Friday, August 12, 2016

Qual sucesso?


Pedro J. Bondacauk


Todas as pessoas, não importa quais as atividades que exerçam, buscam o sucesso em seus empreendimentos. Ninguém, nem mesmo o masoquista dos masoquistas, o sujeito com ínfima auto-estima, que adora ser humilhado (e há mais pessoas assim do que o leitor possa supor) se empenha para ser fracassado. E nem precisaria se empenhar. O fracasso é sempre uma possibilidade na vida do sujeito que seja um primor de competência.  O diabo é que o sucesso,  essa palavrinha tão desejável, é bastante ambígua. Cada qual a interpreta de determinada maneira e quase nunca há consenso a propósito.

O que você classifica de “sucesso”? Ganhar bastante dinheiro com o que faz? Conquistar prestígio, fama, glória? Ser tido como o “melhor” na sua atividade? Tudo isso pode ser considerado, e é,  sucesso para uns, mas nem tanto, para outros, que querem mais, muito mais.

E em literatura, o que é ser bem-sucedido? Produzir best-sellers após best-sellers e se habilitar ao Prêmio Nobel? Ser badalado pela imprensa e conquistar títulos e mais títulos? Ser admitido na Academia Brasileira de Letras e receber “n” convites para palestras e conferências, no Brasil e no Exterior? Ou se superar, em qualidade, de um livro para outro, produzindo, em conjunto, uma obra consistente, preciosa e imortal?

Depende de cada escritor. Uns almejam, claro, fazer muito dinheiro com o seu talento. A imensa maioria – a menos que se trate de um Paulo Coelho ou de um Jorge Amado, campeoníssimos de vendas – se frustra neste aspecto. Quanto ao Nobel... Quantos brasileiros já o conquistaram? Nenhum! Absolutamente nenhum!

A badalação pela imprensa, por seu turno, é efêmera e passageira. Em três tempos, o escritor da moda é substituído por outro, que talvez nem seja tão bom e este por um terceiro e assim sucessivamente. Logo, cai-se no ostracismo e não raro não se é mencionado jamais por jornais e revistas.

Esse tipo de sucesso é como fumaça. Você não consegue retê-la e, mesmo que conseguisse, logo ela se perderia irremediavelmente no ar. Eu, da minha parte, não escrevo para ser bem-sucedido. Se o for, estarei no lucro. Caso contrário... não me frustrarei.

O português João Tordo tem uma opinião bastante peculiar a respeito, com a qual compartilho plenamente. Extraí este trecho, de um texto dele, do excelente sítio “O Citador”, de Portugal: “O sucesso é para os políticos. Os escritores vivem sempre na medida exata do seu fracasso que, romance após romance, se torna mais notório e cada vez mais difícil, cada vez é mais pessoal. O sucesso completo significaria que era inútil escrever mais livros”.

Está vendo a encrenca em que você se meteu, caríssimo escritor, escolhendo esta estafante (mas fascinante) atividade? Você acha que, quando Machado de Assis (ou Balzac, Dostoievski, Tolstoi etc.) escrevia estava pensando em quantos livros venderia, quais prêmios conquistaria, ou a qual academia seria guindado (e ele não poderia ser a nenhuma do País, pois a primeira, por aqui, foi fundada justamente por ele)?

Claro que não! A cada novo livro, buscava superar, em qualidade o anterior. Por isso foi bem-sucedido. Por não se preocupar com o sucesso. Mas rico, o nosso querido Machadão não ficou. Por isso, esqueça essa história de dinheiro.

Temos que nos considerar, sempre, fracassados (mesmo que de fato não o sejamos), sem desanimar, contudo, em decorrência desse fracasso. Em vez disso, é preciso tentar, tentar e tentar produzir a obra perfeita, cada vez melhor, cada vez mais correta, precisa, clara e elegante, sem tréguas, sem descanso, sem lero-lero, até o dia da nossa morte.

O verdadeiro sucesso (caso o obtenhamos) só virá com a posteridade. Nunca saberemos se o obtivemos ou não. É algo a ser deixado para os herdeiros (caso aconteça), como nosso grande legado, que justifique todo nosso esforço e a própria opção que fizemos na vida.

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