Tema pouco abordado
Pedro
J. Bondaczuk
Há temas que fazem
parte da realidade de todos nós, indistintamente, mas que nós, escritores, por
razões inexplicáveis, relegamos a um plano secundário. Raramente os abordamos
e, mesmo assim, quando o fazemos, nossa abordagem é apenas incidental, rápida,
ligeira, quase que de passagem. Um desses assuntos, que merecem nossa máxima
atenção, mas que parecem não nos motivar, é o da depredação ambiental.
Comentei o fato,
recentemente, em uma roda de amigos, todos escritores de prestígio, e a
resposta que obtive não me convenceu. Houve consenso de que este é um assunto
para jornalistas. Será? Acho que não. Até porque, o que espero dos colegas de
letras não é nenhuma “reportagem” a esse propósito, isso sim tarefa do jornalismo.
O tema, convenhamos,
presta-se a todos os gêneros literários. Podemos, por exemplo, escrever
romances, contos, novelas e peças teatrais tendo como pano de fundo uma Terra
devastada, emporcalhada, aquecida e selvagem, em decorrência das nossas agressões
à natureza.
O assunto presta-se,
igualmente, a poemas pela sua dramaticidade e urgência. Tenho plena convicção
que nós, com nosso talento e criatividade, temos até mais condições de
esclarecer a população e conscientizar um grande número de pessoas a entrarem
para esta cruzada de salvação do Planeta que é, óbvio, a nossa também, do que
os melhores jornalistas (que também parecem olimpicamente ignorar o tema).
O meio ambiente está
visivelmente se deteriorando sob os nossos olhos e fazemos que não estamos
enxergando. As consequências do efeito-estufa são, a cada dia, mais sensíveis e
fazemos de conta que não está ocorrendo nada de anormal. São cada vez mais
freqüentes chuvas torrenciais e destruidoras, vendavais, secas catastróficas
etc,etc.etc. e tentamos nos convencer de que isso “é normal” e “sempre
aconteceu”.
Vi, tempos atrás,
fotos, no site do UOL, tiradas por satélites, da Groenlândia e fiquei
estupefato e apavorado. Não só esse vasto território gelado, como todo o Pólo
Norte, estão em acelerado processo de degelo. No Pólo Sul as coisas não são
diferentes. A continuar nesse ritmo, em mais duas décadas (se tanto), geleiras
que levaram milhões de anos para se formar, estarão liquefeitas. Não mais
existirão.
“E daí?”, costumam
perguntar os imbecis alienados, que não sabem identificar o perigo e se livrar
dele, quando confrontados com esses dados. Daí que o nível dos oceanos,
logicamente, irá subir. Daí que a porção sólida do Planeta, que já é bastante
pequena, ficará ainda menor. Daí que isso irá desequilibrar ainda mais o que já
está tão desequilibrado. Daí que ficarão bastante reduzidas as áreas para a
agricultura e sem comida... Daí que podemos esperar conseqüências tão terríveis
que são impossíveis até de se projetar.
Não sou profeta, e
muito menos daqueles apocalípticos que esperam com ansiedade a intensa
destruição de tudo e todos. Nem sou viciado em temas negativos. Quem me conhece
pessoalmente, ou é meu leitor há alguns anos, sabe bem disso. Sou até acusado
de ser excessivamente otimista por manifestar esperanças de que a inteligência
humana irá prevalecer sobre a burrice e evitar catástrofes.
Todavia, como
jornalista por profissão e formação, não sou alienado. Estou acostumado a lidar
com fatos, com números, com causas e conseqüências. E fui treinado para fazer
extrapolações. Basta somar um mais um para se obter resultados lógicos.
Com base rigorosamente
em informações seguras, sem nenhum laivo de misticismo ou algo parecido, posso
afirmar que estamos à beira de uma tremenda catástrofe, que nos envolverá a
todos, e de proporções nunca vistas. É possível que, com um pouco de sorte,
ainda haja tempo para deter esse processo. Mas... não muito.
E onde nós, escritores,
entramos nisso? Temos o dever de colocar nosso talento, imaginação e criatividade
a serviço dessa cruzada preservacionista. Até porque, de nada valerão nosso
ideal, nosso amor às artes e, sobretudo à literatura, se não houver quem nos
leia e prestigie. E do jeito que as coisas estão, no rumo que os acontecimentos
estão tomando, não restará ninguém, absolutamente ninguém para ler o que
escrevemos com tanto amor e entusiasmo.
Não existiremos também.
A Terra restará “escura e vazia”, como foi no princípio, conforme a narrativa
do “Gênesis”. Este, portanto, é um assunto que tem que nos mobilizar, na marra,
até por questão (literalmente) de sobrevivência.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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