Sunday, August 21, 2016

Tema pouco abordado

Pedro J. Bondaczuk


Há temas que fazem parte da realidade de todos nós, indistintamente, mas que nós, escritores, por razões inexplicáveis, relegamos a um plano secundário. Raramente os abordamos e, mesmo assim, quando o fazemos, nossa abordagem é apenas incidental, rápida, ligeira, quase que de passagem. Um desses assuntos, que merecem nossa máxima atenção, mas que parecem não nos motivar, é o da depredação ambiental.

Comentei o fato, recentemente, em uma roda de amigos, todos escritores de prestígio, e a resposta que obtive não me convenceu. Houve consenso de que este é um assunto para jornalistas. Será? Acho que não. Até porque, o que espero dos colegas de letras não é nenhuma “reportagem” a esse propósito, isso sim tarefa do jornalismo.

O tema, convenhamos, presta-se a todos os gêneros literários. Podemos, por exemplo, escrever romances, contos, novelas e peças teatrais tendo como pano de fundo uma Terra devastada, emporcalhada, aquecida e selvagem, em decorrência das nossas agressões à natureza.

O assunto presta-se, igualmente, a poemas pela sua dramaticidade e urgência. Tenho plena convicção que nós, com nosso talento e criatividade, temos até mais condições de esclarecer a população e conscientizar um grande número de pessoas a entrarem para esta cruzada de salvação do Planeta que é, óbvio, a nossa também, do que os melhores jornalistas (que também parecem olimpicamente ignorar o tema).

O meio ambiente está visivelmente se deteriorando sob os nossos olhos e fazemos que não estamos enxergando. As consequências do efeito-estufa são, a cada dia, mais sensíveis e fazemos de conta que não está ocorrendo nada de anormal. São cada vez mais freqüentes chuvas torrenciais e destruidoras, vendavais, secas catastróficas etc,etc.etc. e tentamos nos convencer de que isso “é normal” e “sempre aconteceu”.

Vi, tempos atrás, fotos, no site do UOL, tiradas por satélites, da Groenlândia e fiquei estupefato e apavorado. Não só esse vasto território gelado, como todo o Pólo Norte, estão em acelerado processo de degelo. No Pólo Sul as coisas não são diferentes. A continuar nesse ritmo, em mais duas décadas (se tanto), geleiras que levaram milhões de anos para se formar, estarão liquefeitas. Não mais existirão.

“E daí?”, costumam perguntar os imbecis alienados, que não sabem identificar o perigo e se livrar dele, quando confrontados com esses dados. Daí que o nível dos oceanos, logicamente, irá subir. Daí que a porção sólida do Planeta, que já é bastante pequena, ficará ainda menor. Daí que isso irá desequilibrar ainda mais o que já está tão desequilibrado. Daí que ficarão bastante reduzidas as áreas para a agricultura e sem comida... Daí que podemos esperar conseqüências tão terríveis que são impossíveis até de se projetar.

Não sou profeta, e muito menos daqueles apocalípticos que esperam com ansiedade a intensa destruição de tudo e todos. Nem sou viciado em temas negativos. Quem me conhece pessoalmente, ou é meu leitor há alguns anos, sabe bem disso. Sou até acusado de ser excessivamente otimista por manifestar esperanças de que a inteligência humana irá prevalecer sobre a burrice e evitar catástrofes.

Todavia, como jornalista por profissão e formação, não sou alienado. Estou acostumado a lidar com fatos, com números, com causas e conseqüências. E fui treinado para fazer extrapolações. Basta somar um mais um para se obter resultados lógicos.

Com base rigorosamente em informações seguras, sem nenhum laivo de misticismo ou algo parecido, posso afirmar que estamos à beira de uma tremenda catástrofe, que nos envolverá a todos, e de proporções nunca vistas. É possível que, com um pouco de sorte, ainda haja tempo para deter esse processo. Mas...  não muito.

E onde nós, escritores, entramos nisso? Temos o dever de colocar nosso talento, imaginação e criatividade a serviço dessa cruzada preservacionista. Até porque, de nada valerão nosso ideal, nosso amor às artes e, sobretudo à literatura, se não houver quem nos leia e prestigie. E do jeito que as coisas estão, no rumo que os acontecimentos estão tomando, não restará ninguém, absolutamente ninguém para ler o que escrevemos com tanto amor e entusiasmo.


Não existiremos também. A Terra restará “escura e vazia”, como foi no princípio, conforme a narrativa do “Gênesis”. Este, portanto, é um assunto que tem que nos mobilizar, na marra, até por questão (literalmente) de sobrevivência.

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