Mondale decepciona
Pedro J. Bondaczuk
O debate realizado
anteontem, em Kansas City, no Estado de Missouri, entre os dois postulantes à
presidência dos EUA, pode ter selado a derrota eleitoral de Walter Mondale. O
candidato democrata teve uma atuação decepcionante diante das câmeras de
televisão e foi de uma inabilidade a toda a prova, não sabendo explorar as três
oportunidades que Reagan lhe concedeu para que ele o “massacrasse”
literalmente.
Ao
invés disso, procurou transmitir uma imagem assustadora ao eleitorado,
revelando um até aqui insuspeitado radicalismo nas questões essenciais que
preocupam os norte-americanos que já temem o do atual presidente.
Neste
debate, Reagan, sabidamente um homem duro e intransigente no trato com a União
Soviética, saiu com sua imagem bastante melhorada, nesse aspecto, parecendo
mais um pacifista ponderado e conciliador, do que o presidente que sempre
considerou a superpotência adversária “o império do demônio”.
E
isso aconteceu não porque ele tenha eventualmente mudado seus conceitos acerca
dos russos. O candidato diante das câmeras ainda era o mesmo que havia feito a
anedota de mau gosto, há apenas dois meses, afirmando que em cinco minutos
iniciaria a destruição da URSS.
Era,
também, aquele que havia ordenado a intervenção armada em Granada e que, em
todo o seu mandato, não teve uma única reunião de cúpula com os dirigentes do
Cremlin. Era, ainda, o presidente que fez vistas grossas às múltiplas ações
ilegais praticadas pela CIA na América Central.
Mas
diante de um Mondale assustador, passou perante os telespectadores por um líder
equilibrado, capaz de até fornecer aos russos a tecnologia que tornará as armas
atômicas “obsoletas”, apresentando uma inusitada receita para acabar com o
pesadelo que a humanidade vive, ante o risco real (e desgraçadamente cada vez
mais iminente) de ser destruída.
Diante
de um adversário inábil e trapalhão, passou pelo idealista que sonha em
construir uma sociedade equilibrada e justa, onde os direitos humanos de todos
sejam respeitados. É mais uma contradição dessa campanha, toda ela
contraditória.
O
cúmulo da incompetência de Mondale no debate, entretanto, foi demonstrado
quando foi levantada a questão da idade dos candidatos. A opinião pública
norte-americana, embora não se propale abertamente pela delicadeza de que se
reveste o assunto, tem suas dúvidas se Reagan, com 73 anos de idade, teria o
vigor suficiente para enfrentar a multiplicidade de crises que, certamente,
virão nesse segundo mandato que ele postula.
Um
dos debatedores ofereceu o tema na bandeja ao desafiante democrata. E o que
esse fez? Mostrou uma espantosa timidez, uma brutal insensibilidade política, e
desviou esse assunto para outra área, permitindo até mesmo que o presidente se
valesse dele para fazer anedota, ao afirmar que “teme pela inexperiência de um
candidato jovem”, como Mondale.
Depois
desse confronto, a menos que ocorra algum espantoso desastre de campanha ou um
dramático erro de avaliação geral, os EUA já podem considerar que têm,
virtualmente, seu novo presidente. E este, salvo a ocorrência da maior zebra
eleitoral da história, é o republicano Ronald Wilson Reagan.
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 23 de outubro de
1984).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment