Wednesday, August 10, 2016

Só falta a cirurgia



Pedro J. Bondaczuk


A noticiário difundido pelos meios de comunicação, especialmente de um mês para cá, tornou-se mais angustiante, mais opressivo e mais sombrio do que de costume, embora em raras ocasiões fosse de molde a nos dar prazer. Corrupção e crise são as palavras mais freqüentes nas manchetes, deixando no espírito do cidadão a amarga impressão de que esta aventura fascinante que é a vida não passa disso. De sofrimentos, frustrações, injustiças e patifarias de toda a sorte, com os maus preponderando sobre os bons. As coisas teriam, necessariamente, que ser assim? Absolutamente, não!

Está nas mãos do homem – de cada um individualmente e de todos, ou da maioria, atuando em conjunto – seu próprio destino e o da sociedade que integra. E, convenhamos, está mais do que na hora de a cidadania dar um basta neste estado de coisas.

É tempo de erradicar ou pelo menos neutralizar os comportamentos doentios, distorcidos, ilógicos e insensatos dos que lutam somente por dinheiro e poder. Daí a ênfase atual da imprensa nos casos de corrupção. Se as notícias fazem mal ao nosso espírito, o objetivo, certamente, não é esse.

A própria revelação dos fatos escabrosos, envolvendo os “sete anões” do esquema de manipulação do Orçamento da União, paradoxalmente, é uma manifestação de otimismo dos formadores de opinião pública. Por mais céticos que os repórteres, comentaristas e editorialistas pareçam ser em relação aos escândalos, na verdade são pessoas esperançosas, que confiam na regeneração dos costumes e na preponderância das leis.

Trata-se de médicos diligentes, que buscam fazer o diagnóstico mais preciso possível da corrupção, por mais dolorosas e chocantes que sejam as conclusões, para que esse tumor maligno, canceroso, possa ser extirpado, inclusive com as eventuais metástases.

Para que isso se torne possível, porém, é indispensável uma imprensa livre, sem nenhuma espécie de censura, a não ser a do bom-senso dos encarregados do noticiário. Ruy Barbosa, num célebre discurso feito no início do século, em que expôs o seu credo político, acentuou, em determinado trecho: “...Creio na tribuna sem fúrias e na imprensa sem restrições, porque creio no poder da razão e da tolerância, no progresso e na tradição, no respeito e na disciplina, na impotência fatal dos incompetentes e no valor insuprível das capacidades”. 

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 13 de novembro de 1993)


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