Testando
a responsabilidade
Pedro J. Bondaczuk
O Plano Collor, de combate sem tréguas à inflação,
entra, amanhã, numa nova fase, com o abandono da famosa lista da Sunab como
instrumento de contenção dos preços. Gêneros como a carne de segunda, o açúcar
refinado, o óleo de soja, a margarina, o arroz tipo 2 e o feijão carioquinha
ficam liberados.
Doravante, os responsáveis pela comercialização
desses produtos vão ser desafiados a mostrar que têm, de fato, responsabilidade
e estão prontos para a nova fase de modernização econômica que o governo
pretende implantar, com o estabelecimento de uma autêntica economia de mercado.
Teme-se que num primeiro instante, pelo menos,
alguém se sentirá tentado a exagerar, a ganhar muito com a nova situação. É um
risco que as autoridades terão que correr. Caso ocorra uma eventual explosão de
preços em algum desses produtos, a inflação, que em agosto ainda ficou em dois
dígitos, ao registrar 10,58% (ligeiramente menor do que a de julho) pode ganhar
novo ímpeto, comprometendo os esforços, que não foram poucos, feitos até aqui
para a sua contenção.
Mas o secretário nacional da Economia, João Maia, em
entrevista à imprensa, mostrou muita tranqüilidade nesse aspecto. Disse que o
governo pretende trabalhar com as forças de mercado e não acredita que os
gêneros liberados venham a sofrer aumentos abusivos. Tomara que o seu otimismo
tenha fundamento.
Riscos de abuso existem e ninguém pode negar. Basta
que se recorde o que aconteceu com o cafezinho nesta semana. Todos os bares do
Rio de Janeiro passaram a cobrar por ele, na segunda-feira, os mesmíssimos Cr$
15,00. Ninguém estipulou preço de Cr$ 12,00, Cr$ 13,00 ou Cr$ 14,00. Seria
apenas coincidência? Claro que não!
Ficou perfeitamente caracterizada a cartelização.
Não se entende esse medo da concorrência de determinados setores econômicos
brasileiros. Essa padronização do que se cobra (e sempre para cima,
evidentemente), chega a se constituir até num vício fundamente arraigado no
comportamento comercial entre nós.
O presidente Collor, em discurso que proferiu na
quinta-feira, quando da entrega do prêmio à melhor empresa do ano, outorgado
pela revista “Exame”, deixou claro que não existe uma economia de
“meio-mercado”. Ou ela é livre, ou não é. E esse segundo tipo mostrou-se
absolutamente inadequado. A tal ponto que o tema que empolga, na atualidade, a
sociedade soviética, é exatamente este. E todos sabem que a superpotência
euro-asiática sempre foi, desde 1917, o verdadeiro paradigma da centralização.
Se o livre mercado é bom para a União Soviética, por que não haveria de ser,
também, para o Brasil?
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 2 de setembro de 1990)
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