Só
falta a cirurgia
Pedro J. Bondaczuk
A noticiário difundido pelos meios de comunicação,
especialmente de um mês para cá, tornou-se mais angustiante, mais opressivo e
mais sombrio do que de costume, embora em raras ocasiões fosse de molde a nos
dar prazer. Corrupção e crise são as palavras mais freqüentes nas manchetes,
deixando no espírito do cidadão a amarga impressão de que esta aventura
fascinante que é a vida não passa disso. De sofrimentos, frustrações,
injustiças e patifarias de toda a sorte, com os maus preponderando sobre os
bons. As coisas teriam, necessariamente, que ser assim? Absolutamente, não!
Está nas mãos do homem – de cada um individualmente
e de todos, ou da maioria, atuando em conjunto – seu próprio destino e o da
sociedade que integra. E, convenhamos, está mais do que na hora de a cidadania
dar um basta neste estado de coisas.
É tempo de erradicar ou pelo menos neutralizar os
comportamentos doentios, distorcidos, ilógicos e insensatos dos que lutam
somente por dinheiro e poder. Daí a ênfase atual da imprensa nos casos de
corrupção. Se as notícias fazem mal ao nosso espírito, o objetivo, certamente,
não é esse.
A própria revelação dos fatos escabrosos, envolvendo
os “sete anões” do esquema de manipulação do Orçamento da União, paradoxalmente,
é uma manifestação de otimismo dos formadores de opinião pública. Por mais
céticos que os repórteres, comentaristas e editorialistas pareçam ser em
relação aos escândalos, na verdade são pessoas esperançosas, que confiam na
regeneração dos costumes e na preponderância das leis.
Trata-se de médicos diligentes, que buscam fazer o
diagnóstico mais preciso possível da corrupção, por mais dolorosas e chocantes
que sejam as conclusões, para que esse tumor maligno, canceroso, possa ser
extirpado, inclusive com as eventuais metástases.
Para que isso se torne possível, porém, é
indispensável uma imprensa livre, sem nenhuma espécie de censura, a não ser a
do bom-senso dos encarregados do noticiário. Ruy Barbosa, num célebre discurso
feito no início do século, em que expôs o seu credo político, acentuou, em
determinado trecho: “...Creio na tribuna sem fúrias e na imprensa sem
restrições, porque creio no poder da razão e da tolerância, no progresso e na
tradição, no respeito e na disciplina, na impotência fatal dos incompetentes e
no valor insuprível das capacidades”.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 13 de novembro de 1993)
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