Reconquista da cidade
Pedro
J. Bondaczuk
O
número de homicídios na cidade, nos primeiros dias de novembro, já
chega a 502, quando faltam, ainda, pouco menos de dois meses para o
ano acabar. Em 2000, os casos foram 569. Há, portanto, perspectivas
mais do que concretas para que essa cifra --- por si só alarmante e
que situa Campinas entre as metrópoles mais violentas do País ---
seja superada.
Aliás,
nem se trata de uma questão numérica. São vidas humanas sendo
suprimidas estupidamente, o que sempre se constitui em tragédia (não
somente familiar, para pais, irmãos, tios, etc., além de amigos das
vítimas, mas uma catástrofe social), mesmo que se trate de uma
única pessoa morta. Há muito, portanto, a situação ultrapassou o
limite do tolerável. E não são, somente, homicídios que estão na
ascendente. Roubos de veículos, assaltos a mão armada e sequestros,
inclusive "relâmpagos", entre outros delitos, apresentam,
igualmente, índices crescentes e alarmantes. É preciso, pois, fazer
alguma coisa para mudar esse quadro sombrio.
Ninguém
defende, é óbvio, que a população, para reagir contra os que a
ameaçam, se arme, ou forme brigadas, do tipo das que se veem nos
filmes de faroeste, que saiam por aí justiçando bandidos. Até
porque, ela não está preparada para isso. E nem é esse o papel que
a Constituição lhe destina. A tarefa é das autoridades
responsáveis pela segurança pública, que por uma série de
motivos, não vêm cumprindo a contento sua função. Os números aí
estão para comprovar sua ineficiência.
O
cidadão pode, e deve, cooperar no combate à violência e à
criminalidade, pois é a sua vida e é o seu patrimônio que estão
em jogo. Tem que denunciar suspeitos, adotar atitudes preventivas e
cobrar, constante e incansavelmente, do Poder Público, que faça a
sua parte. Sua segurança, bem como a da sua família e a de toda a
comunidade, é um dos direitos fundamentais que lhe são assegurados
pela Constituição. Ao proteger sua pessoa e seus bens, o Estado não
lhe estará fazendo nenhum favor. Esta é a sua obrigação
constitucional e até moral!
O
campineiro já não suporta mais tanta insegurança. Congrega-se em
entidades, como a "Reage Campinas" e outras congêneres,
disposto a resgatar sua cidade e torná-la um lugar seguro e
aprazível para se viver. E tem que se mobilizar mesmo! Tem que
protestar, exigir, cooperar com o Poder Público e cobrar ações
constantes, permanentes e eficazes dos que têm a responsabilidade e
o dever de proteger sua vida e seu patrimônio.
As
ruas da "sua" cidade transformaram-se em "terra de
ninguém", onde qualquer pessoa está sujeita a sofrer algum
tipo de ataque, como roubo, assalto, sequestro relâmpago, etc., que
não raro resulta em morte ou lesão corporal de variada gravidade de
quem é atacado ou daquele que tem a infelicidade de passar
fortuitamente próximo ao local onde as agressões se verificam. E os
casos se repetem, com irritante persistência, e se multiplicam, de
dia ou à noite, sem hora certa para acontecer. Atingem todo o mundo,
indistintamente. Nem policiais escapam dessas ações criminosas,
sendo, não raro, caçados por marginais, quando deveriam caçá-los,
para que respondessem e pagassem por seus crimes.
Até
o prefeito de Campinas, Antonio da Costa Santos, não escapou do
horror dessa "guerra" (não declarada, mas concreta) entre
os que trabalham, estudam, produzem, realizam, pagam seus impostos,
dão a sua contribuição para o desenvolvimento e progresso da
comunidade, acatando as leis e os princípios sociais e os que
consideram o trabalho "coisa de tolos", não respeitam o
bem alheio, não temem e nem têm dó de ninguém, vendo em cada
cidadão apenas um "pato" em potencial, pronto para ser
"depenado", agindo na ilegalidade mesmo sabendo dos riscos
que correm, mas posando (invariavelmente) de vítimas, quando têm
que pagar por seus delitos. Aí, agem como "coitadinhos",
como produtos de uma sociedade egoísta, que os exclui e os lança na
marginalidade. As coisas, porém, não são tão simples assim.
Os que
assaltam, sequestram, torturam e barbarizam não são famélicos, à
beira da inanição, em busca do que comer. Comem bem, e até demais!
Recente levantamento, feito em presídios paulistas, revelou que
parte considerável dos internos provinha de famílias com bom padrão
de vida, muitas da classe média alta. Não se trata, portanto, de
miseráveis, que "moram" debaixo de viadutos e se vestem de
farrapos.
São,
na verdade, traficantes de drogas, em busca de "capital"
para financiar seu hediondo "negócio". São viciados, que
assaltam para custear o vício. São jovens que tiveram oportunidades
de estudar, de trabalhar, de conseguir uma profissão que lhes desse
estabilidade e projeção, mas que não as aproveitaram. Consideram o
trabalho coisa para pessoas "inferiores" e julgam ter o
direito natural de se apropriar daquilo que querem mediante
violência. É cinismo, portanto, querer relacionar a criminalidade à
longa e crescente crise social que assola o País. Quem estabelece
essa relação (e são muitos!), está sendo injusto com os
verdadeiros excluídos, que mesmo vítimas de uma sociedade egoísta
e desajustada, não assaltam, não sequestram e nem matam ninguém.
Basta
de cinismo, portanto, sociólogos de botequim! Chega de impunidade!
Parem de inverter os valores e de considerar os agressores como
vítimas e estas como as responsáveis pelas agressões que recebem!
Reage, Campinas! A cidade tem que voltar a ser polo de cultura, de
ciência e de alta tecnologia e nunca mais a "capital do crime
organizado", título que tanto humilha e que tanto oprime e
apavora sua população!
(Editorial
da Folha do Taquaral de 5 de novembro de 2001).
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