Tipos inesquecíveis
Pedro
J. Bondaczuk
O professor e pensador
japonês Tsunessaburo Makiguti, primeiro presidente da organização budista Sokka
Gakai Internacional, escreveu: “No mundo existem basicamente três tipos de
pessoas: 1.) Aquelas cuja presença desejamos; 2.) Aquelas cuja presença ou
ausência nos é indiferente e 3.) Aquelas cuja presença é prejudicial,
problemática ou indesejável”.
É possível que não haja
explicação racional para isso. Não, pelo menos, uma que seja absoluta,
conclusiva e lógica. Há quem nos agrade, como amigo, logo ao primeiro olhar. E
existe, em contrapartida, o pólo oposto.
Alguns indivíduos
enchem-nos de satisfação com a simples presença, sem que precisem dizer ou
fazer qualquer coisa, sejam parentes ou não. E nem sempre são os que têm
afinidades conosco. Muitas vezes agem e pensam de forma muito diferente de nós.
E, no entanto, nos são caros. Essa “simpatia” é algo imediato, instintivo,
talvez espiritual.
São essas pessoas –
entre as que já morreram, evidentemente – que nos vêm, com mais força, à
lembrança. Sua influência em nossas vidas foi tão profunda e decisiva, que
permanecem vivas, alegres, sábias e sensatas em nossa memória e nossa estima,
tal como as conhecemos em vida, quase que a todo instante. Portanto, convém que
não sejam lembradas com tristeza, com amargura ou com dor, por mais falta que
nos façam. Conquistaram espaço cativo em nossos corações. Manter-se-ão
incorruptíveis, saudáveis e íntegras em nós, enquanto vivermos.
A perda da companhia
dessas pessoas, porém, deixa-nos um enorme vazio na alma. O poeta Vinícius de
Moraes, com sua sensibilidade mágica, expressou bem esse sentimento numa
crônica que diz, em determinado trecho:
“Ah, meus amigos, não
vos deixeis morrer assim. Ide ver vossos clínicos, vossos analistas, vossos
macumbeiros, e tomai sol, tomai vento, tomai tento, amigos meus...Amai em tempo
integral, nunca sacrificando ao exercício de outros deveres este sagrado amor.
Amai e bebeu uísque. Não digo que bebais em quantidades federais, mas quatro,
cinco uísques por dia nunca fizeram mal a ninguém. Amai, porque nada melhor
para a saúde do que o amor correspondido. Mas sobretudo não morrais, amigos
meus!”
Este era o Vinícius:
sensível, delicado, inteligente, competente para expressar em palavras nossos
mais secretos sentimentos, aqueles que somos impotentes para verbalizar. Apesar
do pungente apelo aos amigos, para que não morressem, morreu antes. Não fez o
que pregou.
Deixou-nos, há já
alguns anos, abrindo uma lacuna, impossível de preencher, na poesia e na música
popular brasileira. Mas cumpriu com dignidade e competência o seu papel. Será
sempre lembrado por esta e pelas vindouras gerações. Como tantos outros
indivíduos especiais, mesmo os que não conhecemos pessoalmente, mas que nos
deixaram a marca do seu exemplo ou a excelência de suas obras o serão, como
Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles, Manuel Bandeira,
Ayrton Senna, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e Burle Marx, apenas para
mencionar alguns que me vêm de imediato à lembrança.
Fosse mencionar todos,
teria que alinhavar, sem nenhum exagero, algumas centenas de milhares de nomes
e ainda assim correria o risco de omitir vários deles. Sem esquecer,
logicamente, dois fantásticos jornalistas, quer acabam de “nos deixar”, após
cumprirem, com competência e dignidade, sua complicada missão: Geneton Moraes
Neto e Goulart de Andrade. Descansem em paz, companheiros de ideal!!!!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment