Sunday, August 21, 2016

Imposto inflacionário


Pedro J. Bondaczuk


A inflação é uma espécie de imposto e dos mais perversos, já que transfere rendas daqueles que pouco ou nada têm para os que sequer precisam trabalhar para ficarem ricos. Além de um elevado custo social --- por causa dela, o Brasil tem hoje 21% de sua população na mais absoluta indigência, perfazendo 32 milhões de indivíduos --- tem também o financeiro.

Um estudo do economista Alexandre Barros de Castro, da Fundação Getúlio Vargas, revela que em 1993 aproximadamente US$ 25 bilhões foram tirados do bolso dos trabalhadores e daqueles brasileiros que não contam com nenhuma espécie de proteção social e transferidos para o governo e os bancos.

Analisemos esta cifra. A priori, ela representa 6% do Produto Interno Bruto do País --- que é a soma de toda a riqueza que o Brasil, a décima maior economia do mundo, gera --- sendo, portanto, da maior relevância. Apenas para situar o leitor, a quantia representa 25% da nossa dívida externa, sabidamente a maior do Terceiro Mundo.

Barros de Castro, em seu estudo, conclui que se a inflação, eventualmente, viesse a ser zerada, a União deixaria de ganhar, em média, 30% por ano. Perderia, portanto, o que sociólogos e economistas denominam de "imposto inflacionário", que perfaz, em números redondos, US$ 15 bilhões.

Outros que sairiam perdendo seriam os bancos. Ficariam privados de cerca de US$ 10 bilhões anuais, de acordo com o economista da FGV. Não compete, aqui, analisar a fundamentação técnica de Barros de Castro, num castiço "economês". O que pretendemos mostrar é que, quando políticos afirmam que a inflação penaliza a todos, sem distinção, estão faltando com a verdade.

Dos 54 tributos que atormentam o cidadão, corroendo seus minguados e achatados ganhos, o "imposto inflacionário" é o que mais pesa e que em geral é arcado apenas e tão somente pela população mais pobre, que se vê cada vez mais empobrecida.

Falar em miséria, hoje em dia, no Brasil, chega a ser até redundante. Não é sequer necessário citar dados estatísticos, nacionais ou internacionais, para comprovar o grau de degradação social que nos atinge. Basta andar, com os olhos abertos e com o senso crítico aguçado, pelas ruas das grandes e médias cidades brasileiras para constatar porque o País é o segundo mais injusto do mundo, perdendo nesse deprimente "ranking" apenas para o pequenino e desorganizado Botswana, na África.

O economista da FGV insiste que, quem paga esse custo inflacionário é a população mais pobre, "que não tem acesso a nenhum mecanismo de proteção do seu dinheiro contra a corrosão. São brasileiros sem renda suficiente para aplicar em fundões, caderneta de poupança, certificados de depósitos bancários, etc.".

Portanto, a melhor forma de promover o resgate social dos 32 milhões de excluídos da cidadania é acabar com a inflação. Talvez o estudo de Barros de Castro explique a razão de tantos planos terem fracassado nos últimos anos. Os que ganham indevidamente, às custas da fome e da indigência de multidões, sempre sabotaram e vão sabotar toda e qualquer tentativa que se faça para acabar com essa aberração econômica, que foi a principal causa da ruína do Império Romano e que coloca o Brasil contemporâneo no mesmo patamar de países africanos e asiáticos como Burkina Faso, Somália, Etiópia, Afeganistão ou Angola.

E é até possível que essa sabotagem parta de setores do próprio governo, que não representam a opinião da maioria, mas apenas os interesses de uma "elite" cínica e insensível.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 11 de junho de 1994).


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