Lucro fica com mercadores de armas
Pedro J.
Bondaczuk
O pior conflito regional registrado desde o fim da Segunda
Guerra Mundial está chegando ao fim, com o anúncio, feito ontem, em Nova York,
de que o cessar-fogo no Golfo Pérsico vai
entrar em vigor no dia 20 próximo. Agora é hora dos dois beligerantes
fazerem as suas contas e contabilizarem os imensos prejuízos que tiveram num
confronto que, mesmo tendo menor duração, causou um número de vítimas bem
superior do que o do Vietnã.
E no Sudeste asiático havia uma
superpotência envolvida, os Estados Unidos, contando com armas sofisticadas e
realizando bombardeios de saturação contra o território norte-vietnamita como
poucas vezes se viu na história.
Ainda assim, essa guerra fez
menos vítimas do que a do Golfo. Os dois países somente conseguiram, com a sua
intransigência e teimosia (e com a complacência de praticamente toda a
comunidade internacional) um saldo raramente visto antes de dor, miséria e
devastação.
Essa conflagração foi
particularmente perversa por envolver táticas de praticamente todos os
conflitos deste século. Por exemplo, o uso de armas químicas, pelos dois lados,
que estão proibidas desde a Convenção de Genebra de 1925. A utilização mútua de
mísseis, para alvejar populações civis. O intenso ataque das partes às frotas
mercantes de países que nada tinham a ver com as hostilidades de iranianos e
iraquianos. Os maus-tratos a prisioneiros de guerra, por parte de ambos os
lados. E até a utilização de guerrilhas, com os persas explorando a animosidade
dos curdos contra o Iraque e este se valendo dos guerrilheiros do Mujaheddin
Khalk para atacar a República Islâmica.
Foi apenas por um milagre que
outros países, do Golfo ou de fora dele, não entraram na conflagração,
principalmente as superpotências. A sorte foi que na fase mais agitada das
hostilidades, a União Soviética já estava passando por um processo agudo de
transformação, que vem se refletindo, positivamente, por toda a parte, com o
término das mais complicadas questões do nosso tempo (como Angola, Camboja e
Afeganistão) ou, pelo menos, com um encaminhamento para isso.
Estivesse um Leonid Brezhnev à
frente do Cremlin, quando o “USS Stark” foi atacado por mísseis iraquianos, ou
quando o Airbus A-300 iraniano foi abatido pelo cruzador “USS Vincennes”, e
provavelmente o mundo todo estaria metido num magnífico imbróglio.
O saldo final do conflito revela
que ambos os beligerantes, a despeito de saírem com honra da peleja, foram
derrotados. Somente os grandes comerciantes internacionais de armas (essas aves
de rapina que farejam a morte para se alimentar de dólares) é que saíram
ganhando. E muito dinheiro!
Para eles, pouco importam as
viúvas, os órfãos e os mutilados iranianos e iraquianos, que cessados os
clamores de guerra, esquecidas a propaganda militar e as marchas marciais, vão,
certamente, perambular pelas ruas de Teerã e de Bagdá mendigando o seu
sustento. Não é isso o que sempre acontece com os combatentes de todos os
conflitos?
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 9
de agosto de 1988).
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