Omissão ameaça campineiro
Pedro
J. Bondaczuk
O velho princípio de que
prevenir é melhor do que remediar se transformou, em Campinas, pelo
menos no que diz respeito à segurança de seus edifícios, em mero
velho e surrado clichê. No espaço exato de uma semana, dois grandes
incêndios atingiram a área central da cidade, que só não
resultaram em tragédias, com grandes perdas de vidas humanas, por
fruto do acaso e pela ação competente dos bombeiros.
Não é de hoje que os
campineiros vêm sendo ameaçados por desastres desse tipo,
perfeitamente evitáveis se regrinhas simples, ditadas pelo bom
senso, forem respeitadas.
Sem falar na tragédia do Cine
Rinque, a Boate Cangaceiro, o Hipermercado Eldorado, o Eden Bar e as
instalações das Casas Bahia pegaram fogo em tempos recentes, apenas
para citar alguns casos, e quase todas as ocorrências tiveram elo em
comum: a inobservância de normas mínimas de segurança.
Muitos outros prédios estão
expostos ao perigo diante da burocracia que existe e de uma
legislação inadequada no sentido da interdição dos locais de
maiores riscos.
A Comissão de Vistoria e
Prevenção contra Incêndio e Pânico, em recente avaliação,
apurou, por exemplo, que 10% dos imóveis vistoriados têm as cargas
de seus extintores vencidas. Quase todos apresentam fiação elétrica
em péssimo estado e, em muitos deles, materiais inflamáveis são
guardados em compartimentos de alta tensão, numa omissão criminosa
por parte dos seus responsáveis (ou irresponsáveis?).
A segurança, ressalte-se, não
compete apenas ao poder público mas, e principalmente, aos
administradores desses edifícios. Afinal, o patrimônio é deles e a
eles compete zelar pela vida e pela integridade dos seus moradores
ou, no caso de se tratar de imóvel comercial, do público que o
frequenta.
Tanto abuso, tanta omissão,
tanta irresponsabilidade expõem a população a uma autêntica
"roleta russa". Pelo andar da carruagem, e Deus queira que
isso não ocorra, não está longe o dia em que a cidade vai viver o
seu "inferno na torre", ter seu próprio caso Joelma, o
edifício paulistano que se incendiou em 1º de fevereiro de 1974 e
consumiu 188 vidas humanas, que poderiam ter sido salvas caso
autoridades, administradores do prédio, moradores e usuários
tivessem a devida preocupação com o óbvio: a própria segurança e
a dos seus semelhantes.
(Editorial publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de fevereiro de 1994).
No comments:
Post a Comment