Quando o crescimento é utopia
Pedro J.
Bondaczuk
Os líderes dos sete países mais industrializados do
Ocidente, EUA, Japão, Alemanha Ocidental, Grã-Bretanha, França, Itália e Canadá
reúnem-se, a partir desta quinta-feira, em Bonn, para encontrar uma maneira de
assegurar a recuperação econômica mundial.
Dois temas, com certeza, vão
dominar o encontro dos notáveis da Trilateral: a ação predatória, promovida
pelo Japão, no mercado mundial (especialmente no norte-americano) e o crescente
desemprego registrado na Europa.
Ambas as questões têm uma certa
ligação entre si. A agressividade comercial japonesa vem levando os EUA a
adotarem crescentes medidas protecionistas que, no final das contas, acabam
afetando as exportações européias e desempregando, por conseqüência,
contingentes cada vez maiores de operários no Velho Continente.
As taxas de desemprego continuam
batendo sucessivos recordes na Grã-Bretanha, na França e na Alemanha Ocidental.
Estima-se que, dos 19 milhões de desempregados existentes nas sete potências
industrializadas do Ocidente, dois terços estejam apenas na Europa.
Se as medidas protecionistas já
afetam, com tamanha intensidade, as economias de povos tão desenvolvidos,
imagine-se o que ocorre no Terceiro Mundo, mais especificamente na endividada
América Latina, atolada até o pescoço em débitos com o sistema bancário
internacional e sufocada pelos altíssimos serviços a serem pagos a título,
apenas, de remuneração a esse capital emprestado!
Afinal, a única maneira desses
países, à beira da insolvência, honrarem seus compromissos, é exportando cada
vez mais. Entretanto, ironicamente, os mercados potencialmente compradores de
seus produtos cerram-se rigidamente, justo agora, buscam jogar os preços cada
vez mais para baixo e fixam cotas capazes de enlouquecer até o mais fleumático
dos empresários.
Acrescente-se, a esse
procedimento, a política recessiva imposta pelo Fundo Monetário Internacional
às economias dos infelizes devedores, na tentativa de trazer para níveis
suportáveis renitentes taxas inflacionárias estratosféricas, prática essa que
é, atualmente, desempregadora, para que se tenha um quadro aterrador, pintado,
até, com cores suaves, da grande bomba de tensões sociais montada e que a
qualquer momento pode explodir, com conseqüências imprevisíveis.
Na pauta dos trilateralistas,
essa questão não consta. Para eles, a recuperação econômica mundial passa,
necessariamente, pelo crescimento de suas próprias economias. E, par isso, é
quase fatal que deverão ser adotadas medidas que, de uma forma ou de outra, vão
afetar as nossas, já combalidas por décadas de exploração predatória alienígena
e de má gerência de inconscientes tecnocratas.
Depreende-se, portanto, que o
Terceiro Mundo, para cobrir o extorsivo serviço de sua dívida, terá que usar,
cada vez mis, de agressividade mercadológica, num mercado crescentemente menos
receptivo.
A brutal evasão de capitais,
registrada, especialmente, depois de 1982, seguirá evoluindo maquiavelicamente,
até que não haja mais nada para transferir aos credores, a título, tão somente,
de juros e de comissões. Da forma em que a questão está delineada, atualmente,
se conclui que o crescimento, para nós, será cada vez mis uma utopia.
Isto a menos que alguém se
disponha, de alguma forma genial, até hoje não encontrada por ninguém, a
desarmar essa imensa armadilha, num processo digno de um Harry Houdini, que
ficou célebre, no mundo todo, pelas suas façanhas de escapar de qualquer
corrente ou algema já criadas pelo homem.
(Artigo publicado na página 17, Internacional, do Correio Popular, em 28
de abril de 1985).
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