Wednesday, August 10, 2016

Self-made man


Pedro J. Bondaczuk


O caminho para o sucesso é estreito e acidentado e poucas, pouquíssimas pessoas conseguem atingir os objetivos que traçaram para suas vidas. As atuais Olimpíadas são exemplo disso. Reúnem mais de cinco mil atletas, de dezenas de modalidades e centenas de países, todos com o mesmo objetivo: vencer. Todavia, apenas uma pequena quantidade deles chegará lá. A vida é assim, não importa em que atividade se pretende obter êxito.   As pessoas que conseguem a façanha de chegar “ao cume da montanha”, todavia, não raro se decepcionam com o fato da realidade ser muito aquém das suas delirantes fantasias.

E qual é a meta suprema da maioria dos mortais? Quem respondeu a fortuna, ganhou, de prêmio, uma viagem para a Síria e um bônus para o Afeganistão. Brincadeiras a parte, podemos constatar, com facilidade, sem qualquer esforço, que desde o mais abastado dos indivíduos, proprietário de bilhões de dólares e de riquezas sem fim, ao indigente que, oprimido pela fome e pela desnutrição, delira e elabora fantasias mirabolantes em torno, por exemplo, de um imaginário prêmio de loteria, todos querem a mesma coisa: ter, ter e ter, o máximo que puderem. Não é o objetivo primário dos atletas olímpicos. Mas no fundo, no fundo, eles também sonham com isso. É parte da natureza humana.

Não vem ao caso, aqui, considerar se esse objetivo é correto ou equivocado e muito menos as razões do acerto ou do erro. O aspecto que trago hoje à reflexão do paciente leitor não é este. Ouço, a todo o momento, por aí, a afirmação de que, através do trabalho, ninguém consegue chegar à fortuna. Discordo.

Admito que seja uma ocorrência raríssima, mas conheço diversos casos em que isso ocorreu. Igual a mim pensa, por exemplo, boa parte dos norte-americanos. A quantidade dos chamados “self-made men” nos Estados Unidos, de onde procede a maioria dos milionários da atualidade, é, provavelmente, a maior do mundo. E esses “bafejados pela fortuna”, que arrancaram o que têm graças ao seu talento, à sua autodisciplina, à sua persistência e ao seu trabalho, sentem imenso orgulho em declarar, sempre que têm oportunidade, a origem das suas riquezas.

Tanto que biografias e mais biografias a seu respeito são produzidas com fartura, muitas das quais se transformam em best-sellers que, por conseqüência, engordam ainda mais suas quilométricas contas bancárias. Manuais e mais manuais de auto-ajuda, que se propõem a ensinar o caminho das pedras, ou seja, como se deve fazer para alcançar o sucesso e a fortuna, esgotam edições e mais edições e são traduzidos para várias línguas.

Ninguém gosta da miséria, nem o mais despojado dos ermitões, embora muitos a citem como virtude. Não vejo por que! Da minha parte, embora a riqueza não seja exatamente o valor que mais preze e que me mova, nada tenho, pessoalmente, contra ela. Nem contra os ricos. O que condeno neles são os comportamentos que, via de regra, acompanham suas fortunas, como a arrogância, a prepotência, a avareza, o egoísmo, a ostentação, o desperdício e tantas e tantas e tantas outras maneiras de afronta aos desafortunados.

Tornou-se célebre a afirmação do carnavalesco paraense, que se consagrou, por sua criatividade, no Carnaval do Rio de Janeiro, o saudoso Joãozinho Trinta, que disse: “Quem gosta de miséria é intelectual. Pobre aprecia a suntuosidade e a ostentação”. Claro que ele estava certo. Isto faz parte, reitero, da própria natureza humana.

É óbvio que a fortuna não deve ser o único ideal de qualquer pessoa, por pior que seja o seu caráter e por mais curta que seja a sua inteligência. E já nem cito a principal razão, qual seja, a do teor da mensagem do ex-atleta, bicampeão olímpico de corridas de meio-fundo e presidente do Comitê Olímpico do Quênia, Kip Keino, que lembrou, na cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro: “como mortais, nascemos sem termos absolutamente nada e deixaremos este mundo da mesma forma como entramos nele: nus, sem coisa alguma do que, em vida, consideramos que seja nosso”.

Quem coloca a riqueza como meta exclusiva de vida é candidato infalível a monumentais frustrações. Se não conseguir seu intento (o que é quase certo de acontecer), os motivos de decepção são evidentes.

Se tiver sucesso, mas não souber o que fazer com o que tenha amealhado, logo haverá de perceber que apenas a riqueza não é capaz de satisfazer seus desejos mais profundos, que não sejam os de caráter meramente material. Refiro-me aos espirituais, muitos tão sutis e secretos, que nem a própria pessoa sabe, com certeza, quais são.

Criticados ou endeusados, porém, o fato é que esses seres bafejados pela fortuna – os Bill Gates, os Paul Gettys, os Rothschilds, os Schlumbergers, os Rockfellers, os Guggenheims, os Carneggies etc.etc.etc. da vida – são imitados, invejados e despertam profundo fascínio nas multidões. Principalmente os considerados “self-made men”, que desbravaram seus caminhos com ousadia e competência (não raro, com esperteza) e chegaram ao topo da montanha dos seus sonhos. Prova disso é o sucesso das publicações voltadas para a divulgação das suas festas magnificentes, das suas mansões, dos seus iates, das suas amantes, dos escândalos (verdadeiros ou inventados) em que se envolvem e de tudo, enfim, o que lhes diga respeito.

Não há, convenhamos, quem não se coloque no lugar desses afortunados, pelo menos uma vez na vida, em suas mais secretas fantasias. Mesmo (ou principalmente) os que negam isso com maior ênfase que, provavelmente, são os que mais ambicionam a fortuna e a conseqüente notoriedade. Raros, raríssimos não agem como o Fausto, de Johann Wolfgang Göethe. A maioria, como esse personagem, vende a alma a Mefistófeles e se esquece que um dia o comprador irá reclamar aquilo que adquiriu. Mas então...        


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