Miséria socializada
Pedro J. Bondaczuk
A
pesquisa "Crianças e Adolescentes-Indicadores Sociais", divulgada, na
semana passada, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, mostra
que, entre outras coisas, o Brasil é a sociedade mais injusta do Planeta em
termos de distribuição de renda.
Nesse
aspecto, o País perde, inclusive, para povos que se situam no chamado Quarto
Mundo, ou seja, as 42 sociedades nacionais mais pobres da comunidade
internacional, como Gana, na África, e Bangladesh, na Ásia. Os mais penalizados
com as políticas concentracionistas perversas, que massacram os brasileiros há
pelo menos um século, são os elos mais frágeis da corrente social: os menores
de idade e os idosos.
O
estudo do IBGE, ultrapassado, pois referente a 1990, extraído da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio, revela que o Brasil conta com 59,7 milhões
de crianças e adolescentes, entre os 7 e os 17 anos. Deixou, portanto, de ser
um dos países mais jovens do mundo, já que conta com uma população adulta de
86,5 milhões de pessoas, aí incluídos os velhos.
O
dado mais chocante, todavia, é o que se refere à renda familiar. Mais da metade
do público infantil brasileiro, 32 milhões de menores, provém de famílias cujo
rendimento mensal per capita é de mísero meio salário mínimo. Todo esse
contingente, portanto, que representa o futuro da Pátria, vegeta abaixo da
linha da miséria. É estarrecedor!
Mais
revoltante ainda se torna essa constatação diante dos escândalos que se
sucederam, de março do ano passado para cá, envolvendo desvio de bilhões,
talvez trilhões de cruzeiros dos cofres públicos, que foram parar nos bolsos de
alguns espertalhões.
É
desnecessário recapitular tais episódios, como a falcatrua ocorrida na Legião
Brasileira de Assistência. Como os rombos aplicados nas finanças da Previdência
Social, através de aposentadorias fantasmas ou de valores superdimensionados.
Como os casos das mochilas e bicicletas do Ministério da Saúde. Ou como o
"affaire" envolvendo o ex-ministro Antonio Rogério Magri, culminando
com o esquema PC, fartamente conhecido por causa das revelações que vieram ao
público por parte da recente Comissão Parlamentar de Inquérito.
Se
em 1990 --- antes, portanto, da perversa recessão que vem empobrecendo, cada
vez mais, os brasileiros --- a situação já era tão deprimente, imagine-se agora
como é que não está! A pesquisa revela, entre outras coisas, que há dois anos,
4 milhões de crianças, entre os 7 e os 14 anos, estavam fora das escolas. O
analfabetismo, acima dos 15 anos, chegava a 18,3%.
E
o relatório não diz nada acerca dos meninos e meninas de rua. Omite-se sobre
esse imenso contingente que cresce ao Deus dará, à espera de que alguma doença,
ou bala assassina, elimine de vez esses seres humanos sem afeto, perspectiva,
esperança e sem futuro.
É
verdade que o País precisa de um choque ético na vida pública. Mas necessita de
mais do que isso. Precisa, urgentemente, repensar as relações desta sociedade
em que à maioria são reservados somente deveres e contratempos, para que uma
minoria mande para o Exterior --- estima-se que US$ 60 bilhões de capitais
brasileiros estejam aplicados no estrangeiro --- o fruto de todo o esforço
coletivo. É deprimente e revoltante!
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 16 de setembro de 1992).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment