Wednesday, August 31, 2016

Hora de cobrança


Pedro J. Bondaczuk


Os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga o escabroso esquema da manipulação do Orçamento da União à medida que avançam, identificam as falcatruas cometidas contra os cofres públicos, ou seja, contra o próprio País, mediante atos que se tornaram até comuns entre nossos corruptos, pilhados ou não em delito.

São contas fantasmas, lavagens de dinheiro procedente de propinas mediante as loterias, aquisição de imóveis em nome de testas-de-ferro, remessa de dólares para o exterior através de “leasing” e outros tantos atos imorais, desonestos e, sobretudo, criminosos, que dão náuseas nas pessoas honestas e de bom-senso.

O País como que parou nas últimas três semanas, aturdido, surpreendido, a cada dia, por novas e revoltantes revelações. Os trabalhos da polêmica revisão constitucional desenvolvem-se a passo de tartaruga. A economia está estagnada, com o esvaziamento da bolha de consumo que se manifestou entre abril e setembro.

Só a inflação não parou de crescer, para desespero dos brasileiros que, mais uma vez, têm que trocar um certo otimismo que estava renascendo pela descrença, pela desesperança, pela decepção e pela absoluta insegurança diante do amanhã.

A pergunta que mais se ouve por todo o País é: o que vai acontecer aos “sete anões”, que é como ficaram conhecidos os principais integrantes dessa quadrilha que vem agindo impunemente desviando preciosos e escassos recursos para seus insaciáveis bolsos e de seus asseclas? Teme-se que nada. Ou que, pelo menos, a CPI não vá fundo o suficiente para desvendar e neutralizar toda a rede de corrupção. O receio é que a cirurgia moralizante fique apenas na pele. Ou, quando muito, que somente extirpe a parte visível do tumor, sem evitar a metástase desse câncer moral.

Não seria a hora de a população deixar de lado sua proverbial passividade e, a exemplo do movimento pelo impeachment de Fernando Collor, sair às ruas para cobrar providências? Mas não como no caso PC Farias, quando se escolheu um bode-expiatório e se passou aos cidadãos a mensagem de que apenas ele comandava o tráfico de influência. Não há subornado sem subornador. E com esses, nada acontece?   

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 5 de novembro de 1993)


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