelo
dissabor de serem vítimas da ação de marginais.
Estatísticas a respeito da
criminalidade em nosso município há em profusão, e cada vez mais
exatas e atualizadas. E a realidade mostrada pelos números é, no
mínimo, inquietadora e alarmante. Revela, sobretudo, um crescimento
acelerado de ocorrências, cada vez mais graves e ousadas, a despeito
de todas as cobranças e de todos os clamores dos campineiros,
através da imprensa e de várias entidades representativas da
sociedade civil.
Apenas para o leitor ter uma
ideia de a quantas anda a violência em Campinas, basta citar que o
jornal Correio Popular, na edição da última terça-feira, divulgou
levantamento feito pela Rede Anhangüera de Notícias, dando conta de
que, apenas no final de semana passado se registraram na cidade:
oito homicídios, dez tentativas de homicídio, sessenta e quatro
roubos de veículos (furto acompanhado de violência física),
quarenta e quatro furtos de veículos, oito roubos a residências,
quarenta e quatro roubos em ônibus e vinte e seis roubos a pessoas
nas ruas.
Como se observa, o quadro é
dos mais graves e preocupantes. E não são ocorrências isoladas,
picos de um determinado período. Refletem a média da criminalidade
na cidade, com nítida tendência de crescimento. Ademais,
estatísticas são inúteis e desnecessárias, se não forem
utilizadas como instrumentos práticos para orientar ações,
principalmente as de caráter preventivo.
Campinas, que não faz muito
foi tida e havida como uma comunidade pacata e acolhedora (houve
época em seu slogan chegou a ser: "a capital da gentileza"),
procurada por aqueles que queriam fugir da violência de metrópoles
mais problemáticas do que ela, nesse aspecto --- como São Paulo,
Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre --- hoje se iguala a
elas. E, em termos proporcionais, até supera a maioria.
Hoje já se tornou conhecida
em todo o País, e até no Exterior, não tanto pelas suas
excelências, por sua pujança econômica, suas quatro universidades,
sua indústria de alta tecnologia ou pelo dinamismo e criatividade do
seu povo, mas por abrigar poderosos grupos do crime organizado, com
ramificações nacionais e internacionais. A média de homicídios
que aqui se registram atinge a assustadora cifra de um a cada 17
horas, uma das mais altas do mundo. Portanto, quando o campineiro
clama por segurança, não é, evidentemente, sem razão.
Para que não sejam
dispersados esforços (e nem recursos), no combate à violência
urbana, a Câmara Municipal de Campinas acaba de aprovar a criação
do Conselho Integrado de Segurança Pública. O novo órgão terá,
como função específica, a coordenação de providências das
diversas instituições encarregadas de proteger a população.
Merece, portanto, a priori, um crédito da população, antes de
começar a atuar.
Ressalte-se que não procedem
as cobranças que vêm sendo feitas ao prefeito Antonio da Costa
Santos, no que diz respeito ao combate à violência urbana. Seu
governo acaba de completar os primeiros cem dias de instalação,
tempo que, convenhamos, é insuficiente para resolver, ou pelo menos
encaminhar, um problema de tamanha gravidade, e que vem se arrastando
há tanto tempo. Ademais, embora o governante do município possa (e
deva) dar sua contribuição para solucionar essa questão, no âmbito
da cidade que governa, segurança é, constitucionalmente,
responsabilidade do Estado.
Quanto aos que cobram eficácia
do novo Conselho Integrado de Segurança Pública, este não podia
agir antes da aprovação, por parte da Câmara Municipal, do projeto
que o criou. A partir de agora, no entanto, e com razão, a sociedade
irá, certamente, cobrar ação, coordenada, coerente, inteligente e
eficaz, desse órgão, que tem muito a oferecer à sociedade. A
violência em Campinas atingiu o limite do intolerável. Como está,
não pode mais continuar!
(Editorial da Folha do
Taquaral de 10 de abril de 2001).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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