Imposto inflacionário
Pedro J. Bondaczuk
A
inflação é uma espécie de imposto e dos mais perversos, já que transfere rendas
daqueles que pouco ou nada têm para os que sequer precisam trabalhar para
ficarem ricos. Além de um elevado custo social --- por causa dela, o Brasil tem
hoje 21% de sua população na mais absoluta indigência, perfazendo 32 milhões de
indivíduos --- tem também o financeiro.
Um
estudo do economista Alexandre Barros de Castro, da Fundação Getúlio Vargas,
revela que em 1993 aproximadamente US$ 25 bilhões foram tirados do bolso dos
trabalhadores e daqueles brasileiros que não contam com nenhuma espécie de
proteção social e transferidos para o governo e os bancos.
Analisemos
esta cifra. A priori, ela representa 6% do Produto Interno Bruto do País ---
que é a soma de toda a riqueza que o Brasil, a décima maior economia do mundo,
gera --- sendo, portanto, da maior relevância. Apenas para situar o leitor, a
quantia representa 25% da nossa dívida externa, sabidamente a maior do Terceiro
Mundo.
Barros
de Castro, em seu estudo, conclui que se a inflação, eventualmente, viesse a
ser zerada, a União deixaria de ganhar, em média, 30% por ano. Perderia,
portanto, o que sociólogos e economistas denominam de "imposto
inflacionário", que perfaz, em números redondos, US$ 15 bilhões.
Outros
que sairiam perdendo seriam os bancos. Ficariam privados de cerca de US$ 10
bilhões anuais, de acordo com o economista da FGV. Não compete, aqui, analisar
a fundamentação técnica de Barros de Castro, num castiço "economês".
O que pretendemos mostrar é que, quando políticos afirmam que a inflação
penaliza a todos, sem distinção, estão faltando com a verdade.
Dos
54 tributos que atormentam o cidadão, corroendo seus minguados e achatados
ganhos, o "imposto inflacionário" é o que mais pesa e que em geral é
arcado apenas e tão somente pela população mais pobre, que se vê cada vez mais
empobrecida.
Falar
em miséria, hoje em dia, no Brasil, chega a ser até redundante. Não é sequer
necessário citar dados estatísticos, nacionais ou internacionais, para
comprovar o grau de degradação social que nos atinge. Basta andar, com os olhos
abertos e com o senso crítico aguçado, pelas ruas das grandes e médias cidades
brasileiras para constatar porque o País é o segundo mais injusto do mundo,
perdendo nesse deprimente "ranking" apenas para o pequenino e
desorganizado Botswana, na África.
O
economista da FGV insiste que, quem paga esse custo inflacionário é a população
mais pobre, "que não tem acesso a nenhum mecanismo de proteção do seu
dinheiro contra a corrosão. São brasileiros sem renda suficiente para aplicar
em fundões, caderneta de poupança, certificados de depósitos bancários,
etc.".
Portanto,
a melhor forma de promover o resgate social dos 32 milhões de excluídos da
cidadania é acabar com a inflação. Talvez o estudo de Barros de Castro explique
a razão de tantos planos terem fracassado nos últimos anos. Os que ganham
indevidamente, às custas da fome e da indigência de multidões, sempre sabotaram
e vão sabotar toda e qualquer tentativa que se faça para acabar com essa
aberração econômica, que foi a principal causa da ruína do Império Romano e que
coloca o Brasil contemporâneo no mesmo patamar de países africanos e asiáticos
como Burkina Faso, Somália, Etiópia, Afeganistão ou Angola.
E
é até possível que essa sabotagem parta de setores do próprio governo, que não
representam a opinião da maioria, mas apenas os interesses de uma
"elite" cínica e insensível.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 11 de junho de 1994).
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