Saturday, August 06, 2016

Inigualável campeão olímpico de há 2 milênios e meio

Pedro J. Bondaczuk

Pense, caríssimo leitor, em um sujeito forte. Contudo, exagere. Não pense em alguém com uma força, digamos, “normal”. Ouse. Utilize todos os superlativos que lhe vierem à cabeça: fortíssimo, fortão, super-hiper-mega-giga fortão e vai por aí afora. Pensaram? Provavelmente vocês mentalizaram o personagem bíblico Sansão. Ou, quem sabe, viajaram na fantasia e lhes veio à mente a mitológica figura de Hércules, aquele dos doze trabalhos e que sustentaria a própria Terra sobre os ombros. Quem pensou nele, foi longe demais. O fortíssimo ao qual pretendo me referir existiu. Pelo menos a julgar pelo testemunho de historiadores. E sua força não estava em seus cabelos, como era o caso de Sansão, mas exclusivamente em seus músculos bem trabalhados. Não só existiu como foi campeão olímpico, e não apenas uma vez, mas em seis oportunidades! E não só em uma modalidade, porém nas três que existiam nos Jogos da remota antiguidade, nos da Grécia Antiga. Seu nome? Milon de Croton.

Qual a façanha desse super atleta, além de vencer todas as provas de lutas, nas três categorias então existentes – luta livre, pugilato e pancrácio, que era uma versão remotíssima do vale tudo, do atual MMA – o que, convenhamos, não é pouco? A se acreditar nos historiadores das Olimpíadas da Antiguidade, cujos nomes não citarei, pois recorri a vários deles e nenhum deles “testemunhou” os feitos de Milon, mas recorreu, igualmente, a outros cronistas, cujos nomes também não citaram, esse gigante musculoso, essa montanha de músculos, que além de tudo era ágil e astuto, ganhou também outras competições de seu tempo, como os Jogos Píticos. Neste torneio, aliás, derrotou todos os competidores quando tinha, apenas, doze anos de idade, ou seja, quando criança.

Não é á toa, pois, que seja tido e havido como recordista de sua modalidade em todos os tempos, recorde até hoje, cerca de 2400 anos após se tornar campeoníssimo, jamais igualado. Só o fato de haver participado de sete Olimpíadas consecutivas, mesmo que não houvesse vencido nenhuma em sua modalidade, já seria o suficiente para tornar-se “imortal”. Mas venceu! E seis delas: de 528 a.C. a 552 a.C. Perdeu, apenas, a última, a de 556 a.C, quando já estava com 46 anos de idade, ou em torno disso. E foi derrotado, apenas, na modalidade de luta livre. Ainda assim, venceu no pugilato e no pancrácio. E quem conseguiu derrotar esse gigante fenomenal? Foi um adolescente, de sua cidade natal, Thimaseteus de Croton, que tinha metade do tamanho de Milon. Foi declarado vencedor, no entanto, sem aplicar um único golpe no campeão. Passou a luta toda se esquivando, fugindo do abraço de urso do até então invicto lutador. E, por não haver sido “dobrado”, foi declarado vencedor. Eu, se estivesse na arquibancada, assistindo a esse combate, não teria dúvidas em vaiar os juízes e gritar-lhes um sonoro “ladrões”.

De acordo com os historiadores, que imortalizaram Milon, ele não contava, apenas, com a força bruta. Reunia, a um físico para lá de privilegiado, um cérebro ativo e agudo. Tanto que era discípulo de ninguém menos do que o mítico filósofo e matemático Pitágoras, aquele do famoso teorema, que foi mestre do não menos mítico Sócrates. O cara era, mesmo, uma fortaleza física e intelectual. Claro que deve haver exagero no relato dos historiadores, mas só o fato de sua simples existência haver sobrevivido na memória dos povos por cerca de dois milênios e meio, já é uma façanha. Ninguém resiste dessa forma à ação do tempo sendo pessoa comum.

Como testemunho de sua enorme força muscular cita-se o caso de que, assistindo a uma lição de Pitágoras, com vários discípulos do filósofo, o teto do recinto começou a desabar. Estava prestes a acontecer, como se vê, uma catástrofe que poderia até mudar os rumos da própria Filosofia e da Matemática, com a morte de gênios do pensamento. Milon, todavia, estava ali. E o que fez? Correu? Não!!! Sustentou, e apenas com uma das mãos, a estrutura que estava desabando, até que todos tivessem saído do recinto. Dizem que sua força era tamanha, que conseguia carregar, sem muito esforço, sua pesadíssima estátua de mármore. E que um dia, chegou a carregar nas costas, apenas para se exibir, um touro de quatro anos, por 120 passos, matando, a seguir, o animal com um soco.

Pausânias (que lhes apresentei em texto anterior) tratou, com detalhes, de Milon. A estátua desse herói olímpico, na própria Olímpia, feita por Dameas de Croton, ainda existia na época do notável geógrafo. O gigante foi tema, ainda, de diversas representações na pintura e na escultura, Na Literatura, Milon foi citado por François Rabelais, que fez comparações da força de seu personagem Gargântua com a do campeão olímpico. William Shakespeare referiu-se a ele no 2° ato de Tróilo e Créssida. Nem me lembro de nenhum atleta, dos Jogos atuais, que tenham participado de sete Olimpíadas consecutivas. Aliás, lembro sim. A jogadora da Seleção Brasileira de futebol feminino Formiga está igualando, agora, na Rio 2016, o recorde de participação de Milon. Duvido que existam outros.


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