Hora
de cobrança
Pedro J. Bondaczuk
Os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito
que investiga o escabroso esquema da manipulação do Orçamento da União à medida
que avançam, identificam as falcatruas cometidas contra os cofres públicos, ou
seja, contra o próprio País, mediante atos que se tornaram até comuns entre
nossos corruptos, pilhados ou não em delito.
São contas fantasmas, lavagens de dinheiro
procedente de propinas mediante as loterias, aquisição de imóveis em nome de
testas-de-ferro, remessa de dólares para o exterior através de “leasing” e
outros tantos atos imorais, desonestos e, sobretudo, criminosos, que dão
náuseas nas pessoas honestas e de bom-senso.
O País como que parou nas últimas três semanas,
aturdido, surpreendido, a cada dia, por novas e revoltantes revelações. Os
trabalhos da polêmica revisão constitucional desenvolvem-se a passo de
tartaruga. A economia está estagnada, com o esvaziamento da bolha de consumo
que se manifestou entre abril e setembro.
Só a inflação não parou de crescer, para desespero
dos brasileiros que, mais uma vez, têm que trocar um certo otimismo que estava
renascendo pela descrença, pela desesperança, pela decepção e pela absoluta
insegurança diante do amanhã.
A pergunta que mais se ouve por todo o País é: o que
vai acontecer aos “sete anões”, que é como ficaram conhecidos os principais
integrantes dessa quadrilha que vem agindo impunemente desviando preciosos e
escassos recursos para seus insaciáveis bolsos e de seus asseclas? Teme-se que
nada. Ou que, pelo menos, a CPI não vá fundo o suficiente para desvendar e
neutralizar toda a rede de corrupção. O receio é que a cirurgia moralizante
fique apenas na pele. Ou, quando muito, que somente extirpe a parte visível do
tumor, sem evitar a metástase desse câncer moral.
Não seria a hora de a população deixar de lado sua
proverbial passividade e, a exemplo do movimento pelo impeachment de Fernando
Collor, sair às ruas para cobrar providências? Mas não como no caso PC Farias,
quando se escolheu um bode-expiatório e se passou aos cidadãos a mensagem de
que apenas ele comandava o tráfico de influência. Não há subornado sem
subornador. E com esses, nada acontece?
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 5 de novembro de 1993)
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