Sunday, August 07, 2016

O cartel do café da manhã


Pedro J. Bondaczuk


O tema que versa sobre concorrência e competitividade precisa vir com freqüência à baila, principalmente numa ocasião em que o governo começa a liberar preços de diversos setores e se fala tanto em livre mercado.

Anteontem, por exemplo, os fregueses de uma padaria em Sapopemba, São Paulo, conforme informou a imprensa, tiveram um motivo a mais para acreditar que competir ainda é uma prática que muita gente teima em não assimilar. O estabelecimento foi um dos primeiros a vender o pãozinho abaixo da tabela em todo o Brasil. Ontem, todavia, seu proprietário afixou um cartaz junto ao balcão explicando que, pressionado pelos concorrentes, foi forçado a cobrar o que todos estavam cobrando!

Se somos contrários a congelamentos de preços e a tabelamentos aleatórios de produtos, igualmente temos que nos opor ao tipo de pressão sofrido pelo dono da padaria de Sapopemba que por razões pessoais decidiu beneficiar o consumidor.

Afinal, ninguém tem o direito de interferir em sua atividade, desde que ela seja legal (e no caso, é). O estabelecimento é dele e o comerciante deveria poder fazer o que quisesse em seu interior. Mesmo vender suas mercadorias com prejuízos – desde que isso não se destinasse a sufocar e acabar com a concorrência, no processo conhecido como “dumping” – e até encerrar o seu negócio. Está aí, portanto, caracterizado um caso clássico de cartelização. Tal procedimento, é claro, inviabiliza qualquer tentativa de estabelecimento de um mercado livre.

Não aprendemos, portanto, sequer o “beabá” do mundo do comércio, atado a vícios que vêm de longa data, e que contribuíram para que nossa economia ficasse tão desarrumada quanto está. Essa geração, particularmente, parece ter perdido o gosto pela competição.

Os reflexos podem ser sentidos em diversos campos de atividade, inclusive nos esportes, onde têm sido freqüentes os vexames dados no Exterior por nossos clubes e seleções nas mais variadas modalidades, futebol, basquete, vôlei e vai por aí afora.

Claro que há as exceções, por isso elas são notadas. Não temos uma economia de escala, ou seja, a caracterizada pela obtenção de elevada lucratividade na produção e venda de grandes quantidades de produtos a baixo preço. O caminho seguido na maioria das vezes é o diametralmente oposto: a venda de poucas unidades a custos muitas vezes extorsivos.

Com isso, o mercado permanece invariavelmente do mesmo tamanho, quando não acaba se encolhendo, diante de períodos recessivos, muito freqüentes num quadro econômico até ilógico, por contrariar a tendência mundial, inclusive do Leste europeu, com a União Soviética no meio.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de julho de 1990).


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