Inigualável campeão
olímpico de há 2 milênios e meio
Pedro
J. Bondaczuk
Pense, caríssimo
leitor, em um sujeito forte. Contudo, exagere. Não pense em alguém com uma
força, digamos, “normal”. Ouse. Utilize todos os superlativos que lhe vierem à
cabeça: fortíssimo, fortão, super-hiper-mega-giga fortão e vai por aí afora.
Pensaram? Provavelmente vocês mentalizaram o personagem bíblico Sansão. Ou,
quem sabe, viajaram na fantasia e lhes veio à mente a mitológica figura de
Hércules, aquele dos doze trabalhos e que sustentaria a própria Terra sobre os
ombros. Quem pensou nele, foi longe demais. O fortíssimo ao qual pretendo me
referir existiu. Pelo menos a julgar pelo testemunho de historiadores. E sua
força não estava em seus cabelos, como era o caso de Sansão, mas exclusivamente
em seus músculos bem trabalhados. Não só existiu como foi campeão olímpico, e
não apenas uma vez, mas em seis oportunidades! E não só em uma modalidade,
porém nas três que existiam nos Jogos da remota antiguidade, nos da Grécia
Antiga. Seu nome? Milon de Croton.
Qual a façanha desse
super atleta, além de vencer todas as provas de lutas, nas três categorias
então existentes – luta livre, pugilato e pancrácio, que era uma versão
remotíssima do vale tudo, do atual MMA – o que, convenhamos, não é pouco? A se
acreditar nos historiadores das Olimpíadas da Antiguidade, cujos nomes não
citarei, pois recorri a vários deles e nenhum deles “testemunhou” os feitos de
Milon, mas recorreu, igualmente, a outros cronistas, cujos nomes também não
citaram, esse gigante musculoso, essa montanha de músculos, que além de tudo
era ágil e astuto, ganhou também outras competições de seu tempo, como os Jogos
Píticos. Neste torneio, aliás, derrotou todos os competidores quando tinha,
apenas, doze anos de idade, ou seja, quando criança.
Não é á toa, pois, que
seja tido e havido como recordista de sua modalidade em todos os tempos,
recorde até hoje, cerca de 2400 anos após se tornar campeoníssimo, jamais
igualado. Só o fato de haver participado de sete Olimpíadas consecutivas, mesmo
que não houvesse vencido nenhuma em sua modalidade, já seria o suficiente para
tornar-se “imortal”. Mas venceu! E seis delas: de 528 a.C. a 552 a.C. Perdeu,
apenas, a última, a de 556 a.C, quando já estava com 46 anos de idade, ou em
torno disso. E foi derrotado, apenas, na modalidade de luta livre. Ainda assim,
venceu no pugilato e no pancrácio. E quem conseguiu derrotar esse gigante
fenomenal? Foi um adolescente, de sua cidade natal, Thimaseteus de Croton, que
tinha metade do tamanho de Milon. Foi declarado vencedor, no entanto, sem
aplicar um único golpe no campeão. Passou a luta toda se esquivando, fugindo do
abraço de urso do até então invicto lutador. E, por não haver sido “dobrado”,
foi declarado vencedor. Eu, se estivesse na arquibancada, assistindo a esse
combate, não teria dúvidas em vaiar os juízes e gritar-lhes um sonoro
“ladrões”.
De acordo com os
historiadores, que imortalizaram Milon, ele não contava, apenas, com a força
bruta. Reunia, a um físico para lá de privilegiado, um cérebro ativo e agudo.
Tanto que era discípulo de ninguém menos do que o mítico filósofo e matemático
Pitágoras, aquele do famoso teorema, que foi mestre do não menos mítico Sócrates.
O cara era, mesmo, uma fortaleza física e intelectual. Claro que deve haver
exagero no relato dos historiadores, mas só o fato de sua simples existência
haver sobrevivido na memória dos povos por cerca de dois milênios e meio, já é
uma façanha. Ninguém resiste dessa forma à ação do tempo sendo pessoa comum.
Como testemunho de sua
enorme força muscular cita-se o caso de que, assistindo a uma lição de
Pitágoras, com vários discípulos do filósofo, o teto do recinto começou a
desabar. Estava prestes a acontecer, como se vê, uma catástrofe que poderia até
mudar os rumos da própria Filosofia e da Matemática, com a morte de gênios do
pensamento. Milon, todavia, estava ali. E o que fez? Correu? Não!!! Sustentou,
e apenas com uma das mãos, a estrutura que estava desabando, até que todos
tivessem saído do recinto. Dizem que sua força era tamanha, que conseguia
carregar, sem muito esforço, sua pesadíssima estátua de mármore. E que um dia,
chegou a carregar nas costas, apenas para se exibir, um touro de quatro anos, por
120 passos, matando, a seguir, o animal com um soco.
Pausânias (que lhes
apresentei em texto anterior) tratou, com detalhes, de Milon. A estátua desse
herói olímpico, na própria Olímpia, feita por Dameas de Croton, ainda existia
na época do notável geógrafo. O gigante foi tema, ainda, de diversas
representações na pintura e na escultura, Na Literatura, Milon foi citado por
François Rabelais, que fez comparações da força de seu personagem Gargântua com
a do campeão olímpico. William Shakespeare referiu-se a ele no 2° ato de Tróilo
e Créssida. Nem me lembro de nenhum atleta, dos Jogos atuais, que tenham
participado de sete Olimpíadas consecutivas. Aliás, lembro sim. A jogadora da
Seleção Brasileira de futebol feminino Formiga está igualando, agora, na Rio 2016,
o recorde de participação de Milon. Duvido que existam outros.
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