Friday, April 06, 2018

DIRETO DO ARQUIVO - Cenário está montado


Cenário está montado


Pedro J. Bondaczuk


O cenário para a maior eleição da história brasileira --- quer em número de eleitores (94.768.404), quer em vagas em disputa (1.668 cargos públicos) ou em quantidade de candidatos (mais de 25 mil, de oito partidos e várias coligações) --- está quase pronto.

As campanhas chegam ao momento decisivo em que, quem tiver poder de persuasão e capacidade de influenciar a opinião alheia certamente vai queimar todos os cartuchos. Mais de 2,5 milhões de cidadãos já receberam a convocação da justiça eleitoral, para trabalhar na coleta e posterior apuração de votos.

O custo dessa gigantesca convocação às urnas ascende a US$ 160 milhões. Tanto esforço e dispêndio terão valido a pena somente se o processo desenvolver-se de forma livre, ordenada e sobretudo consciente.

O ideal seria que não houvesse a obrigatoriedade de votar. Que apenas fossem convocados ao exercício soberano do voto os que desejassem exercer esse direito, quando cientes da sua importância e da sua validade. Observadores esperam considerável taxa de abstenção por todo o País, embora quem deixar de comparecer às respectivas seções eleitorais, sem a correspondente justificativa, esteja sujeito a uma série de penalidades.

Não é de se estranhar que isso ocorra. Apesar da campanha de conscientização, empreendida por diversas instituições (como a Ordem dos Advogados do Brasil) e pela imprensa, prevê-se que, a exemplo do que já aconteceu em 1989, se registre grande índice de omissão. Ou seja, há a expectativa de quantidade razoável de votos brancos ou nulos. É uma pena.

Só poderemos empreender as mudanças de que o País tanto necessita de dentro para fora. A partir do comportamento de cada cidadão. É preciso que o brasileiro se conscientize que o processo democrático não se esgota com as eleições. Pelo contrário: começa com elas.

A cidadania, de fato, apenas será exercida na medida em que participarmos ativamente da vida política e social do Brasil. O voto nada mais é do que uma procuração para que alguém aja (no caso de funções executivas) ou legisle em nosso nome. Temos o direito e a obrigação de cobrar uma representatividade exercida com lisura, com honestidade e com senso cívico.

Quando nos calamos diante de determinados atos de nossos representantes, estamos nos mostrando coniventes com eles. Somos cúmplices dos eventuais deslizes que venham a cometer. O nosso silêncio equivale ao pleno consentimento às suas ações ou omissões (como o não comparecimento ao Congresso para debater e votar as leis necessárias para o bom andamento do País). Por isso, diz a lógica, temos que mostrar muito critério na escolha e muita diligência na cobrança. Precisamos votar com consciência e cobrar com constância.

Fala-se numa ampla renovação do Congresso, o que faz sentido, diante do que ocorreu na presente legislatura. Mas não basta trocar o "seis pelo meia dúzia". É preciso critério, reflexão e lógica. O voto deve ser dado sem preconceitos.

Os que se mostraram depositários infiéis da confiança popular, têm que ser punidos com o ostracismo. Mas quem atuou, compareceu às sessões, apresentou projetos, enfim, trabalhou, merece ser reconduzido ao cargo, não importa quantos anos o esteja exercendo. Que se mude, sim, o Legislativo, mas onde ele requer mudança e sempre para melhor.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de setembro de 1994).



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