Marcha lenta
Pedro J.
Bondaczuk
O presidente da Copersucar, Werther Anicchino, advertiu,
ontem, que se o governo não tomar imediatas providências, como por exemplo a
importação de um bilhão de litros de metanol, o usuário do carro a álcool terá,
na próxima entressafra, em março de 1991, problemas muito mais sérios de
abastecimento do que aqueles que teve no corrente ano e que não foram pequenos.
Mais uma vez, portanto, o
consumidor, que acreditou nas promessas do governo, que investiu na compra de
veículo movido por esse combustível, que recebeu a garantia de que seu carro
não ficaria parado na garagem por falta do carburante, corre o risco de ser
lesado.E, o que é o pior, todo um processo tecnológico genuinamente brasileiro,
desenvolvido inclusive com o dinheiro dos contribuintes, está em vias de ser
desmoralizado.
Muitos dos quatro milhões de
detentores de automóveis movidos a álcool já fizeram, estão fazendo ou pensam
em fazer a conversão de seus motores para a gasolina, da qual o Brasil não é
auto-suficiente e para cuja produção bilhões de preciosos dólares têm que ser
queimados anualmente.
Esse caso conduz o crítico a uma
profunda reflexão acerca do que aconteceu ao País de algumas décadas para cá.
Não é verdade que o brasileiro não trabalhou nesse período, ou fez menos do que
em outras ocasiões. Ao contrário.
Nunca um povo se esforçou tanto,
por tantos anos, quanto o nosso. E provavelmente jamais alguém conheceu maiores
frustrações e retrocessos quanto os que vivem neste País. Há exceções, é claro,
mas estamos nos referindo à grande maioria.
Houve ocasiões em que chegamos a
espantar o mundo com nossas taxas de crescimento econômico, com cifras girando
por muito tempo ao redor dos 10% chegando até mesmo a 14%. Onde residiu o nosso
“pecado”? Em que ponto falhamos em todos esses anos, para chegarmos a 1990 com
os salários detendo um poder de compra 35% menor do que em 1980 e com o mínimo,
a remuneração de 80% dos brasileiros, adquirindo de cinco a seis vezes menos
mercadorias do que em 1940?
Talvez a falha sempre estivesse
em não levar a sério a estratégia de Henry Ford, que tinha a política de pagar
muito bem aos seus empregados, para que cada um deles pudesse ser, igualmente,
seu cliente na aquisição do produto que fabricava: o automóvel.
É preciso que se salve o
Proálcool, não por uma questão de puro nacionalismo, por se tratar de uma
tecnologia nossa, mas por uma razão absolutamente pragmática. O País não pode
abrir mão de uma fonte energética renovável, em favor de outra que está muito
perto de se exaurir no mundo, como comprovam inúmeras pesquisas e advertências
de técnicos do setor. Até porque a nossa quota de erros e omissões se esgotou
por inteiro na infeliz década de 1980.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio popular, em 17 de
julho de 1990).
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