O cartel do café da manhã
Pedro J.
Bondaczuk
O tema que versa sobre concorrência e competitividade
precisa vir com freqüência à baila, principalmente numa ocasião em que o
governo começa a liberar preços de diversos setores e se fala tanto em livre
mercado.
Anteontem, por exemplo, os
fregueses de uma padaria em Sapopemba, São Paulo, conforme informou a imprensa,
tiveram um motivo a mais para acreditar que competir ainda é uma prática que
muita gente teima em não assimilar. O estabelecimento foi um dos primeiros a
vender o pãozinho abaixo da tabela em todo o Brasil. Ontem, todavia, seu
proprietário afixou um cartaz junto ao balcão explicando que, pressionado pelos
concorrentes, foi forçado a cobrar o que todos estavam cobrando!
Se somos contrários a congelamentos
de preços e a tabelamentos aleatórios de produtos, igualmente temos que nos
opor ao tipo de pressão sofrido pelo dono da padaria de Sapopemba que por
razões pessoais decidiu beneficiar o consumidor.
Afinal, ninguém tem o direito de
interferir em sua atividade, desde que ela seja legal (e no caso, é). O
estabelecimento é dele e o comerciante deveria poder fazer o que quisesse em
seu interior. Mesmo vender suas mercadorias com prejuízos – desde que isso não
se destinasse a sufocar e acabar com a concorrência, no processo conhecido como
“dumping” – e até encerrar o seu negócio. Está aí, portanto, caracterizado um
caso clássico de cartelização. Tal procedimento, é claro, inviabiliza qualquer
tentativa de estabelecimento de um mercado livre.
Não aprendemos, portanto, sequer
o “beabá” do mundo do comércio, atado a vícios que vêm de longa data, e que
contribuíram para que nossa economia ficasse tão desarrumada quanto está. Essa
geração, particularmente, parece ter perdido o gosto pela competição.
Os reflexos podem ser sentidos em
diversos campos de atividade, inclusive nos esportes, onde têm sido freqüentes
os vexames dados no Exterior por nossos clubes e seleções nas mais variadas
modalidades, futebol, basquete, vôlei e vai por aí afora.
Claro que há as exceções, por
isso elas são notadas. Não temos uma economia de escala, ou seja, a
caracterizada pela obtenção de elevada lucratividade na produção e venda de
grandes quantidades de produtos a baixo preço. O caminho seguido na maioria das
vezes é o diametralmente oposto: a venda de poucas unidades a custos muitas
vezes extorsivos.
Com isso, o mercado permanece
invariavelmente do mesmo tamanho, quando não acaba se encolhendo, diante de
períodos recessivos, muito freqüentes num quadro econômico até ilógico, por
contrariar a tendência mundial, inclusive do Leste europeu, com a União
Soviética no meio.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de
julho de 1990).
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