Válvulas
de escape
Pedro J. Bondaczuk
As
transformações encabeçadas pelo presidente soviético, Mikhail Gorbachev, por
enquanto atingiram somente a três países do Leste da Europa: a própria URSS, a
Polônia e a Hungria. Os outros quatro, Checoslováquia, Romênia, Bulgária e
Alemanha Oriental, teimam em manter um centralismo visivelmente falido, em
termos de economia, e um sistema monopartidário claramente ultrapassado, em
política.
Por
isso, seguem na contramão da história, aumentando a frustração e os sofrimentos
de seus respectivos povos e alimentando os terríveis monstros do
descontentamento e até do desespero, para o futuro. Podem, portanto, ser
devorados por eles. Impedem, com isso, que as indispensáveis transformações
aconteçam sem traumas e sem violências. Sem que no futuro precisem lançar mão
do expediente utilizado pelos chineses, que não souberam administrar o processo
liberalizante e tiveram que apelar para os tanques e a truculência,
responsáveis pelo lamentável e criminoso banho de sangue na Praça da Paz
Celestial.
É
evidente que mudanças, como as que estão ocorrendo na União Soviética, Polônia
e Hungria, nem sempre tendem a ser pacíficas. Afinal, esses povos tiveram que
amargar anos e mais anos de frustrações, de prepotência e de repressão. Precisaram
recalcar seus sentimentos e anseios de liberdade, represados ao longo de
décadas e mais décadas.
Gerações
foram criadas sob um sistema truculento, que punia, com severidade, os que não
lessem pela sua cartilha. Por isso, Gorbachev tem mostrado uma exemplar
serenidade diante de distúrbios de caráter étnico, de greves devastadoras e de
contestações de toda a sorte em seu país.
Ele
sabe que é preciso abrir as válvulas para liberar o excesso de pressão
acumulado durante tanto tempo, sob o risco da "caldeira" vir a
explodir, numa reação caótica, que destruiria, fatalmente, a federação
soviética. Daí a sua paciência, ou estratégia.
O
chefe do Cremlin, por exemplo, acaba de passar em outro teste, ao não fazer
ameaças e nem reprimendas à Polônia, que entregou a chefia de um governo a um
primeiro-ministro não comunista, fato que ocorre pela primeira vez no
pós-guerra na "galáxia" que orbita em torno de Moscou.
É
verdade que ele recebeu garantias de que os poloneses não deixariam o Pacto de
Varsóvia. Mas de qualquer forma, o presidente soviético agiu, na prática, de
uma maneira que seus antecessores sempre pregaram, quando se tratava de
"feudos" alheios, mas que nunca empregaram no seu próprio: não
interferiu (pelo menos de forma ostensiva) nos assuntos internos de outra
nação. Mesmo que esta fosse um simples "satélite" seu.
(Artigo
publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 22 de agosto de
1989).
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