Tarefa facilitada
Pedro
J. Bondaczuk
Ser escritor, hoje em
dia, é muitíssimo mais fácil do que, digamos, há apenas trinta anos. Se
recuarmos mais ainda no tempo, teremos que valorizar ainda mais quem se
dedicava, então, a esta fascinante atividade de produzir livros. O advento do
computador pessoal trouxe facilidades a quem vive de escrever que Honoré de
Balzac, ou Leon Tolstoi, ou Victor Hugo não acreditariam que se tornassem
possíveis, se algum “profeta” de sua época lhes dissesse que um dia estariam ao
dispor dos seus sucessores.
Até praticamente fins
do século XIX, por exemplo, não havia, ainda, sequer, máquina de escrever. Não
tinha sido inventada. Os textos eram redigidos de forma manuscrita, arrancados
na unha. Os redatores, não raro, até, tinham, por canetas, meras penas de aves
(a preferida, parece, era a de ganso).
Para que a tinta não
borrasse o papel, e não comprometesse o trabalho às vezes de um dia todo, os
esforçados escritores de então recorriam a um pó secador especial. Isso, quem
conhecesse o produto e pudesse comprá-lo. O advento da caneta-tinteiro foi
considerado um avanço espetacular, quase que um “milagre”. Esferográfica? Nem
pensar! Não havia, igualmente, sido inventada ainda.
As revisões dos textos,
produzidos de forma tão rústica e artesanal, eram uma loucura! O redator
rasurava todo o papel e, após cada correção, acréscimo e/ou supressão que
fazia, tinha que copiar tudo de novo, agora com as devidas retificações. E
fazia isso duas, três, cinco, dez vezes ou mais. Haja paciência! Os grandes
clássicos da literatura mundial nasceram dessa forma. Qual o escritor da
atualidade teria tanta paciência, e produziria obras tão marcantes, com as
condições do seu colega do passado? Será que haveria algum capaz disso? Duvido!
E não era só a produção
de textos que se tornava façanha digna dos “doze trabalhos de Hércules”. O
escritor de antigamente não tinha (óbvio) a internet para divulgar o que havia
escrito. Não contava, portanto, com o recurso do e-mail, por exemplo. Hoje, se
eu quiser a opinião de alguém, sobre o que acabei de escrever, antes de sequer
pensar em publicar em qualquer veículo ao meu dispor, é fácil e rápido. Basta
encaminhar, pelo correio eletrônico, o texto a algum amigo (que entenda do
riscado, claro) e rapidamente obterei a resposta. Os escritores de antigamente não
tinham essa moleza (e nenhuma outra).
Ademais, tenho
condições de divulgar fartamente o que escrevo, antes mesmo de ao menos cogitar
e reunir tudo em livro. Conto com milhões de sites e blogs da internet (meu
próprio ou dos outros) ao meu dispor. Só nesse aspecto, já levo uma vantagem
monumental sobre os meus colegas de profissão do passado.
Quando a máquina de
escrever foi inventada, e começou a se popularizar, foi comemorada como imenso
“feito da tecnologia”. Os escritores celebraram o ingresso, finalmente, no que
entendiam ser então a “modernidade”. Hoje... Convenhamos, esse instrumento, que
nos foi tão útil há apenas duas décadas ou menos (alguns, que resistem à
informática, ainda o utilizam) não passa, a rigor, de peça de museu. Torna-se a
cada dia mais raro e logo, logo tende a desaparecer de vez.
Claro que, tanto em
passado remoto, quanto na atualidade, o escritor, para se dar bem e obter
razoável sucesso, devia e deve contar com um fator fundamental: o talento. Se
não tiver... Melhor que procure outra atividade, para não ter que conviver com
um rosário de fracassos e frustrações. Só que hoje, a informática liberou-o de
uma infinidade de tarefas enfadonhas e rotineiras, proporcionando-lhe tempo e
condições para se concentrar quase que exclusivamente no conteúdo do que vai
escrever.
Por tudo isso, não são
exageradas as reverências que prestamos a um Balzac, a um Zola, a um Hugo, a um
Dostoievski e a tantos e tantos e tantos mestres da literatura mundial. Pelo
contrário, eles mereceriam mais, muito mais do que isso. Além de criativos
(diria, geniais), foram, sobretudo, pacientes. Suas obras, que hoje nos
ilustram e servem de referenciais para tudo o que escrevemos, foram,
literalmente, arrancadas a muque dos seus privilegiados cérebros.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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