Proteção do idoso
Pedro J. Bondaczuk
O
presidente Fernando Henrique Cardoso assinou, quarta-feira passada, decreto
regulamentando a Política Nacional do Idoso, questão que deveria merecer maior
atenção não apenas do Poder Público, mas da sociedade, dada a sua relevância e
abrangência.
Ainda
está fresca na memória a tragédia da Clínica Santa Genoveva, em Santa Teresa,
no Rio de Janeiro, em que 99 pacientes, todos de idade avançada, morreram em
conseqüência do desleixo no seu atendimento, 27 dos quais por causa de infecção
intestinal causada por comida estragada e água contaminada.
Infelizmente
o caso não é o único, embora seja o mais trágico. Episódios de maus tratos a
pessoas que deram sua valiosa contribuição à comunidade e que no fim da vida se
vêem relegadas a asilos que mais parecem depósitos de gente, ao descaso, ao
abandono e até à exploração, há em profusão. E não somente envolvendo anciões
doentes.
O
programa regulamentado pelo presidente pode, de fato, significar um avanço,
desde que não se restrinja ao papel. Mas a questão do idoso no Brasil é
sobretudo cultural. Durante anos nos acostumamos com a afirmação de que este
era um país jovem. Não é mais. Por conseqüência, tudo se fazia em função da
juventude. Só que o brasileiro envelheceu.
Em
2025 --- em somente 28 anos --- 15% da população brasileira terá mais do que 65
anos. Seremos 32 milhões de idosos nessa ocasião. O Brasil será, então, o sexto
país mais velho do mundo. O que não for feito hoje, no sentido de garantir a
segurança, o conforto, a saúde e sobretudo a dignidade das pessoas de idade
mais avançada, vai se refletir, no futuro, sobre o jovem de hoje (o velho de
amanhã).
Em
vez de medidas paliativas, o que se faz necessário é uma aposentadoria decente
e honesta, que garanta a segurança econômica aos que deram tanta contribuição
para o desenvolvimento do País. Os idosos precisam ser valorizados pelo que
são, enquanto seres humanos. Não querem ser dependentes, tutelados e nem
tratados como estorvos. Querem oportunidades para mostrar o quanto valem.
Não
há limites para a produtividade e a criatividade humanas. Há inúmeros casos de
pessoas em idade avançada que foram ou ainda são ativas, vibrantes, produtivas
e competentes. Mas elas tiveram oportunidades.
Como
Octavio Paz, por exemplo, que octogenário, ganhou um Prêmio Nobel. Como Agatha
Christie, que depois dos 70 se tornou best-seller mundial com seus livros de
histórias policiais. Como Barbosa Lima Sobrinho, Sobral Pinto, Otávio Gouveia
de Bulhões, Jorge Amado, Zélia Gatai e tantos e tantos outros homens e mulheres
que nunca se deixaram abater pelo tempo. Oportunidade e motivação: é disso que
os idosos precisam e não de assistencialismo.
(Artigo
publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 5 de julho de 1997)
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