Friday, August 26, 2016

Proteção do idoso


Pedro J. Bondaczuk


O presidente Fernando Henrique Cardoso assinou, quarta-feira passada, decreto regulamentando a Política Nacional do Idoso, questão que deveria merecer maior atenção não apenas do Poder Público, mas da sociedade, dada a sua relevância e abrangência.

Ainda está fresca na memória a tragédia da Clínica Santa Genoveva, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, em que 99 pacientes, todos de idade avançada, morreram em conseqüência do desleixo no seu atendimento, 27 dos quais por causa de infecção intestinal causada por comida estragada e água contaminada.

Infelizmente o caso não é o único, embora seja o mais trágico. Episódios de maus tratos a pessoas que deram sua valiosa contribuição à comunidade e que no fim da vida se vêem relegadas a asilos que mais parecem depósitos de gente, ao descaso, ao abandono e até à exploração, há em profusão. E não somente envolvendo anciões doentes.

O programa regulamentado pelo presidente pode, de fato, significar um avanço, desde que não se restrinja ao papel. Mas a questão do idoso no Brasil é sobretudo cultural. Durante anos nos acostumamos com a afirmação de que este era um país jovem. Não é mais. Por conseqüência, tudo se fazia em função da juventude. Só que o brasileiro envelheceu.

Em 2025 --- em somente 28 anos --- 15% da população brasileira terá mais do que 65 anos. Seremos 32 milhões de idosos nessa ocasião. O Brasil será, então, o sexto país mais velho do mundo. O que não for feito hoje, no sentido de garantir a segurança, o conforto, a saúde e sobretudo a dignidade das pessoas de idade mais avançada, vai se refletir, no futuro, sobre o jovem de hoje (o velho de amanhã).

Em vez de medidas paliativas, o que se faz necessário é uma aposentadoria decente e honesta, que garanta a segurança econômica aos que deram tanta contribuição para o desenvolvimento do País. Os idosos precisam ser valorizados pelo que são, enquanto seres humanos. Não querem ser dependentes, tutelados e nem tratados como estorvos. Querem oportunidades para mostrar o quanto valem.

Não há limites para a produtividade e a criatividade humanas. Há inúmeros casos de pessoas em idade avançada que foram ou ainda são ativas, vibrantes, produtivas e competentes. Mas elas tiveram oportunidades.

Como Octavio Paz, por exemplo, que octogenário, ganhou um Prêmio Nobel. Como Agatha Christie, que depois dos 70 se tornou best-seller mundial com seus livros de histórias policiais. Como Barbosa Lima Sobrinho, Sobral Pinto, Otávio Gouveia de Bulhões, Jorge Amado, Zélia Gatai e tantos e tantos outros homens e mulheres que nunca se deixaram abater pelo tempo. Oportunidade e motivação: é disso que os idosos precisam e não de assistencialismo.


(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 5 de julho de 1997)


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