Cenário está montado
Pedro J. Bondaczuk
O cenário para a maior
eleição da história brasileira --- quer em número de eleitores
(94.768.404), quer em vagas em disputa (1.668 cargos públicos) ou em
quantidade de candidatos (mais de 25 mil, de oito partidos e várias
coligações) --- está quase pronto.
As campanhas chegam ao momento
decisivo em que, quem tiver poder de persuasão e capacidade de
influenciar a opinião alheia certamente vai queimar todos os
cartuchos. Mais de 2,5 milhões de cidadãos já receberam a
convocação da justiça eleitoral, para trabalhar na coleta e
posterior apuração de votos.
O custo dessa gigantesca
convocação às urnas ascende a US$ 160 milhões. Tanto esforço e
dispêndio terão valido a pena somente se o processo desenvolver-se
de forma livre, ordenada e sobretudo consciente.
O ideal seria que não
houvesse a obrigatoriedade de votar. Que apenas fossem convocados ao
exercício soberano do voto os que desejassem exercer esse direito,
quando cientes da sua importância e da sua validade. Observadores
esperam considerável taxa de abstenção por todo o País, embora
quem deixar de comparecer às respectivas seções eleitorais, sem a
correspondente justificativa, esteja sujeito a uma série de
penalidades.
Não é de se estranhar que
isso ocorra. Apesar da campanha de conscientização, empreendida por
diversas instituições (como a Ordem dos Advogados do Brasil) e pela
imprensa, prevê-se que, a exemplo do que já aconteceu em 1989, se
registre grande índice de omissão. Ou seja, há a expectativa de
quantidade razoável de votos brancos ou nulos. É uma pena.
Só poderemos empreender as
mudanças de que o País tanto necessita de dentro para fora. A
partir do comportamento de cada cidadão. É preciso que o brasileiro
se conscientize que o processo democrático não se esgota com as
eleições. Pelo contrário: começa com elas.
A cidadania, de fato, apenas
será exercida na medida em que participarmos ativamente da vida
política e social do Brasil. O voto nada mais é do que uma
procuração para que alguém aja (no caso de funções executivas)
ou legisle em nosso nome. Temos o direito e a obrigação de cobrar
uma representatividade exercida com lisura, com honestidade e com
senso cívico.
Quando nos calamos diante de
determinados atos de nossos representantes, estamos nos mostrando
coniventes com eles. Somos cúmplices dos eventuais deslizes que
venham a cometer. O nosso silêncio equivale ao pleno consentimento
às suas ações ou omissões (como o não comparecimento ao
Congresso para debater e votar as leis necessárias para o bom
andamento do País). Por isso, diz a lógica, temos que mostrar muito
critério na escolha e muita diligência na cobrança. Precisamos
votar com consciência e cobrar com constância.
Fala-se numa ampla renovação
do Congresso, o que faz sentido, diante do que ocorreu na presente
legislatura. Mas não basta trocar o "seis pelo meia dúzia".
É preciso critério, reflexão e lógica. O voto deve ser dado sem
preconceitos.
Os que se mostraram
depositários infiéis da confiança popular, têm que ser punidos
com o ostracismo. Mas quem atuou, compareceu às sessões, apresentou
projetos, enfim, trabalhou, merece ser reconduzido ao cargo, não
importa quantos anos o esteja exercendo. Que se mude, sim, o
Legislativo, mas onde ele requer mudança e sempre para melhor.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de setembro de 1994).
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