Herois olímpicos
esquecidos para todo o sempre
Pedro
J. Bondaczuk
As Olimpíadas, em suas
cerca de duas centenas de edições – contando as da Antiguidade e as da era
moderna, iniciadas em 1896 – produziram uma infinidade de “heróis dos
esportes”. A imensa maioria, no entanto, jaz sepultada, para sempre, na
implacável “cova do esquecimento”. Qual a razão? Isso se deve, basicamente, a
dois fatores. O primeiro é que, embora fossem celebridades no seu tempo, seus
feitos atléticos não foram registrados por ninguém. Convenhamos, dadas as
dificuldades de se escrever livros, em passado até nem tanto remoto, muita
coisa, em praticamente todos os campos de atividade, deixou de ser registrada
para a posteridade. Assim, esses “heróis do esporte” acabaram esquecidos tão
logo os que testemunharam seus feitos (ou ouviram dizer deles) morreram. Aí...
babau!! Sua suposta imortalidade revelou-se “mortalíssima”. Pois é, sic transit
gloria mundi...
A segunda razão é a
precariedade dos registros feitos. Muitas dessas façanhas foram, sim,
documentadas por escrito. Todavia, esses textos se perderam pelas razões mais
diversas: incêndios em bibliotecas, destruição deles por serem considerados
“sacrílegos” por determinadas sociedades fanáticas, a não divulgação por parte
dos seus escassos proprietários (é preciso ter em conta que edições de míseras duas
dezenas já eram consideradas best-sellers) e que, mesmo não destruídos, podem
estar por aí, sem que se saiba onde, etc.etc.etc. Imagine o leitor quantas
histórias deliciosas se perderam por estas e por outras razões!!! E tudo isso
pensando nos campeões olímpicos, nos vencedores, que no seu tempo foram alçados
à condição de heróis, ganhando estátuas em praças públicas de suas respectivas
comunidades e sendo mais que meras celebridades, para se transformarem em
lendas entre seus contemporâneos.
Possivelmente, porém,
(desconfio, até, que provavelmente) as melhores histórias, caso fossem
escritas, até pela dramaticidade que envolvem, não seriam, ou não foram, as dos
vencedores, dos campeões, dos bem-sucedidos, mas as dos fracassados, dos que se
decepcionaram e decepcionaram os que por eles torciam e neles confiaram, os
vencidos, enfim. E destes nunca ouvi falar que alguém tenha sequer cogitado de
tratar. Vale aqui (ou pelo menos valeu) nesses casos o adágio popular: “aos
perdedores, as batatas”. Traduzindo para o simples, troquemos, apenas, os
tubérculos pelo implacável esquecimento. Isso vale tanto para os atletas das
Olimpíadas da Antiguidade, quanto para as contemporâneas.
Aliás, nos 28 Jogos
Olímpicos de Verão realizados desde 1896, até aqui, são pouquíssimos os
campeões cujo simples nome é lembrado sem necessidade de se recorrer a
anotações. Sem nenhum exagero, uma pessoa de excelente memória e que trabalhe
com esportes consegue citar, sem erro, quando muito, dez campeões. E olhem
lá!!! Tente, caro leitor, tirar a prova dos nove. Cite, sem precisar mencionar
as modalidades, todos os heróis olímpicos de que se lembra. Se conseguir
lembrar o equivalente aos dedos das duas mãos, você é um fenômeno, acredite. Se
há essa dificuldade com personagens dos últimos 120 anos, imaginem os da
Antiguidade, de cerca de 2500 anos!!! E isso, reitero, em relação aos vencedores. Quanto aos
perdedores... É como se nem mesmo tenham existido.
Ainda assim,
pesquisando em várias fontes, “descobri” uma dezena de heróis olímpicos da
Grécia Antiga. Se suas histórias são verdadeiras ou não é questão de crença. É
impossível provar sua veracidade ou inverdade. Provavelmente têm alguma coisa
de real e muito de lenda. Afinal, “quem conta um conto, aumenta um ponto”.
Aliás, dificilmente só um. Provavelmente, aumenta dezenas ou mais. É o caso,
por exemplo, do herói olímpico Orsippus de Megara. Na Grécia Antiga, não havia
o costume de apor sobrenomes aos nomes. Usava-se, em vez disso, acrescentar a
denominação das cidades de que procediam.
E o que fez esse
cidadão (além de se tornar campeão olímpico) para ter seu nome preservado para
a posteridade? Inovou!!! No distante ano de 720 a. C., durante a prova de
corrida da 15ª edição dos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga, Orsippus de Megara
venceu a disputa cruzando a linha de chegada completamente nu! Hoje, se algum
atleta, num assomo de insanidade, ousasse fazer isso, seria, no mínimo,
desclassificado. E teria muita sorte se não fosse preso, acusado de “violento
atentado ao pudor”. Orsippus, todavia, “revolucionou” sua modalidade. A partir
dele, o hábito de correr sem roupas se tornou comum entre os gregos. Antes
dele, os corredores competiam vestidos com túnicas.
Acredita-se que
Orsippus, tendo percebido que sem roupa ficaria com os movimentos mais soltos,
despiu-se durante a prova e viu sua teoria ser comprovada: venceu com
facilidade. Quem não gostou disso foram as mulheres casadas. Ou seus
respectivos cônjuges. Elas foram proibidas, desde então, pelos seus maridos, de
assistirem às corridas pedestres. Provavelmente (e tenho plena convicção disso)
os “machões” temiam que suas “caras metades” fizessem comprometedoras
comparações de seus “dotes” com os dos atletas. É ou não é uma história
pitoresca que, por causa do inusitado, sobreviveu ao tempo e ao esquecimento?
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