Self-made man
Pedro
J. Bondaczuk
O caminho para o
sucesso é estreito e acidentado e poucas, pouquíssimas pessoas conseguem
atingir os objetivos que traçaram para suas vidas. As atuais Olimpíadas são
exemplo disso. Reúnem mais de cinco mil atletas, de dezenas de modalidades e
centenas de países, todos com o mesmo objetivo: vencer. Todavia, apenas uma
pequena quantidade deles chegará lá. A vida é assim, não importa em que
atividade se pretende obter êxito. As
pessoas que conseguem a façanha de chegar “ao cume da montanha”, todavia, não
raro se decepcionam com o fato da realidade ser muito aquém das suas delirantes
fantasias.
E qual é a meta suprema
da maioria dos mortais? Quem respondeu a fortuna, ganhou, de prêmio, uma viagem
para a Síria e um bônus para o Afeganistão. Brincadeiras a parte, podemos
constatar, com facilidade, sem qualquer esforço, que desde o mais abastado dos
indivíduos, proprietário de bilhões de dólares e de riquezas sem fim, ao
indigente que, oprimido pela fome e pela desnutrição, delira e elabora
fantasias mirabolantes em torno, por exemplo, de um imaginário prêmio de
loteria, todos querem a mesma coisa: ter, ter e ter, o máximo que puderem. Não
é o objetivo primário dos atletas olímpicos. Mas no fundo, no fundo, eles
também sonham com isso. É parte da natureza humana.
Não vem ao caso, aqui,
considerar se esse objetivo é correto ou equivocado e muito menos as razões do
acerto ou do erro. O aspecto que trago hoje à reflexão do paciente leitor não é
este. Ouço, a todo o momento, por aí, a afirmação de que, através do trabalho,
ninguém consegue chegar à fortuna. Discordo.
Admito que seja uma
ocorrência raríssima, mas conheço diversos casos em que isso ocorreu. Igual a
mim pensa, por exemplo, boa parte dos norte-americanos. A quantidade dos
chamados “self-made men” nos Estados Unidos, de onde procede a maioria dos
milionários da atualidade, é, provavelmente, a maior do mundo. E esses
“bafejados pela fortuna”, que arrancaram o que têm graças ao seu talento, à sua
autodisciplina, à sua persistência e ao seu trabalho, sentem imenso orgulho em
declarar, sempre que têm oportunidade, a origem das suas riquezas.
Tanto que biografias e
mais biografias a seu respeito são produzidas com fartura, muitas das quais se
transformam em best-sellers que, por conseqüência, engordam ainda mais suas
quilométricas contas bancárias. Manuais e mais manuais de auto-ajuda, que se
propõem a ensinar o caminho das pedras, ou seja, como se deve fazer para
alcançar o sucesso e a fortuna, esgotam edições e mais edições e são traduzidos
para várias línguas.
Ninguém gosta da
miséria, nem o mais despojado dos ermitões, embora muitos a citem como virtude.
Não vejo por que! Da minha parte, embora a riqueza não seja exatamente o valor
que mais preze e que me mova, nada tenho, pessoalmente, contra ela. Nem contra
os ricos. O que condeno neles são os comportamentos que, via de regra,
acompanham suas fortunas, como a arrogância, a prepotência, a avareza, o
egoísmo, a ostentação, o desperdício e tantas e tantas e tantas outras maneiras
de afronta aos desafortunados.
Tornou-se célebre a
afirmação do carnavalesco paraense, que se consagrou, por sua criatividade, no
Carnaval do Rio de Janeiro, o saudoso Joãozinho Trinta, que disse: “Quem gosta
de miséria é intelectual. Pobre aprecia a suntuosidade e a ostentação”. Claro
que ele estava certo. Isto faz parte, reitero, da própria natureza humana.
É óbvio que a fortuna
não deve ser o único ideal de qualquer pessoa, por pior que seja o seu caráter
e por mais curta que seja a sua inteligência. E já nem cito a principal razão,
qual seja, a do teor da mensagem do ex-atleta, bicampeão olímpico de corridas
de meio-fundo e presidente do Comitê Olímpico do Quênia, Kip Keino, que
lembrou, na cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro: “como
mortais, nascemos sem termos absolutamente nada e deixaremos este mundo da
mesma forma como entramos nele: nus, sem coisa alguma do que, em vida,
consideramos que seja nosso”.
Quem coloca a riqueza
como meta exclusiva de vida é candidato infalível a monumentais frustrações. Se
não conseguir seu intento (o que é quase certo de acontecer), os motivos de
decepção são evidentes.
Se tiver sucesso, mas
não souber o que fazer com o que tenha amealhado, logo haverá de perceber que
apenas a riqueza não é capaz de satisfazer seus desejos mais profundos, que não
sejam os de caráter meramente material. Refiro-me aos espirituais, muitos tão
sutis e secretos, que nem a própria pessoa sabe, com certeza, quais são.
Criticados ou endeusados,
porém, o fato é que esses seres bafejados pela fortuna – os Bill Gates, os Paul
Gettys, os Rothschilds, os Schlumbergers, os Rockfellers, os Guggenheims, os
Carneggies etc.etc.etc. da vida – são imitados, invejados e despertam profundo
fascínio nas multidões. Principalmente os considerados “self-made men”, que
desbravaram seus caminhos com ousadia e competência (não raro, com esperteza) e
chegaram ao topo da montanha dos seus sonhos. Prova disso é o sucesso das
publicações voltadas para a divulgação das suas festas magnificentes, das suas
mansões, dos seus iates, das suas amantes, dos escândalos (verdadeiros ou
inventados) em que se envolvem e de tudo, enfim, o que lhes diga respeito.
Não há, convenhamos,
quem não se coloque no lugar desses afortunados, pelo menos uma vez na vida, em
suas mais secretas fantasias. Mesmo (ou principalmente) os que negam isso com
maior ênfase que, provavelmente, são os que mais ambicionam a fortuna e a
conseqüente notoriedade. Raros, raríssimos não agem como o Fausto, de Johann
Wolfgang Göethe. A maioria, como esse personagem, vende a alma a Mefistófeles e
se esquece que um dia o comprador irá reclamar aquilo que adquiriu. Mas
então...
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