Malta pode sepultar Yalta
Pedro J.
Bondaczuk
A reunião de cúpula que os presidentes George Bush, dos
Estados Unidos, e Mikhail Gorbachev, da União Soviética, vão sustentar nos dias
2 e 3 de dezembro próximo, embora ambas as partes tenham avisado que terá um
caráter informal, de simples conhecimento mútuo, pode ser a pá de terra que
ainda faltava para sepultar a política de confrontação das superpotências
conhecida como “guerra fria” .
Tal procedimento manteve o mundo
em permanente estado de tensão e de medo, diante da possibilidade da eclosão de
um conflito nuclear. Foi, também, este espírito de antagonismo que deflagrou a
perversa corrida armamentista, que drenou preciosos recursos das áreas sociais
para a fabricação de armas, cada vez mais potentes e aterrorizantes.
Parte deste estado de coisas
derivou de uma outra reunião de cúpula, a de Yalta, entre o então presidente
norte-americano, Franklin Delano Roosevelt; o primeiro-ministro britânico
(legendária figura) Winston Churchill e o ditador soviético (de triste
lembrança para todos), Joseph Stalin, de 4 a 11 de fevereiro de 1945.
Foi nesse encontro, desenvolvido
na cidade da Criméia que lhe emprestou o nome, que se estabeleceu a situação
que agora pode estar terminando. Ou seja, a fixação dos limites da Europa do
pós-guerra, com o estabelecimento das zonas de influência de Moscou, na parte
oriental, e de Washington, na ocidental.
Mais do que um jogo de rima, no
entanto, na conferência de Malta isto pode ter um fim. E não será nem
necessária a assinatura de qualquer acordo formal. Bastarão, somente, as
palavras de Bush e Gorbachev para que isso se configure, tamanha é a
credibilidade atual desses dois estadistas.
Pela troca sutil de mensagens,
quer através de cartas, quer mediante comunicações telefônicas diretas, quer
por meio de terceiros ou pela imprensa, percebe-se uma nítida, marcante,
decisiva vontade de ambas as partes de acabar com a “guerra fria” .E já não era
sem tempo, convenhamos.
A ansiedade do presidente
norte-americano por esse encontro, portanto, é plenamente justificada. Assim
como o otimismo manifestado em sucessivas pesquisas pelas populações dos
Estados Unidos e da União Soviética.
Os acontecimentos dos últimos
tempos foram até entusiasmantes e chegam a contagiar, inclusive, o analista,
que por força de sua função, não pode perder a sua postura sisuda, paras que
sua vontade não acabe passando como sendo fato. Para alívio e satisfação geral,
tudo leva a crer que, 44 anos após os canhões terem se calado, a Segunda Guerra
vai ser, finalmente, sepultada de vez.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 24
de novembro de 1989).
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