Breves considerações
sobre as Olimpíadas
Pedro
J. Bondaczuk
Os Jogos Olímpicos são,
grosso modo, pelas próprias modalidades esportivas que integram essa competição
mundial, a superação dos “quatro mais”: mais forte, mais rápido, mais alto e
mais longe. Isso, nos esportes individuais. Nos coletivos, podemos considerar
um quinto “mais”: o mais eficiente. Ou seja, a equipe que consegue maior
quantidade de pontos (gols, cestas etc.etc.etc.). As chamadas
“Olimpíadas”, até serem proibidas, em
393 da nossa era, pelo imperador cristão Teodósio I, tinham essa denominação
por serem disputadas aos pés do Monte Olimpo. Aliás, a proibição se deu
exatamente por esse motivo. Por se tratar de um evento nitidamente pagão, pelo
menos na sua origem e na sua essência.
“Mas como?!”,
perguntará, atônito, o leitor. “O que o esporte tinha, ou tem a ver com prática
religiosa, sobretudo, com paganismo?”. Hoje não tem absolutamente nada! Mas no
caso dos Jogos da Antiguidade, tinha tudo. Eles eram disputados junto ao Templo
de Zeus, que ficava em Olimpia, região ocidental do Peloponeso, que para os
crentes gregos era onde o mítico deus do Tempo (Cronos, o outro nome do senhor
do Olimpo) habitaria. As competições atléticas eram, somente, parte desse
festival e nem mesmo a mais importante. O aspecto que mais importava era,
exatamente, o religioso.
As Olimpíadas originais
– cujo início seria o ano 776 a.C., ou em torno disso, já que, como tenho
enfatizado e insistido, essa questão de data da Antiguidade não pode ser tomada
ao pé da letra, pela grande quantidade de calendários que já existiram – não
eram abertas a todos os povos, como as atuais. Eram vedadas aos estrangeiros,
aos escravos e às mulheres. Os atletas eram da Grécia continental (de suas
várias cidades-Estados) e das inúmeras colônias gregas do Mediterrâneo e do Mar
Negro. O número de modalidades esportivas em disputa não era, nem de longe, as
28 que serão disputadas a partir desta semana no Rio de Janeiro. Chegaram à
quantidade máxima de dez, que foram sendo introduzidas no correr do tempo.
Corridas pedestres, por
exemplo, eram quatro: o estádio, o diaulós (ou duplo estádio), o dolichos e o
hoplitódromo (ou corrida com armas). A enciclopédia eletrônica Wikipédia traz a
explicação sobre no que cada uma consistia: “O estádio era a prova mais antiga
e de maior prestígio, já que o seu vencedor daria o seu nome aos jogos.
Consistia numa corrida de 192 metros, o comprimento do estádio. Diaulós
correspondia a uma corrida de 384 metros. Quanto ao dolichos, era uma corrida
que variava entre os 7 e os 24 estádios. A corrida com armas variava entre os 2
e os 4 estádios e nela os atletas levavam o capacete e o escudo dos hoplitas, o
que poderia ser penoso dado o peso que representava este armamento. Para evitar
a fraude, os escudos usados pelos atletas eram guardados no Templo de Zeus, de
modo a evitar que alguém corresse com um escudo que fosse mais leve”.
Como se vê, embora na
época sequer se cogitasse de doping, havia fraudes, posto que de outros tipos.
Caso não houvesse, não seria necessário qualquer método de prevenção, não é
mesmo? Como havia... Desde que o homem é homem, sempre houve quem quisesse
levar vantagem em tudo, burlando regras. A fraude, queiram ou não, está no
próprio DNA humano. Havia, ainda, dois tipos de corrida eqüestres: o de bigas e
o de cavalos de sela. Lutas eram de três espécies: a grega, o pugilato e o
chamado “pancrácio”, ou seja, uma combinação das duas primeiras. Esta última
seria, forçando a barra, uma espécie do nosso MMA contemporâneo. Finalmente,
tínhamos o pentatlo, contudo bem diferente do atualmente praticado. Era
composto pelo lançamento do disco, lançamento do dardo, salto em distância, a
corrida de estádio (semelhante aos 200 m atuais) e a luta.
A esta altura, muito
leitor, com aguçado senso crítico, deve estar questionando com seus botões: “O
que as Olimpíadas têm a ver com Literatura?”. E eu respondo: depende! O “fazer
literário” não se prende a qualquer tema específico.Tudo e todos podem ser
enfocados. O que conta é como o assunto é desenvolvido. Se com talento, graça,
correção (semântica e informativa) e criatividade, o que se escrever a respeito
poderá se constituir, não tenho dúvidas, em Literatura da mais alta qualidade.
Caso contrário, não passará de dupla perda de tempo: de quem escreve a respeito
e de quem eventualmente venha a ler tais textos. Ou estou errado?
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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