Olimpíadas como fonte
inesgotável de histórias
Pedro
J. Bondaczuk
As Olimpíadas – quer as
originais, da Grécia Antiga, quer as contemporâneas, criadas pelo Barão de
Coubertin – são uma fonte praticamente
inesgotável de boas histórias, bastando, somente, que algum escritor talentoso
e criativo se aproprie delas e produza magníficos contos, romances, novelas ou
seja que tipo for de gênero literário. É certo que os Jogos atuais – que, na
prática, começam nesta quarta-feira, neste cenário magnífico de uma das mais
belas cidades do mundo, nosso maravilhoso Rio de Janeiro – favorecem mais, pelo
menos num primeiro momento, jornalistas. A eles compete relatar, com a máxima
fidelidade, o que está acontecendo para os consumidores das respectivas mídias
a que servem: televisão, rádio, internet com seus vários canais de difusão,
jornais e revistas. Porém, se eles levam vantagem no aspecto instantaneidade,
têm, contra si, esse mesmo fator. Ou seja, a premência de tempo, o que lhes
exige precisão absoluta, fartas e confiáveis fontes e muito, muitíssimo, imenso
jogo de cintura.
Já o escritor conta com
todo o tempo do mundo para pinçar as melhores histórias e, com método e
criatividade, trazê-las aos leitores, e com
potencial de permanência, ao contrário do trabalho do jornalista, cujo
fruto é sumamente perecível. Que tem “vida” só enquanto novo fato não ocorra e
não torne o que apurou com tanto afinco e tamanho afã defasado e ultrapassado.
Ademais, o escritor nem mesmo precisa se ater a personagens reais, de carne e
osso, e muito menos aos atuais, protagonistas das Olimpíadas de 2016 no Rio de
Janeiro. Tem a possibilidade de “criar” seus próprios “atores”, dando-lhes,
contudo, a maior verossimilhança possível, o que nem mesmo é tão difícil. Não
se tiver talento e disciplina para fazê-lo.
Além disso, tem, ao seu
dispor, algumas centenas de Jogos Olímpicos da Antiguidade, com fartura de
fontes de pesquisa proporcionada pelo “milagre” da internet. Hoje, com um
simples clicar do mouse, temos acesso às mais completas bibliotecas do Planeta,
a praticamente tudo o que quisermos (ou que precisarmos) saber. Por isso,
estranho que o assunto seja, até aqui, tão pouco explorado, notadamente pelos
escritores atuais, já que os de um passado ainda recente não contavam com os magníficos
recursos com que hoje contamos. As competições esportivas, e não importa a
modalidade, apresentam praticamente toda a gama de ações, reações e de emoções
do ser humano no correr da vida: ambição, frustração, euforia, orgulho, inveja,
superação, autodisciplina etc.etc.etc. Já imaginaram quantos, e
psicologicamente tão ricos personagens estão à disposição de quem tenha
talento, imaginação e criatividade para criá-los?!!!
Da minha parte, caso me
proponha algum dia a beber dessa inesgotável fonte de inspiração (e penso
seriamente em fazê-lo), se o fizer, provavelmente me concentrarei em Olimpíadas
antigas. Talvez não tão remotas assim, a da época, por exemplo, em que foram
criadas, por volta do ano de 776 a.C. Todavia, também não tão próximas, do
período em que a Grécia foi conquistada pelo Império Romano e os Jogos entraram
em decadência. Se escrever um conto a respeito (o gênero mais provável a que
recorreria, por ser aquele em que me sinto mais à vontade), situarei minha
história, digamos, por volta do ano 300 a.C. Já consegui material de consulta
dessa época, para descrever, com certa verossimilhança, cenários,
comportamentos, vestuários e tudo o que é necessário para a narração de uma boa
história que se pareça a fato real.
Por falar no
piradíssimo imperador romano Nero Cláudio Augusto Germânico, que por 14 longos
anos “desgovernou” a maior superpotência do passado, é oportuno lembrar a
influência negativa que ele exerceu sobre os Jogos Olímpicos. Por exemplo,
adiou a realização da 211ª Olimpíada (que deveria ocorrer em 65 a.D) para 67
a.D, para que ela coincidisse com a época que havia marcado visita à Grécia.
Tinha, então, poder para isso. Porém, não se contentou em simplesmente
participar do evento como mero espectador, posto que ilustre. Decidiu competir,
em princípio na modalidade “corrida de quadrigas”. Deu vexame. Caiu duas vezes
e sequer completou a prova. Adivinhem, porém, quem foi declarado o vencedor?
Bingo! Foi ele mesmo, Nero. Como se vê, a arte da bajulação e do puxassaquismo
não é nada nova; Já era uma realidade e creio que desde o início do que
convencionamos chamar de “civilização”. Bem, é verdade que os juízes pensaram
na própria sobrevivência. Afinal, não é nada prudente contrariar um louco, com
ego maior do que o Império Romano.
Nero, porém, não se
contentou em se tornar “campeão olímpico” de corrida de quadrigas. Exigiu (e
claro, foi atendido), que se instituíssem três novas modalidades nos Jogos:
canto, representação teatral e poesia. Creio que nem mesmo é necessário
informar quem levou os louros da vitória em todas elas. Claro que foi Nero!!!
Quem teria a coragem de reivindicar a vitória? Eu, se vivesse naquela época e
se participasse daquela excepcional 211ª Olimpíada, é que não seria maluco de
desafiar alguém mais louco do que eu (ou de qualquer outro participante). E
você, prezado leitor, como agiria?
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