Monday, August 08, 2016

Mondale decepciona


Pedro J. Bondaczuk


O debate realizado anteontem, em Kansas City, no Estado de Missouri, entre os dois postulantes à presidência dos EUA, pode ter selado a derrota eleitoral de Walter Mondale. O candidato democrata teve uma atuação decepcionante diante das câmeras de televisão e foi de uma inabilidade a toda a prova, não sabendo explorar as três oportunidades que Reagan lhe concedeu para que ele o “massacrasse” literalmente.

Ao invés disso, procurou transmitir uma imagem assustadora ao eleitorado, revelando um até aqui insuspeitado radicalismo nas questões essenciais que preocupam os norte-americanos que já temem o do atual presidente.

Neste debate, Reagan, sabidamente um homem duro e intransigente no trato com a União Soviética, saiu com sua imagem bastante melhorada, nesse aspecto, parecendo mais um pacifista ponderado e conciliador, do que o presidente que sempre considerou a superpotência adversária “o império do demônio”.

E isso aconteceu não porque ele tenha eventualmente mudado seus conceitos acerca dos russos. O candidato diante das câmeras ainda era o mesmo que havia feito a anedota de mau gosto, há apenas dois meses, afirmando que em cinco minutos iniciaria a destruição da URSS.

Era, também, aquele que havia ordenado a intervenção armada em Granada e que, em todo o seu mandato, não teve uma única reunião de cúpula com os dirigentes do Cremlin. Era, ainda, o presidente que fez vistas grossas às múltiplas ações ilegais praticadas pela CIA na América Central.

Mas diante de um Mondale assustador, passou perante os telespectadores por um líder equilibrado, capaz de até fornecer aos russos a tecnologia que tornará as armas atômicas “obsoletas”, apresentando uma inusitada receita para acabar com o pesadelo que a humanidade vive, ante o risco real (e desgraçadamente cada vez mais iminente) de ser destruída.

Diante de um adversário inábil e trapalhão, passou pelo idealista que sonha em construir uma sociedade equilibrada e justa, onde os direitos humanos de todos sejam respeitados. É mais uma contradição dessa campanha, toda ela contraditória.

O cúmulo da incompetência de Mondale no debate, entretanto, foi demonstrado quando foi levantada a questão da idade dos candidatos. A opinião pública norte-americana, embora não se propale abertamente pela delicadeza de que se reveste o assunto, tem suas dúvidas se Reagan, com 73 anos de idade, teria o vigor suficiente para enfrentar a multiplicidade de crises que, certamente, virão nesse segundo mandato que ele postula.

Um dos debatedores ofereceu o tema na bandeja ao desafiante democrata. E o que esse fez? Mostrou uma espantosa timidez, uma brutal insensibilidade política, e desviou esse assunto para outra área, permitindo até mesmo que o presidente se valesse dele para fazer anedota, ao afirmar que “teme pela inexperiência de um candidato jovem”, como Mondale.

Depois desse confronto, a menos que ocorra algum espantoso desastre de campanha ou um dramático erro de avaliação geral, os EUA já podem considerar que têm, virtualmente, seu novo presidente. E este, salvo a ocorrência da maior zebra eleitoral da história, é o republicano Ronald Wilson Reagan.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 23 de outubro de 1984).


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