Thursday, June 16, 2016

Malta pode sepultar Yalta


Pedro J. Bondaczuk


A reunião de cúpula que os presidentes George Bush, dos Estados Unidos, e Mikhail Gorbachev, da União Soviética, vão sustentar nos dias 2 e 3 de dezembro próximo, embora ambas as partes tenham avisado que terá um caráter informal, de simples conhecimento mútuo, pode ser a pá de terra que ainda faltava para sepultar a política de confrontação das superpotências conhecida como “guerra fria” .

Tal procedimento manteve o mundo em permanente estado de tensão e de medo, diante da possibilidade da eclosão de um conflito nuclear. Foi, também, este espírito de antagonismo que deflagrou a perversa corrida armamentista, que drenou preciosos recursos das áreas sociais para a fabricação de armas, cada vez mais potentes e aterrorizantes.

Parte deste estado de coisas derivou de uma outra reunião de cúpula, a de Yalta, entre o então presidente norte-americano, Franklin Delano Roosevelt; o primeiro-ministro britânico (legendária figura) Winston Churchill e o ditador soviético (de triste lembrança para todos), Joseph Stalin, de 4 a 11 de fevereiro de 1945.

Foi nesse encontro, desenvolvido na cidade da Criméia que lhe emprestou o nome, que se estabeleceu a situação que agora pode estar terminando. Ou seja, a fixação dos limites da Europa do pós-guerra, com o estabelecimento das zonas de influência de Moscou, na parte oriental, e de Washington, na ocidental.

Mais do que um jogo de rima, no entanto, na conferência de Malta isto pode ter um fim. E não será nem necessária a assinatura de qualquer acordo formal. Bastarão, somente, as palavras de Bush e Gorbachev para que isso se configure, tamanha é a credibilidade atual desses dois estadistas.

Pela troca sutil de mensagens, quer através de cartas, quer mediante comunicações telefônicas diretas, quer por meio de terceiros ou pela imprensa, percebe-se uma nítida, marcante, decisiva vontade de ambas as partes de acabar com a “guerra fria” .E já não era sem tempo, convenhamos.

A ansiedade do presidente norte-americano por esse encontro, portanto, é plenamente justificada. Assim como o otimismo manifestado em sucessivas pesquisas pelas populações dos Estados Unidos e da União Soviética.

Os acontecimentos dos últimos tempos foram até entusiasmantes e chegam a contagiar, inclusive, o analista, que por força de sua função, não pode perder a sua postura sisuda, paras que sua vontade não acabe passando como sendo fato. Para alívio e satisfação geral, tudo leva a crer que, 44 anos após os canhões terem se calado, a Segunda Guerra vai ser, finalmente, sepultada de vez.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 24 de novembro de 1989).


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