Thursday, August 04, 2016

Herois olímpicos esquecidos para todo o sempre

Pedro J. Bondaczuk

As Olimpíadas, em suas cerca de duas centenas de edições – contando as da Antiguidade e as da era moderna, iniciadas em 1896 – produziram uma infinidade de “heróis dos esportes”. A imensa maioria, no entanto, jaz sepultada, para sempre, na implacável “cova do esquecimento”. Qual a razão? Isso se deve, basicamente, a dois fatores. O primeiro é que, embora fossem celebridades no seu tempo, seus feitos atléticos não foram registrados por ninguém. Convenhamos, dadas as dificuldades de se escrever livros, em passado até nem tanto remoto, muita coisa, em praticamente todos os campos de atividade, deixou de ser registrada para a posteridade. Assim, esses “heróis do esporte” acabaram esquecidos tão logo os que testemunharam seus feitos (ou ouviram dizer deles) morreram. Aí... babau!! Sua suposta imortalidade revelou-se “mortalíssima”. Pois é, sic transit gloria mundi...

A segunda razão é a precariedade dos registros feitos. Muitas dessas façanhas foram, sim, documentadas por escrito. Todavia, esses textos se perderam pelas razões mais diversas: incêndios em bibliotecas, destruição deles por serem considerados “sacrílegos” por determinadas sociedades fanáticas, a não divulgação por parte dos seus escassos proprietários (é preciso ter em conta que edições de míseras duas dezenas já eram consideradas best-sellers) e que, mesmo não destruídos, podem estar por aí, sem que se saiba onde, etc.etc.etc. Imagine o leitor quantas histórias deliciosas se perderam por estas e por outras razões!!! E tudo isso pensando nos campeões olímpicos, nos vencedores, que no seu tempo foram alçados à condição de heróis, ganhando estátuas em praças públicas de suas respectivas comunidades e sendo mais que meras celebridades, para se transformarem em lendas entre seus contemporâneos.

Possivelmente, porém, (desconfio, até, que provavelmente) as melhores histórias, caso fossem escritas, até pela dramaticidade que envolvem, não seriam, ou não foram, as dos vencedores, dos campeões, dos bem-sucedidos, mas as dos fracassados, dos que se decepcionaram e decepcionaram os que por eles torciam e neles confiaram, os vencidos, enfim. E destes nunca ouvi falar que alguém tenha sequer cogitado de tratar. Vale aqui (ou pelo menos valeu) nesses casos o adágio popular: “aos perdedores, as batatas”. Traduzindo para o simples, troquemos, apenas, os tubérculos pelo implacável esquecimento. Isso vale tanto para os atletas das Olimpíadas da Antiguidade, quanto para as contemporâneas.

Aliás, nos 28 Jogos Olímpicos de Verão realizados desde 1896, até aqui, são pouquíssimos os campeões cujo simples nome é lembrado sem necessidade de se recorrer a anotações. Sem nenhum exagero, uma pessoa de excelente memória e que trabalhe com esportes consegue citar, sem erro, quando muito, dez campeões. E olhem lá!!! Tente, caro leitor, tirar a prova dos nove. Cite, sem precisar mencionar as modalidades, todos os heróis olímpicos de que se lembra. Se conseguir lembrar o equivalente aos dedos das duas mãos, você é um fenômeno, acredite. Se há essa dificuldade com personagens dos últimos 120 anos, imaginem os da Antiguidade, de cerca de 2500 anos!!! E isso, reitero,  em relação aos vencedores. Quanto aos perdedores... É como se nem mesmo tenham existido.

Ainda assim, pesquisando em várias fontes, “descobri” uma dezena de heróis olímpicos da Grécia Antiga. Se suas histórias são verdadeiras ou não é questão de crença. É impossível provar sua veracidade ou inverdade. Provavelmente têm alguma coisa de real e muito de lenda. Afinal, “quem conta um conto, aumenta um ponto”. Aliás, dificilmente só um. Provavelmente, aumenta dezenas ou mais. É o caso, por exemplo, do herói olímpico Orsippus de Megara. Na Grécia Antiga, não havia o costume de apor sobrenomes aos nomes. Usava-se, em vez disso, acrescentar a denominação das cidades de que procediam.

E o que fez esse cidadão (além de se tornar campeão olímpico) para ter seu nome preservado para a posteridade? Inovou!!! No distante ano de 720 a. C., durante a prova de corrida da 15ª edição dos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga, Orsippus de Megara venceu a disputa cruzando a linha de chegada completamente nu! Hoje, se algum atleta, num assomo de insanidade, ousasse fazer isso, seria, no mínimo, desclassificado. E teria muita sorte se não fosse preso, acusado de “violento atentado ao pudor”. Orsippus, todavia, “revolucionou” sua modalidade. A partir dele, o hábito de correr sem roupas se tornou comum entre os gregos. Antes dele, os corredores competiam vestidos com túnicas.


Acredita-se que Orsippus, tendo percebido que sem roupa ficaria com os movimentos mais soltos, despiu-se durante a prova e viu sua teoria ser comprovada: venceu com facilidade. Quem não gostou disso foram as mulheres casadas. Ou seus respectivos cônjuges. Elas foram proibidas, desde então, pelos seus maridos, de assistirem às corridas pedestres. Provavelmente (e tenho plena convicção disso) os “machões” temiam que suas “caras metades” fizessem comprometedoras comparações de seus “dotes” com os dos atletas. É ou não é uma história pitoresca que, por causa do inusitado, sobreviveu ao tempo e ao esquecimento?

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