O pouco lembrado pai do
Verismo
Pedro
J. Bondaczuk
O leitor já leu algum
livro, ou pelo menos ouviu falar, do escritor italiano Giovanni Verga? Caso a
resposta seja negativa (o que, sem duvidar de sua cultura literária, não me
causa nenhuma surpresa) não se sinta diminuído. Pouquíssimas pessoas aqui no
Brasil conhecem esse autor. Procurei, por exemplo, em livrarias, em sebos, em
bibliotecas e até nas internet qualquer livro dele, em vão. E olhem que
escreveu dezenas deles, Desconfio que nada, da sua imensa (e excelente) obra
tenha sido traduzido para o português e lançado por aqui por alguma das nossas
centenas de editoras. Uma pena e uma injustiça. O sujeito é muito bom. Posso
estar enganado, mas não creio. Por pura teimosia, encontrei alguns livros de
Giovanni Verga, mas em italiano e em espanhol. Adquiri-os e deliciei-me com sua
leitura, super surpreso por ninguém se propor a divulgá-lo no Brasil.
O volume que ensejou
minha “descoberta” desse escritor italiano (notadamente siciliano, ilha em que
nasceu e onde morreu, depois de perambular por Florença e por Milão), é “A vida
nos campos”, publicado na Itália em 1880, reunindo uma coletânea de histórias
curtas tratando de pessoas e coisas de sua Sicília natal. Cheguei a esse nome
meio que por acaso, mais especificamente, por sugestão de um leitor, o que já
se tornou rotina. Aprendo muito com vocês, embora minha proposta, um tanto
atrevida, seja a de ensinar-lhes alguma coisa. Não sei se estou conseguindo.
Espero que sim.
O leitor Giuseppe
Martoni, que afirmou estar acompanhando minha série de comentários versando
sobre como o tema “epidemias” foi tratado na Literatura através do tempo,
sugeriu-me o livro em questão. Procurei-o, reitero, por todas as partes, em
vão. Comuniquei-lhe que não achei essa obra, ao que ele me sugeriu que tentasse
adquirir uma edição já antiga, em espanhol. E... bingo! Consegui encontrar
e comprar “A vida nos campos”.
Interrompi, temporariamente, a série que vinha escrevendo, para descobrir onde
e como Giovanni Verga tratou do tema “epidemia”. Encontrei o que procurava em
uma das oito histórias do livro, intitulada “Guerra dos santos”, que li, reli,
fiz anotações e meditei muito a respeito. É dela, pois, que me proponho a
tratar. Mas não hoje. Antes, impõem-se alguns comentários sobre esse escritor e
explicações sobre por que ele é tão importante.
Giovanni Carmelo Verga
nasceu, em 2 de setembro de 1840, na cidadezinha siciliana de Vizzini,
província de Catania, no seio de uma próspera família de proprietários rurais.
Produziu seus primeiros textos literários quando tinha, apenas, dezesseis anos
de idade. Mas seu talento aflorou quando estudava Direito na universidade da
cidade em que nasceu. Publicou, inicialmente, vários romances históricos. Sua
importância maior, no entanto, não se deve a esses primeiros livros, embora
muito bons. Depois de uma passagem de três anos por Florença, aos 29 anos de
idade, ele mudou-se, de “mala e cuia”, para Milão, onde viveu por vinte e um
anos e onde consolidou sua vitoriosa carreira.
Nessa importante cidade da Lombardia, Verga não tardou a fazer amizade
com um ilustre conterrâneo, o romancista Luigi Capuana. Este fato viria a mudar
sua forma de entender e de fazer literatura.
Por influência direta
do novo amigo, Giovanni escreveu suas obras mais notáveis e bem sucedidas. E
mais, junto com o amigo, fundou uma nova escola literária, tipicamente
italiana, posto que inspirada no realismo francês de Balzac e de Zola: o
Verismo. As principais características dessa nova corrente literária
incorporavam vários postulados do positivismo. Entre estes, podemos destacar:
absoluta fé na razão e na ciência, adoção do método experimental na produção
dos textos e irrestrita confiança na infalibilidade dos instrumentos de
pesquisa. O Verismo é marcado pelo realismo – por vezes sórdido ou violento –
das descrições da vida quotidiana, especialmente das classes sociais mais
baixas, rejeitando os temas históricos, míticos e grandiosos do Romantismo.
A corrente, da qual
Verga foi co-fundador – assinou o manifesto de criação junto com Luigi Capuana
- não se restringiu, apenas, à
Literatura. Também se manifestou na ópera italiana, a partir de 1890, com a
Cavalleria Rusticana – aliás baseada num conto do mesmo nome do escritor siciliano
– de Pietro Mascagni. Suas obras foram levadas, ainda, ao teatro e ao cinema
(como o filme “A terra treme”, dirigido por Luchino Visconti), daí ser estranho
o fato dele ser tão pouco conhecido, ou virtualmente desconhecido no
Brasil. Giovanni Verga, que também se
destacou no jornalismo, sendo fundador de alguns jornais, voltou a morar em sua
cidade natal em 1893, onde viveu por mais quase três décadas, na mesma casa
onde nasceu, e morreu de uma trombose cerebral, em 27 de janeiro de 1922, aos
81 anos de idade. “A vida nos campos” pode nem ser sua obra-prima, mas que é um
livro instigante disso o leitor pode ter certeza.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment