Falta
alegria
Pedro J. Bondaczuk
O mundo carece, cada vez mais, de
alegria. As pessoas, a cada dia que passa, tornam-se (salvo honrosas exceções)
mais solitárias, mais macambúzias, mais mal-humoradas e, sobretudo, mais
tristes. É possível que essa evolução da solidão e do desamparo seja apenas
quantitativa, dado o explosivo aumento da população mundial, notadamente a
partir da última metade do século passado. Talvez...
É provável que as mazelas e
infelicidades que assolam o homem deste início de século XXI sejam as
mesmíssimas de sempre, embora afetando maior quantidade de gente. Nas grandes
cidades, por exemplo, crescem, em progressão geométrica, a desconfiança e o
medo.
Andar nas ruas, exercício há não
muito simples e trivial, transforma-se, dramaticamente, em perigosa aventura,
face aos inúmeros perigos, absolutamente reais, com os quais nos confrontamos,
como assaltos, atropelamentos, balas perdidas etc., que expõem a risco não
apenas nossa integridade física, mas, principalmente a vida. Corremos o risco
de sair de casa para um simples passeio e jamais regressarmos. Ou de irmos
parar num hospital com alguma grave mutilação que nos marque para sempre.
Como a Literatura é o reflexo da
vida, do comportamento das pessoas de um determinado tempo, esta também anda,
há já bom tempo, um tanto sombria e tensa. Falta, nela, o riso, o bom-humor e a
alegria de escrever. Carece, por exemplo, da ironia de um George Bernard Shaw,
da picardia de Mark Twain, da observação irônica e sempre inteligente de Mário
Quintana, de Carlos Drummond de Andrade e, sobretudo, do “Bruxo do Cosme
Velho”, Machado de Assis.
É verdade que temos bons
escritores, e em
profusão. Sinto , porém, que lhes falta o riso, embora abunde
o siso; lhes falta a descontração, a observação galhofeira, o rir de si mesmo,
em vez de escrachar pessoas humildes e fracas de cabeça, em textos que, não
raro, descambam para o preconceito implícito (quando não explícito).
Está aí magnífico filão a ser
explorado por escritores ousados e observadores que, certamente, lhes renderá
bons dividendos caso se disponham a explorá-lo com competência, criatividade e
picardia. Que tal trazer um pouquinho de alegria e de luz a um mundo
crescentemente sombrio, violento, injusto, revoltante e, sobretudo, triste?
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