Thursday, August 25, 2016

Quando o crescimento é utopia


Pedro J. Bondaczuk


Os líderes dos sete países mais industrializados do Ocidente, EUA, Japão, Alemanha Ocidental, Grã-Bretanha, França, Itália e Canadá reúnem-se, a partir desta quinta-feira, em Bonn, para encontrar uma maneira de assegurar a recuperação econômica mundial.

Dois temas, com certeza, vão dominar o encontro dos notáveis da Trilateral: a ação predatória, promovida pelo Japão, no mercado mundial (especialmente no norte-americano) e o crescente desemprego registrado na Europa.

Ambas as questões têm uma certa ligação entre si. A agressividade comercial japonesa vem levando os EUA a adotarem crescentes medidas protecionistas que, no final das contas, acabam afetando as exportações européias e desempregando, por conseqüência, contingentes cada vez maiores de operários no Velho Continente.

As taxas de desemprego continuam batendo sucessivos recordes na Grã-Bretanha, na França e na Alemanha Ocidental. Estima-se que, dos 19 milhões de desempregados existentes nas sete potências industrializadas do Ocidente, dois terços estejam apenas na Europa.

Se as medidas protecionistas já afetam, com tamanha intensidade, as economias de povos tão desenvolvidos, imagine-se o que ocorre no Terceiro Mundo, mais especificamente na endividada América Latina, atolada até o pescoço em débitos com o sistema bancário internacional e sufocada pelos altíssimos serviços a serem pagos a título, apenas, de remuneração a esse capital emprestado!

Afinal, a única maneira desses países, à beira da insolvência, honrarem seus compromissos, é exportando cada vez mais. Entretanto, ironicamente, os mercados potencialmente compradores de seus produtos cerram-se rigidamente, justo agora, buscam jogar os preços cada vez mais para baixo e fixam cotas capazes de enlouquecer até o mais fleumático dos empresários.

Acrescente-se, a esse procedimento, a política recessiva imposta pelo Fundo Monetário Internacional às economias dos infelizes devedores, na tentativa de trazer para níveis suportáveis renitentes taxas inflacionárias estratosféricas, prática essa que é, atualmente, desempregadora, para que se tenha um quadro aterrador, pintado, até, com cores suaves, da grande bomba de tensões sociais montada e que a qualquer momento pode explodir, com conseqüências imprevisíveis.

Na pauta dos trilateralistas, essa questão não consta. Para eles, a recuperação econômica mundial passa, necessariamente, pelo crescimento de suas próprias economias. E, par isso, é quase fatal que deverão ser adotadas medidas que, de uma forma ou de outra, vão afetar as nossas, já combalidas por décadas de exploração predatória alienígena e de má gerência de inconscientes tecnocratas.

Depreende-se, portanto, que o Terceiro Mundo, para cobrir o extorsivo serviço de sua dívida, terá que usar, cada vez mis, de agressividade mercadológica, num mercado crescentemente menos receptivo.

A brutal evasão de capitais, registrada, especialmente, depois de 1982, seguirá evoluindo maquiavelicamente, até que não haja mais nada para transferir aos credores, a título, tão somente, de juros e de comissões. Da forma em que a questão está delineada, atualmente, se conclui que o crescimento, para nós, será cada vez mis uma utopia.

Isto a menos que alguém se disponha, de alguma forma genial, até hoje não encontrada por ninguém, a desarmar essa imensa armadilha, num processo digno de um Harry Houdini, que ficou célebre, no mundo todo, pelas suas façanhas de escapar de qualquer corrente ou algema já criadas pelo homem.

(Artigo publicado na página 17, Internacional, do Correio Popular, em 28 de abril de 1985).


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