Mundo
não tem motivo para guerrear
Pedro J. Bondaczuk
O secretário-geral das Nações Unidas, Javier Perez
de Cuellar, vai tentar, em Bagdá, uma missão tida como impossível, nas atuais
circunstâncias, que é a de convencer o presidente iraquiano, Saddam Hussein, a
retirar suas tropas do Kuwait antes de terça-feira, prazo dado pelo Conselho de
Segurança para tal retirada, a partir do qual as forças multinacionais
estacionadas no Golfo Pérsico ficam autorizadas a expulsar os invasores.
Objetivamente, não se acredita que ele tenha algum
argumento novo, decisivo, que dezenas de outros diplomatas que foram ao Iraque
nos últimos seis meses não tenham utilizado. Todavia, não deixa de ser uma
tentativa válida.
Além disso, o peruano Cuellar já mostrou, nos nove
anos em que comanda a ONU, ser dotado de um raro talento diplomático,
transformando o organismo mundial de mero fórum de debates numa entidade com
poder de decisão.
Analisando objetivamente a crise, é fácil de se
concluir que uma guerra, nessa região, neste momento, e pelo motivo alegado, é
uma incoerência, quando não irresponsabilidade. O presidente norte-americano,
George Bush, irrita-se com seus críticos quando estes dizem que ele está
arriscando a paz mundial somente para proteger os grandes cartéis petrolíferos.
Em geral retruca que o seu objetivo é o de devolver
o Kuwait a seus legítimos donos – leia-se a família Al-Sabah. Todavia, a
deflagração de um conflito fará com que o emir Jaber Al-Ahmed Al-Sabah receba,
na verdade, um desolador monte de ruínas, e não mais um país.
Afinal, a guerra será travada ali. O território
kuwaitiano, findo o confronto – tenha ele a duração que tiver – será um
gigantesco cemitério de soldados dos dois lados e não mais um próspero emirado,
que despertava a inveja de seus vizinhos em seu período de prosperidade.
Ninguém defende, aqui, que o agressor seja premiado.
Mas há outros meios, que não o das armas, para dobrar a intransigência de
Saddam Hussein. Se o presidente do Iraque for morto em combate, passará a ser
um mito, uma bandeira para a juventude árabe, que conhece a palavra democracia
apenas no dicionário. Se sobreviver, será mitificado, literalmente endeusado.
Todos sabem
que no Golfo Pérsico não há nenhum regime democrático. Portanto, a
coalizão de 28 países que integram a força multinacional na Operação Escudo do
Deserto não irá combater pela liberdade que nunca existiu na região. E muito
menos resgatar o Kuwait que, tão certo quanto dois mais dois são quatro,
deixará de existir, e por muitos anos, como sociedade nacional organizada.
Então, por que guerrear? Para mostrar aos miseráveis
do Terceiro e do Quarto Mundo onde foi investido o dinheiro que deveria ser
empregado para minorar sua miséria, ou seja, em armas?
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do
Correio Popular, em 11 de janeiro de 1991)
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