Pela
independência energética
Pedro J. Bondaczuk
A nova crise que agita o Oriente Médio reforça uma
lição que já deveria ter sido aprendida pelos brasileiros nos choques do
petróleo de 1973 e 1978, mas que não foi. É a de que nunca é demais o investimento
feito num setor tão estratégico quanto o da energia.
Fosse dada continuidade à estratégia de inversões de
recursos na prospecção e exploração das reservas petrolíferas nacionais
ocorridas durante a primeira metade da década passada, e hoje o Brasil já seria
auto-suficiente nessa matéria-prima, cada vez mais escassa no mundo, já que é
exaurível, e que, portanto, se torna economicamente mais valiosa. Agora o País
está, pelo menos, em melhor situação do que há onze anos.
Naquela época, com uma produção incipiente de 165
mil barris diários, ninguém sequer sonhava com o dia em que deixaríamos de
despender fortunas na aquisição de petróleo. Agora, a meta da auto-suficiência
está muito próxima.
Na pior das hipóteses, caso não se fechem as
torneiras de investimentos na Petrobrás, esse objetivo deve ser alcançado em
três ou quatro anos. Outro erro do nosso governo foi não mudar o perfil
regional dos seus fornecedores.
Em 1979, 90% do óleo que o País importava provinha
do Oriente Médio. Passados onze anos, o Brasil depende em 79% das importações
da mesma região, marcada pela instabilidade política e, potencialmente, um
grande foco de conflitos mundiais.
Graças aos investimentos feitos até 1985, nosso
prejuízo com a atual crise no Golfo será muitíssimo menor. Até porque, boa
parte da elevação de preços do barril de petróleo no mercado internacional, que
na semana passada chegou a atingir cerca de US$ 30, é especulativa. Aos poucos
a poeira vai assentando e a cotação deverá estabilizar-se em torno dos US$ 22.
O custo adicional brasileiro neste ano não deverá
passar dos US$ 500 milhões, contra cerca de US$ 20 bilhões de 1979 a 1983.
Portanto, toda essa inquietação não passa de marola de quem pretende lucrar com
a situação, já que há quem pague o que eles pedem, por não dispor de nervos de
aço que todo bom negociante deve ter.
Ainda assim, vai ser difícil o atendimento do apelo
do ministro da Infra-estrutura, Ozires Silva, para a redução do consumo
nacional. Esta só pode ocorrer de três formas: mediante campanhas populares,
através do racionamento ou via preços.
No primeiro caso, a tendência seria o consumidor
estocar combustíveis em casa, o que, além de arriscado e, portanto, imprudente,
implicaria em demanda maior. No segundo, não haveria como fiscalizar. E o
terceiro caminho estimularia a aberrativa mentalidade inflacionária do
brasileiro, fazendo o plano de estabilização ir pelos ares.
Daí deduzir-se que o consumo não deverá baixar, na
esperança de que a crise no Golfo não passe disso que a caracterizou até agora:
uma simples guerra de palavras.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 15 de agosto de 1990)
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