Qual sucesso?
Pedro
J. Bondacauk
Todas as pessoas, não
importa quais as atividades que exerçam, buscam o sucesso em seus
empreendimentos. Ninguém, nem mesmo o masoquista dos masoquistas, o sujeito com
ínfima auto-estima, que adora ser humilhado (e há mais pessoas assim do que o
leitor possa supor) se empenha para ser fracassado. E nem precisaria se
empenhar. O fracasso é sempre uma possibilidade na vida do sujeito que seja um
primor de competência. O diabo é que o
sucesso, essa palavrinha tão desejável,
é bastante ambígua. Cada qual a interpreta de determinada maneira e quase nunca
há consenso a propósito.
O que você classifica
de “sucesso”? Ganhar bastante dinheiro com o que faz? Conquistar prestígio,
fama, glória? Ser tido como o “melhor” na sua atividade? Tudo isso pode ser
considerado, e é, sucesso para uns, mas
nem tanto, para outros, que querem mais, muito mais.
E em literatura, o que
é ser bem-sucedido? Produzir best-sellers após best-sellers e se habilitar ao
Prêmio Nobel? Ser badalado pela imprensa e conquistar títulos e mais títulos?
Ser admitido na Academia Brasileira de Letras e receber “n” convites para
palestras e conferências, no Brasil e no Exterior? Ou se superar, em qualidade,
de um livro para outro, produzindo, em conjunto, uma obra consistente, preciosa
e imortal?
Depende de cada
escritor. Uns almejam, claro, fazer muito dinheiro com o seu talento. A imensa
maioria – a menos que se trate de um Paulo Coelho ou de um Jorge Amado,
campeoníssimos de vendas – se frustra neste aspecto. Quanto ao Nobel... Quantos
brasileiros já o conquistaram? Nenhum! Absolutamente nenhum!
A badalação pela
imprensa, por seu turno, é efêmera e passageira. Em três tempos, o escritor da
moda é substituído por outro, que talvez nem seja tão bom e este por um
terceiro e assim sucessivamente. Logo, cai-se no ostracismo e não raro não se é
mencionado jamais por jornais e revistas.
Esse tipo de sucesso é
como fumaça. Você não consegue retê-la e, mesmo que conseguisse, logo ela se
perderia irremediavelmente no ar. Eu, da minha parte, não escrevo para ser
bem-sucedido. Se o for, estarei no lucro. Caso contrário... não me frustrarei.
O português João Tordo
tem uma opinião bastante peculiar a respeito, com a qual compartilho
plenamente. Extraí este trecho, de um texto dele, do excelente sítio “O
Citador”, de Portugal: “O sucesso é para os políticos. Os escritores vivem
sempre na medida exata do seu fracasso que, romance após romance, se torna mais
notório e cada vez mais difícil, cada vez é mais pessoal. O sucesso completo
significaria que era inútil escrever mais livros”.
Está vendo a encrenca
em que você se meteu, caríssimo escritor, escolhendo esta estafante (mas
fascinante) atividade? Você acha que, quando Machado de Assis (ou Balzac,
Dostoievski, Tolstoi etc.) escrevia estava pensando em quantos livros venderia,
quais prêmios conquistaria, ou a qual academia seria guindado (e ele não
poderia ser a nenhuma do País, pois a primeira, por aqui, foi fundada
justamente por ele)?
Claro que não! A cada
novo livro, buscava superar, em qualidade o anterior. Por isso foi
bem-sucedido. Por não se preocupar com o sucesso. Mas rico, o nosso querido
Machadão não ficou. Por isso, esqueça essa história de dinheiro.
Temos que nos
considerar, sempre, fracassados (mesmo que de fato não o sejamos), sem
desanimar, contudo, em decorrência desse fracasso. Em vez disso, é preciso
tentar, tentar e tentar produzir a obra perfeita, cada vez melhor, cada vez
mais correta, precisa, clara e elegante, sem tréguas, sem descanso, sem
lero-lero, até o dia da nossa morte.
O verdadeiro sucesso
(caso o obtenhamos) só virá com a posteridade. Nunca saberemos se o obtivemos
ou não. É algo a ser deixado para os herdeiros (caso aconteça), como nosso
grande legado, que justifique todo nosso esforço e a própria opção que fizemos
na vida.
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