Tragédia da violência está na simplicidade
Pedro J.
Bondaczuk
As nações industrializadas do Ocidente, ao que parece,
aprenderam a lição de como se verem menos expostas aos atos terroristas: a
cooperação. Nesse aspecto, certamente, o ano de 1985 deve ter ensinado muita
coisa para todos os seus dirigentes.
Com os extremistas, não se pode
baixar a guarda um único instante. Qualquer cochilo pode ser fatal. Às vezes
redunda em uma centena de vítimas inocentes. A França, mais do que ninguém,
para ter aprendido isso muito bem. Não menosprezou a ameaça recebida na
segunda-feira, de um grupo libanês, e nem se intimidou. Simplesmente reforçou a
segurança da sua capital e intensificou as investigações ao redor de Paris,
descobrindo um depósito de explosivos, que provavelmente iriam ser usados na
onda de atentados prometida pela organização terrorista.
Com esses extremistas fanáticos é
inútil se apelar para sentimentos. Um jovem palestino, Farah Asturk, autor do
livro “O Deserdado”, definiu muito bem, num determinado trecho dessa obra, o
que os que lançam mão do terror, como instrumento de reivindicação política,
pensam. Afirmou: “No mundo de hoje não há inocentes. Ninguém é neutro. Não há
inocentes porque as vítimas são encaradas como o cordeiro de um sacrifício”.
Os responsáveis pela segurança
pública, de nove países industrializados, que se reuniram, ontem, em Paris,
para estreitar a cooperação internacional anti-terror, devem estar cientes de
que, quanto mais sofisticado for o seu arsenal de combate a tais pessoas,
quanto mais treinadas forem as suas polícias, ainda assim não conseguirão
extinguir esse flagelo, que não é somente do nosso tempo, mas que agora adquire
características de verdadeira guerra.
Não faz muito, o guerrilheiro
Abbu Abbas disse, em entrevista que concedeu a jornalistas ocidentais, que o
terrorismo é a arma da Terceira Guerra Mundial. Aliás, não foi somente ele que
garantiu isso. Muitos outros radicais asseguraram que tal conflito já está em
andamento, sem prazo algum para se agravar e muito menos para terminar.
Os extremistas levam uma vantagem
enorme sobre os que são encarregados de conter suas ações. Enquanto as
autoridades precisam valer-se de enormes aparatos de segurança, investir
milhões no treinamento de agentes e no armamento desse pessoal, os
guerrilheiros urbanos contam com a surpresa e a simplicidade das suas ações a
seu favor.
A grande tragédia é que não
existe nada mais simples neste mundo do que a violência voltada à destruição.
Para se construir algo, existe todo um penoso processo de estudo, de
aperfeiçoamento técnico, de permanente empenho. Mas para destruir, não há
nenhuma ciência. Até as feras irracionais são exímias na execução dessa
inglória tarefa.
A esse propósito, o psiquiatra e
psicanalista norte-americano Frederich Hacker observou, em seu livro “Agressão
e Violência no Mundo Moderno”: “O que faz o sucesso da violência é a sua
simplicidade”.
Por isso, é muito saudável que os
dirigentes se preocupem com esse mal. Que definam fórmulas para proteger os
cidadãos das grandes metrópoles, já tão massacrados no seu cotidiano por outras
formas de agressão. Mas o ideal seria que eles não se limitassem a curar a
manifestação da doença, mas que procurassem chegar às suas causas e a
extirpassem.
Que mediante uma legislação
coerente e justa, se corrigissem as enormes distorções existentes, que criam
duas categorias de homens: os super, a quem tudo é permitido e facultado, e que
atravessam a existência cobertos de privilégios, sem que deixem em troca nada
de útil e produtivo para a posteridade; e os sub (sub-alimentados,
sub-nutridos, sub-educados, que sub-habitam e, meramente, subsistem), sem os
quais não existiria, sequer, organização social, posto que é do seu trabalho
que as riquezas da coletividade são geradas. Mas, como primeiro passo, é para
lá de válida uma reunião do tipo da que foi realizada ontem em Paris.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 29
de maio de 1987).
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