Um ato de amor
Pedro
J. Bondaczuk
Ensinar uma pessoa a
ler, e mostrar-lhe o grande prazer que é a leitura, é um ato de amor. Desvenda,
aos olhos de quem aprende, um mundo quase infinito de conhecimentos e de
possibilidades. Entendo que essa deveria ser tarefa dos pais, de todos eles,
embora hoje isso seja impossível. A razão? Simples. Mais de um bilhão deles
ainda são analfabetos.
Dos que não são, poucos
são os que têm “tempo” para os filhos, pretextando a “correria do mundo
moderno”. Esquecem-se, todavia, de horas e mais horas que desperdiçam a
pretexto de lazer, em atividades que sequer são de fato divertidas.
Há pais, no entanto,
que fazem questão de alfabetizar os filhos. Infelizmente são poucos. Os que não
o fazem sequer sabem o que perdem. Deixam de privar de momentos de intensa
afetividade, parceria e cumplicidade até, com sua prole. Quando ficam velhos,
lamentam amargamente não terem aproveitado melhor a presença dos filhos no lar.
Aí... já é tarde.
Claro que essa
alfabetização teria que ser lúdica. Teria que parecer, a quem aprende, que se
trata de uma gostosa e inteligente brincadeira. Caso pareça uma obrigação... O
tiro tende a sair pela culatra. A criança irá mentalizar que ler é desagradável
e chato, o que, evidentemente, não é.
Se os pais não
quiserem, ou não puderem alfabetizar os filhos, podem, pelo menos, motivá-los
de outras maneiras a ler. Como? Simples! Lendo-lhes, antes deles dormirem,
histórias... de Andersen, por exemplo, ou fábulas de La Fontaine ou de Esopo,
ou coisas assim. As crianças, quando crescerem, certamente nunca esquecerão
desses momentos de intimidade e de amor. E, sem que se dêem conta, até
subconscientemente, verão, sempre, no livro, um companheirão. Ao lerem, alguns
ouvirão, até, a voz do pai (ou da mãe) e se deleitarão com a leitura.
Pena que aqueles que
mais precisam saber ler não tenham a mais remota possibilidade de aprender
dessa maneira (e, não raro, de nenhum outro modo). Refiro às crianças pobres,
pobres mesmo, que vivam em lares onde toda a sorte de dificuldades seja sua
realidade cotidiana. E em que seus pais tenham que lutar pela simples comida do
jantar, sua prioridade máxima, e por isso não tenham, de fato, tempo, paciência,
disposição e, principalmente conhecimento para essa tarefa de amor.
Alguns desses meninos e
meninas sequer sabem quem são seus verdadeiros pais. Criam-se ao Deus dará,
como bichos e nunca como uma criança deveria ser criada. E os lugares em que
vivem são autênticas “sucursais do inferno” em que imperam a miséria, a
violência, a ignorância e outros tantos subprodutos da marginalidade.
Pena! Pena mesmo! A
leitura, nesses casos e a educação, claro seriam suas únicas chances de mudarem
de vida, de terem alguma ascensão social e econômica por menor que fosse e não
replicarem, com isso, o terrível tipo de vida dos pais. Querer que tenham
acesso ao livro, desgraçadamente, hoje não passa (ainda) de utopia.
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