Fracassa 2ª tentativa de
anexar Kuwait
Pedro J. Bondaczuk
O
Kuwait reconquistou a independência nacional perdida em 2 de agosto de 1990,
com a decisão do presidente iraquiano, Saddam Hussein, de retirar suas tropas
do emirado ocupado, reconhecendo sua incapacidade militar de vencer a
poderosíssima máquina de guerra montada pelos Estados Unidos e seus aliados
para barrar suas pretensões.
O
povo kuwaitiano recebeu esse presente anteontem, uma data muito especial para o
país, já que se tratou do Dia da Pátria, ali, 25 de fevereiro. Embora
retornando para um território arrasado, saqueado e em chamas, dados os
incêndios que lavram em mais de 600 dos seus 950 poços de petróleo, sua
população tem todos os motivos do mundo para comemorar. E o Iraque, dessa maneira,
vê frustrada sua segunda tentativa de anexar o pequeno emirado vizinho,
transformando-o em sua 19ª província.
A
primeira aventura desse tipo foi de autoria de um militar parecido em muita
coisa com Saddam Hussein. Foi o general Abdul Karim Kassem, que em 1961, às
voltas com uma rebelião curda em seu país, ameaçou o Kuwait com a anexação ---
nesse ano, em 19 de junho, a soberania e independência kuwaitianas foram
reconhecidas pela Grã-Bretanha ---, o que sempre se constituiu num sonho para
várias gerações de soldados iraquianos.
Os
britânicos impediram a concretização desse ato, embora de maneira muitíssimo
menos dramática e terrível do que agora, quando o Iraque foi transformado num
montão de ruínas pelas bombas aliadas.
Dois
anos depois desse fracasso, o truculento oficial responsável pela derrubada da
monarquia e pela morte trágica do rei Faisal II e do príncipe herdeiro, cujos
restos foram entregues a uma multidão histérica e descontrolada, saiu direto do
palácio presidencial para a prisão.
Foi
deposto por um golpe militar e mandado para o patíbulo. Tudo leva a crer que um
destino semelhante aguarda Saddam Hussein. O povo iraquiano, que chegou a
acreditar nos sonhos de grandeza nacional com que esse duro beduíno lhe acenou,
certamente está farto de suas aventuras. Suas opções para o futuro são poucas e
nada brilhantes.
Ou
termina capturado pelos aliados, que não estão dispostos a lhe dar trégua
enquanto não o liquidarem, e acaba sendo julgado por crimes de guerra. Ou será
deposto por algum dos seus generais que seja mais pragmático, e que objetive um
destino mais realista para seu país, que não seja o de se tornar superpotência
militar às custas da miséria da população. Ou ainda um terceiro caminho: o do
suicídio. Teme-se que seja a alternativa a ser escolhida por Saddam.
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 27 de fevereiro
de 1991).
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