Monday, August 22, 2016

Nova gafe do presidente


Pedro J. Bondaczuk


O presidente norte-americano, Ronald Reagan, mostrou, ontem, qual vai ser o tom predominante da campanha presidencial para as eleições de 8 de novembro próximo. A disputa promete ser das mais agressivas, por diversos motivos, entre os quais a necessidade dos republicanos de se defenderem dos vários escândalos surgidos durante a atual administração e que certamente serão levados aos palanques pelos adversários.

Para complicar, investigadores da Marinha dos Estados Unidos concluíram que a derrubada do Airbus A-300 da Iran Air, ocorrida em 3 de julho passado, no Golfo Pérsico, através de um míssil disparado pelo cruzador “USS Vincennes”, que causou a morte de 290 civis a bordo, foi falha humana dos membros da tripulação da embarcação. Com tanta lenha para se fazer uma grande fogueira, não é lícito de se esperar que Reagan e seu candidato, George Bush, se limitem a se defender.

Por isso, o presidente partiu para a ofensiva, ontem, e num ponto bastante sensível para a opinião pública. Ou seja, a condição, ou não, do candidato democrata vir a presidir os Estados Unidos caso vença as eleições. Ele referiu-se a uma reportagem, publicada anteontem pelo jornal The Washington Times (não confundir com o renomado The Washington Post) dando a entender que Michael Dukakis teria sofrido, tempos atrás, de depressão mental. E que se submeteu a um tratamento para se livrar desse problema.

É claro que o “staff” de campanha do governador de Massachusets desmentiu isso. Reagan, no entanto, não se furtou à tentação de fazer uma piadinha, um gracejo com isso. Aliás, ele sempre foi infeliz nesse tipo de coisa.

O leitor deve estar lembrado que em 1985 ele mesmo chegou a dizer, para testar um microfone, antes de um pronunciamento que faria na Casa Branca, que estava ordenando a destruição da União Soviética em cinco minutos. Para o seu azar, havia testemunhas por perto. E a brincadeira, que deveria ter ficado apenas no círculo dos mais íntimos da Casa Branca, ganhou repercussão inesperada (e obviamente indesejada).

Ontem, o presidente deu a entender que não agrediria a um “inválido”. Horas depois, retratou-se. Todavia, como no caso de três anos atrás, suas palavras ganharam asas e foram transmitidas por telex paraa o mundo todo em simples minutos. Mas ele não perdeu a compostura, mostrando que é mesmo duro na queda, a despeito das gafes que comete.

Desafiou Dukakis a publicar a sua ficha médica, para mostrar que é sadio, psicologicamente, para dirigir a maior potência do Planeta. Esse incidente, porém, deu a dimensão exata do tom que a campanha presidencial deverá adquirir nas próximas semanas. A propósito, o governador de Massachusets mostrou o que lhe pediram e provou que o rumor levantado pelo The Washington Times é totalmente infundado.


(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 4 de agosto de 1988).

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