Monday, August 01, 2016

Preconceito sem sentido

Pedro J. Bondaczuk

Qualquer tipo de preconceito, seja em relação a o que for, é nocivo e, portanto, condenável. O próprio significado da palavra já sugere o quão insensato e perigoso é esse comportamento. Preconceber alguma coisa é formar juízo sobre ela sem nenhum conhecimento prévio a respeito. Se, portanto, nos relacionamentos sociais é condenável, em Literatura descamba para a burrice explícita.

Há, neste vasto campo, objeto da minha preocupação diária, inúmeros preconceitos, em especial a propósito de alguns gêneros. O alvo maior desse comportamento nocivo e sem sentido é a novela (embora a poesia também seja vista com maus olhos por muitos) e, por extensão, a dramaturgia em geral.

Inúmeros intelectuais, com empáfia e arrogância, torcem o nariz face essa autêntica “mania nacional”, grande filão de audiência das emissoras de televisão, notadamente da Rede Globo. Alguns, acusam-na de disseminar maus-hábitos e comportamentos imorais entre as pessoas, principalmente as menos instruídas e mais imaturas, no caso, crianças e jovens. Bobagem!

Dizia-se o mesmo, por exemplo, no século XIX (e boa parte do século XX) a propósito do romance. Era comum, em colégios internos, professores proibirem expressamente aos alunos a leitura de livros desse gênero. Eu, inclusive, passei por esse tipo de constrangimento quando jovem.

Literatura não forja e nunca forjou comportamentos e muito menos os nocivos e atentórios à moral e aos bons costumes, como argumentam os moralistas de plantão. Limita-se a reproduzir a vida como ela é, ou como poderia (e às vezes deveria) ser.

Moralidade e imoralidade estão na cabeça das pessoas. Ademais, esse conceito varia com os tempos e gerações. Muita coisa que já foi tida como “imoral”, num passado não muito remoto, hoje é encarada como normalíssima e vice-versa. Em arte, não existe moralidade ou imoralidade (desde que a obra seja, de fato, artística). O que há é bom ou mau-gosto. Mas isso já é outra história...

A novela, aliás, é não somente alvo de preconceito, mas até um gênero de difícil caracterização, por ser limítrofe. Há quem, por exemplo, negue que sequer exista, caracterizando-a ou como um conto mais extenso, ou como um romance mais curto. Entendo, todavia, que essa é uma questão meramente acadêmica e sem nenhuma relevância para quem quer que seja. É o mesmo que discutir “sexo dos anjos” ou algo que o valha.

Defendo, sim, a difusão do gênero na televisão e, ao contrário dos seus detratores, vejo nisso até um benéfico efeito didático, num país em que a educação ainda é cheia de imperfeições e considerada “privilégio” de determinadas classes sociais. Ademais, cabe exclusivamente aos pais esclarecer os filhos sobre a natureza do que assistem na telinha, distinguindo o que é nobre, bom e saudável do que é vicioso, inoportuno e errado.

Há quem tenha a mania de achar que “todas” as pessoas são estúpidas, imaturas e tolas e que são influenciáveis pelas histórias mais simples e banais, que, na verdade, se analisadas com rigor e bom-senso, não passam de “água com açúcar” quando comparadas aos terrores, patifarias e taras da vida real. Idiotas da objetividade, por favor, deixem as pessoas sonhar!!!

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