Tuesday, June 14, 2016

Fracassa 2ª tentativa de anexar Kuwait


Pedro J. Bondaczuk


O Kuwait reconquistou a independência nacional perdida em 2 de agosto de 1990, com a decisão do presidente iraquiano, Saddam Hussein, de retirar suas tropas do emirado ocupado, reconhecendo sua incapacidade militar de vencer a poderosíssima máquina de guerra montada pelos Estados Unidos e seus aliados para barrar suas pretensões.

O povo kuwaitiano recebeu esse presente anteontem, uma data muito especial para o país, já que se tratou do Dia da Pátria, ali, 25 de fevereiro. Embora retornando para um território arrasado, saqueado e em chamas, dados os incêndios que lavram em mais de 600 dos seus 950 poços de petróleo, sua população tem todos os motivos do mundo para comemorar. E o Iraque, dessa maneira, vê frustrada sua segunda tentativa de anexar o pequeno emirado vizinho, transformando-o em sua 19ª província.

A primeira aventura desse tipo foi de autoria de um militar parecido em muita coisa com Saddam Hussein. Foi o general Abdul Karim Kassem, que em 1961, às voltas com uma rebelião curda em seu país, ameaçou o Kuwait com a anexação --- nesse ano, em 19 de junho, a soberania e independência kuwaitianas foram reconhecidas pela Grã-Bretanha ---, o que sempre se constituiu num sonho para várias gerações de soldados iraquianos.

Os britânicos impediram a concretização desse ato, embora de maneira muitíssimo menos dramática e terrível do que agora, quando o Iraque foi transformado num montão de ruínas pelas bombas aliadas.

Dois anos depois desse fracasso, o truculento oficial responsável pela derrubada da monarquia e pela morte trágica do rei Faisal II e do príncipe herdeiro, cujos restos foram entregues a uma multidão histérica e descontrolada, saiu direto do palácio presidencial para a prisão.

Foi deposto por um golpe militar e mandado para o patíbulo. Tudo leva a crer que um destino semelhante aguarda Saddam Hussein. O povo iraquiano, que chegou a acreditar nos sonhos de grandeza nacional com que esse duro beduíno lhe acenou, certamente está farto de suas aventuras. Suas opções para o futuro são poucas e nada brilhantes.

Ou termina capturado pelos aliados, que não estão dispostos a lhe dar trégua enquanto não o liquidarem, e acaba sendo julgado por crimes de guerra. Ou será deposto por algum dos seus generais que seja mais pragmático, e que objetive um destino mais realista para seu país, que não seja o de se tornar superpotência militar às custas da miséria da população. Ou ainda um terceiro caminho: o do suicídio. Teme-se que seja a alternativa a ser escolhida por Saddam.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 27 de fevereiro de 1991).


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