Nova gafe do presidente
Pedro J.
Bondaczuk
O presidente norte-americano, Ronald Reagan, mostrou,
ontem, qual vai ser o tom predominante da campanha presidencial para as
eleições de 8 de novembro próximo. A disputa promete ser das mais agressivas,
por diversos motivos, entre os quais a necessidade dos republicanos de se
defenderem dos vários escândalos surgidos durante a atual administração e que
certamente serão levados aos palanques pelos adversários.
Para complicar, investigadores da
Marinha dos Estados Unidos concluíram que a derrubada do Airbus A-300 da Iran
Air, ocorrida em 3 de julho passado, no Golfo Pérsico, através de um míssil
disparado pelo cruzador “USS Vincennes”, que causou a morte de 290 civis a
bordo, foi falha humana dos membros da tripulação da embarcação. Com tanta
lenha para se fazer uma grande fogueira, não é lícito de se esperar que Reagan
e seu candidato, George Bush, se limitem a se defender.
Por isso, o presidente partiu
para a ofensiva, ontem, e num ponto bastante sensível para a opinião pública.
Ou seja, a condição, ou não, do candidato democrata vir a presidir os Estados
Unidos caso vença as eleições. Ele referiu-se a uma reportagem, publicada
anteontem pelo jornal The Washington Times (não confundir com o renomado The
Washington Post) dando a entender que Michael Dukakis teria sofrido, tempos
atrás, de depressão mental. E que se submeteu a um tratamento para se livrar
desse problema.
É claro que o “staff” de campanha
do governador de Massachusets desmentiu isso. Reagan, no entanto, não se furtou
à tentação de fazer uma piadinha, um gracejo com isso. Aliás, ele sempre foi
infeliz nesse tipo de coisa.
O leitor deve estar lembrado que
em 1985 ele mesmo chegou a dizer, para testar um microfone, antes de um
pronunciamento que faria na Casa Branca, que estava ordenando a destruição da
União Soviética em cinco minutos. Para o seu azar, havia testemunhas por perto.
E a brincadeira, que deveria ter ficado apenas no círculo dos mais íntimos da
Casa Branca, ganhou repercussão inesperada (e obviamente indesejada).
Ontem, o presidente deu a entender que não agrediria a um
“inválido”. Horas depois, retratou-se. Todavia, como no caso de três anos
atrás, suas palavras ganharam asas e foram transmitidas por telex paraa o mundo
todo em simples minutos. Mas ele não perdeu a compostura, mostrando que é mesmo
duro na queda, a despeito das gafes que comete.
Desafiou Dukakis a publicar a sua
ficha médica, para mostrar que é sadio, psicologicamente, para dirigir a maior
potência do Planeta. Esse incidente, porém, deu a dimensão exata do tom que a
campanha presidencial deverá adquirir nas próximas semanas. A propósito, o
governador de Massachusets mostrou o que lhe pediram e provou que o rumor
levantado pelo The Washington Times é totalmente infundado.
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 4
de agosto de 1988).
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