Hora
de enxugar
Pedro J. Bondaczuk
Escritor amigo, você conseguiu!
Após seis árduos meses de intenso trabalho intelectual, seu tão sonhado
primeiro romance está pronto. Agora, você já pode iniciar a parte mais árdua do
seu projeto. E não me refiro às tentativas de publicação. Há coisas muito mais
importantes, ainda, a fazer. “Como?!”, perguntará você, farto dos tantos
palpites deste Editor. “Não tenho coisa importante nenhuma a fazer ainda!”,
dirá, entredentes. Tem sim.
Seja sincero: precisava escrever
864 páginas?!! Esse calhamaço massudo não tem a menor chance de interessar
qualquer editor. Seu livro sequer será apreciado por aqueles que lêem os
originais e recomendam às editoras em que trabalham para que os publiquem.
Entre outras coisas, o custo seria proibitivo. O preço de capa precisaria ser
tão alto que você poderia se dar por satisfeito se conseguisse vender 20
exemplares. E se quiser bancar a edição do seu bolso... Prepare-se para um
maiúsculo prejuízo.
Portanto, você tem, ainda, muito
trabalho pela frente. Ou seja, chegou, agora, a fase de revisão do que você
escreveu. Ou melhor, das “revisões”, pelo menos vinte, sem nenhum exagero,
tanto para detectar erros de gramática, falhas de estilo e outras coisas mais,
quanto, e principalmente, para “enxugar” seu romance. Com muito favor, ele deve
ser reduzido, digamos, para 230 páginas. Vamos! Você consegue.
Bem, você começou os cortes. Fez
três revisões e conseguiu reduzir o calhamaço que escreveu para 603 páginas.
Terá, pois, que cortar muito ainda, para se aproximar do ideal. Por que, por
exemplo, três histórias paralelas? Se não quiser perder seu trabalho, faça o
seguinte: dê “control c e control v” em cada uma delas e salve-as no arquivo de
esboços do seu computador. Cada uma delas lhe renderá, provavelmente, novos
romances no futuro. Não gaste toda a sua munição de uma só vez.
Bem, com os cortes das histórias
paralelas o livro ficou, agora, com 330 páginas. Ainda é muito! Use seu poder
de síntese. Reescreva os capítulos mais longos, suprimindo o excesso de
descrições. Deixe por conta do leitor, que não é burro, imaginar os detalhes
dos cenários em que os personagens atuam.
Ademais, aquele perfil
psicológico, do herói da sua história, precisa ser tão extenso? Convenhamos,
três páginas inteiras, apenas para isso, é imenso exagero. Reduza-o para um
parágrafo. Você, escrevendo tanto, não está sendo erudito como pretendia, mas
apenas prolixo. O leitor irá interpretar sua erudição como mera enrolação.
Dê vida ao seu romance. Dê-lhe
dinamismo, vivacidade e ação. Use e abuse dos diálogos e suprima suas
considerações pessoais. Imagine que seu romance seja o roteiro de um filme.
Dê-lhe agilidade.
Muito bem, você conseguiu, após a
nona revisão! Agora é o momento de você atentar para a linguagem. Seja simples,
direto e objetivo. Por que escrever, por exemplo, “a grama viceja”, se poderia
dizer, a mesma coisa, escrevendo “a grama cresce”? Há, ainda, um monte dessas
“preciosidades” que lhe compete alterar.
É verdade que as editoras têm
revisores, e muito bons. Mas você não vai querer que eles achem que você não
conhece gramática, não é mesmo? Corrija os erros mais ostensivos. Você
consegue. Já cumpriu tarefas muito piores. Que escape um ou outro errinho de
concordância, ou alguma incorreção no uso de pronomes, principalmente com a
mistura do tu e você, vá lá! Os revisores não os deixarão passar. Mas é bom
que, doravante, policie o que e como você fala. Os vícios da linguagem oral não
raro contaminam a escrita.
Bem, o mais “fácil” já está
feito. O romance está escrito e você até chegou a exagerar nas revisões: fez
vinte e oito. Agora vem aquela etapa que este Editor já tratou em “n” textos
anteriores: a que diz respeito à publicação, divulgação e distribuição. A esta
altura, só posso desejar-lhe boa sorte. Você precisará, e muito, dela, acredite!
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